O “B” da questão: a visibilidade bissexual em pauta
A bissexualidade escancara a fluidez que nos habita e nos convida a olhar para gêneros enquanto construções sociais
Onde cabe o B da questão? Como fazer valer essa identidade sexual frequentemente apagada referencial e cotidianamente? Essas são questões que emergem a cada setembro, mês da visibilidade bissexual.
Há no nosso imaginário a ideia de que se deve firmar laços com uma única pessoa, se interessar por um único gênero, performar sempre uma única identidade. Somos uma sociedade fissurada por aquilo que é mono. Monogamia, monocultura, monossexualidade. Qualquer outra vivência é posta em um entrelugar. Inclusive dentro da própria comunidade LGBTQIAP+.
Ou lésbicas ou heterossexuais. Quantas referências bissexuais não tiveram sua orientação alterada para ocupar um desses espaços? Quantas de nós não preferimos simplesmente aceitar o rótulo da vez para evitar a fadiga? Eu já. Inúmeras vezes.
Porque quando saímos com héteros, somos fetichizadas. Quando saímos com lésbicas, somos imediatamente interrogadas. À mulher bissexual cabem duas alternativas: servir ao outro ou não servir de nada.
Nenhuma “carteirinha” é tão solicitada quanto a nossa. Se é bi, precisa provar. Mas não adianta beijar mulheres na balada, porque isso é coisa de “bi festinha”. Também não vale só se sentir atraída por outros gêneros, precisa assumir compromisso. E quando assumimos compromisso, nossa lealdade logo é colocada em xeque.
A bissexualidade escancara a fluidez que nos habita. Nos convida a olhar para gêneros enquanto construções sociais. Permite que separemos a atração sexual da romântica-afetiva. Estremece a rigidez incrustada na nossa cultura judaico-cristã e patriarcal. Talvez more aí a razão de tamanho apagamento.
Nos resta uma única saída: ocupar. Ocupemos, então, esse espaço que não nos é concedido, mas que também é nosso. O “b” da questão está posto e precisa ser visto.