A não-monogamia vai salvar a sua relação
Quando abrir o relacionamento se torna uma opção na busca pela salvação do casamento
Há aproximadamente um ano, recebi duras críticas de pessoas próximas por ter aberto um casamento que, pouco tempo depois, se findou. “Não, monogamia não salva casamento”, ouvi mais vezes do que gostaria. Julgar é realmente uma prática saborosa. Não se engane, eu mesma pratico com afinco. Mas não posso mentir, doeu na época. Doeu e deu raiva também porque, afinal, ao invés de encontrar escuta e acolhimento, me vi diante de um tribunal impiedoso.
Abrir a relação não alterou o destino daquele casamento. E hoje, olhando para trás, consigo entender que o fim era evidente, mesmo anos antes de se concretizar. E nada, ou muito pouco, tinha a ver com a necessidade de estar com outras pessoas romântica e sexualmente. Na verdade, abrir a relação foi uma tentativa de absorver novas maneiras de compreender o que tínhamos e a nós mesmos em um contexto muito mais amplo. Uma tentativa válida, corajosa e da qual me orgulho profundamente.
A não monogamia talvez tenha se colocado como possibilidade tardiamente, no meu casamento. Se tivesse chegado antes, é possível que tivesse curado algumas feridas que vínhamos carregando de tantas e tantas gerações. Não é fácil dizer. Mas, difícil mesmo seria a monogamia salvar alguma coisa, já que, essa sim, tem enterrado desejos, individualidade, mulheres e famílias há bons séculos.
Parece duro. E é mesmo. Temos aceitado compulsoriamente viver de uma forma muito dura com a gente. Temos aceitado chamar de relacionamento normal aquele que pune, que fere e censura. Censura comentários, censura projetos, censura vontades, oportunidades e até pensamento. Acontece que a monogamia já parte de uma concessão.
Não é possível ser tudo que se é nunca. Mesmo nas relações mais saudáveis e ditas “leves”. É sempre preciso escolher entre si e o relacionamento. Uma escolha fatalmente carregada de culpa e angústia. Então, pode ser que abrir a relação não salve o seu casamento como prometi no título desse texto. Mas certamente, abrir-se à não-monogamia pode salvar você.