Precisamos falar sobre a derrota
Nem sempre os planos seguem o script imaginado no início, mas isso não significa que tudo está perdido
Em 2007, logo depois de fundar a editora Magia de Ler, lancei as revistas Toca e Peteca. Ricamente ilustradas e voltadas ao público infantil, ambas tinham o objetivo de informar e, ao mesmo tempo, tornar as crianças protagonistas das reportagens. O projeto foi um grande sucesso entre os leitores, mas não conseguiu se pagar. Precisei descontinuá-lo em 2015, apesar de todo o meu amor pelas revistas.
Mas todo conhecimento que adquiri me ajudou a conhecer o mercado editorial, o que foi fundamental para o lançamento do jornal Joca, que hoje tem mais de 300 mil assinantes espalhados por todo o Brasil. Ainda que eu tenha me reerguido e criado um novo produto que me traz realização, não posso dizer que o fim das revistas tenha sido tranquilo para mim. Foi triste e frustrante. No entanto, jamais pensei em desistir, talvez por influência da minha veia empreendedora, que me impulsiona a seguir criando. Para me sentir completa, tenho a necessidade de criar a todo momento.
Acredito que a forma como encarei aquela perda foi fundamental para que eu me mantivesse disposta a seguir tentando. Decidi trazer esse assunto aqui na coluna depois de uma conversa na redação da Magia de Ler. Falávamos sobre o quanto os livros e revistas discorrem sobre os vitoriosos, mas pouco contam sobre as histórias de fracasso a despeito de todas as lições que elas nos trazem.
Temos muito a aprender com os erros
O fracasso é inevitável. Não é possível acertar e vencer 100% das vezes. Porém, é a atitude diante dele que nos faz dar a volta por cima. Se é assim, qual é a fórmula para isso? O que devemos fazer diante da derrota para não desistir e conseguir melhorar? Fui buscar a resposta conversando com Vitor Guida, psicólogo clínico e do esporte, porque acredito que em nenhum outro segmento a vitória é tão perseguida e a derrota tão lamentada. Ele falou que não existem fórmulas.
Cada pessoa vai lidar de um jeito em situações como esta. Uma pessoa pode enxergar o fracasso como uma oportunidade de continuar melhorando e trabalhar em cima disso. Outra vai se frustrar e pensar em desistir. Isso vale tanto para planos de negócio quanto para metas pessoais, como praticar uma atividade física regularmente, voltar a estudar ou meditar todas as manhãs.O primeiro passo para superar a frustração, segundo o psicólogo, é entender a origem do desejo inicial. Se for um desejo real, é importante pensar no que o está impedindo de fazer o que planeja.
“Eu costumo até fazer um desenho para os pacientes mostrando uma representação deles e da ação que querem tomar. Se for alguém que esteja frustrado porque não consegue ir à academia, peço a ele que preste atenção no momento exato em que programou ir à academia, o que estava acontecendo antes desse momento e o que acontece depois disso. Peço que preste atenção nos seus pensamentos, no corpo e no que estava sentindo naquele momento”. As respostas, afirma Guida, vão ajudar as pessoas a ter mais autoconhecimento, entender o que as mantêm motivadas e se cobrar menos. É um exercício simples, mas não significa que seja fácil. São os aprendizados a partir desse processo que nos apresentarão os novos caminhos. No entanto, é difícil mudar os velhos hábitos, se livrar dos preconceitos e encarar nossos traumas.
O passo a passo para acertar
Uma vez decidida a mudar, o que a pessoa deve fazer para atingir seus objetivos? Pegando como exemplo o que acontece no mundo do esporte, Guida conta que o primeiro passo é estar realmente disposto a mudar e confiar na própria capacidade de fazer acontecer. O segundo passo é treinar, ou seja, agir para que as metas sejam alcançadas.
Neste mergulho interno é possível que a pessoa descubra, de fato, que aquele plano ou aquela atitude não fazia sentido para ela. Era apenas uma imposição da sociedade, da família ou dos amigos. Nesse caso, a desistência não é um fracasso, mas um reconhecimento de nossa essência que nos revela nossa verdadeira vocação. O mundo prega sempre que quem é vencedor tem respeito, dinheiro, competência e poder. Então, quem não tem esse perfil se sente um fracassado. Mas a verdade é que nem todos desejam ser um Elon Musk, dono da Tesla, ou Mark Zuckerberg, dono do Facebook, do Instagram e do Whatsapp.
Eu mesma, antes de me dedicar ao mundo editorial, atuei muitos anos no mercado financeiro até entender que não estava ali a minha vocação. Eu poderia não ter desistido e estar trabalhando em bancos até hoje. Mas não estaria me sentindo tão realizada e viva como hoje em dia. Por isso, assim como comemoramos nossas vitórias, precisamos acolher nossos fracassos. Eles sempre nos trarão muito aprendizado.