Como ter conversas difíceis (mas necessárias)
A comunicação é a chave para relações mais saudáveis, mas saber dialogar é uma dificuldade para muitos
Se por um lado estamos em uma era de clamor por vulnerabilidade e diálogos abertos, sinceros e responsáveis, por outro, observamos uma crescente de sintomas da falta de habilidade e recursos para colocar tais mandamentos em prática. Ter conversas difíceis parece algo que tentamos evitar a todo custo.
Nos tornamos adultos que aspiram a possibilidade de viver relações profundas e maduras, mas que não sabem como fazer isso na prática.
Em partes, porque fomos criados por figuras castradoras, observando modelos relacionais engessados e com pouco espaço para o confronto, questionamento e até para expressar verdades impertinentes. Mas, também, porque nos agarramos aos discursos internéticos, instagramáveis e deixamos a dolorosa busca interna para uma outra hora.
Fato é: precisamos ser os seres humanos que queremos ser. Isso significa arregaçar as mangas, desbravar terrenos intimidadores e aceitar o imenso desconforto de olhar para dentro e assumir responsabilidades. E, nesse percurso, encarar conflitos e conversas indesejadas com coragem.
Como colocar conversas difíceis em prática?
Não complica: conversas difíceis, são conversas difíceis. Então, para quê complicar mais?
Não inicie uma conversa difícil com fome, com dor de cabeça, em um ambiente desfavorável.
Se for possível, dê conta dos outros incômodos para que eles não tornem esse um momento ainda mais desafiador.
Escolha um local e momento em que você possa estar de corpo, mente e coração presentes. Cada um deles tem o seu papel.
Tome o seu tempo
Uma conversa difícil no calor do momento pode facilmente se transformar em uma discussão muito maior e pouco produtiva. Distanciar-se do problema, da outra parte interessada, por um período, pode ser essencial.
Prefira solicitar um tempo para refletir, elaborar e, então, voltar com mais tranquilidade para o assunto. Esse tempo pode ser de alguns minutos, algumas horas ou alguns dias. Mas, claro, lembre-se de que todos precisam estar cientes desse tempo. Sumir sem avisar e punir com o silêncio são o oposto do que estamos buscando aqui.
Tenha um roteiro
O nervosismo e ansiedade podem fazer com que nos esqueçamos de tópicos importantes ou que nos percamos na nossa própria narrativa.
Ter um script, desde que maleável e aberto ao que virá do outro lado da conversa, pode ser uma grande ajuda para conseguirmos nos expressar com clareza.
Fale a sua verdade, sabendo que ela é sua
Não existe diálogo de uma pessoa só. Uma conversa difícil é difícil também porque vamos nos colocar frente a frente com a perspectiva de outro alguém.
Porque corremos o risco de ouvir o que nos escapou, de encarar verdades que não são nossas, mas que talvez precisem ser consideradas. É preciso dizer, mas é também imprescindível escutar.
Prepare-se para ser humano!
Ainda que nos preparemos para esse momento, somos humanos e a imprevisibilidade corre nas nossas veias. Não há matemática ou ciência exata capaz de garantir que tudo ocorra precisamente como esperado e desejado.
Pode ser que você encontre outras verdades que lhe cabem. Pode ser que precise improvisar, voltar atrás, pedir desculpas, reconhecer erros. Pode ser que você perca o controle. Pode ser que a outra pessoa se irrite. Pode ser que vocês digam o que não queriam dizer. E tudo isso é sinal de que tem carne, osso, neurônios e um sem fim de sinapses acontecendo aí dentro.
Ah, somos humanos. E conversas difíceis podem demandar uma pausa. Um respiro. Um tempo. Podem ser feitas em etapas. Podem ser recomeçadas. E tudo isso é sinal de que já caminhamos.