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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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O que há com a Alta Costura?

Para a temporada de Inverno 2022, algumas marcas apostam em criações que deixam os bailes de gala em segundo plano para dar preferência às ruas

Por Renata Brosina
Atualizado em 16 jul 2022, 11h56 - Publicado em 16 jul 2022, 08h06

A Alta Costura está mudada. Uma mudança que vem acontecendo há temporadas, seja por nomes que acreditam na teoria de que não há utilidade para uma roupa se ela não estiver na rua, como Sr. Armani acredita, mestre da elegância atemporal, ou mesmo por uma forma de nova interpretação. Virginie Viard, que passou duas décadas ao lado de Karl Lagerfeld como sua assistente, quando assumiu o cargo de diretora criativa da Chanel, após o falecimento do estilista alemão, fez uma mudança, digamos, radical no que era a maison francesa. No seu debut de Couture, no Inverno 2019, ela tirou os excessos – seja de volumes, peso nas estruturas e ainda mostrou que o tweed, envelhecido por estações, poderia ser visto como sinônimo de jovialidade e leveza. Afinal, Gabrielle Chanel se identificaria ainda mais com esse perfil de criação do que com os vestidos de princesa “intocável” do castelo Lagerfeldiano. 

A transformação não está na simplicidade encarada como “simplista”. Longe disso. A Alta Costura pode ser tudo, menos “sem graça”. São mãos de artesãos trabalhando por meses em uma única peça, com bordados feitos por ateliês centenários franceses, entre eles Lesage e Lemaire, e uma produção exclusiva para não ser encontrada por aí – mesmo. A Couture é um mundo dos sonhos, visto por trás da cortina, em como tudo acontece para a roupa chegar à passarela. A forma e o conteúdo, da categoria mais luxuosa da moda, parecem não seguir ritmos semelhantes. Ainda mais porque as ruas também são o cenário perfeito para usar essas peças impecáveis.

Chanel - Paris Haute Couture
Chanel na última Paris Haute Couture. (Stephane Cardinale - Corbis, Dominique Charriau/WireImage, Pascal Le Segretain/Getty Images)

Para a Chanel, Virginie Viard segue com suas apostas de ouro: dando vida ao tweed em peças com frescor, em uma cartela com pontos vibrantes e bordados elegantes e silhuetas leves, sem deixar de lado os códigos clássicos da marca. Mesmo os looks com ar noturno ganham essa juventude que embalou a alma de Coco Chanel ao longo da sua vida.

Christian Dior - Paris Haute Couture
Christian Dior na última Paris Haute Couture. (Dominique Charriau/WireImage, Pascal Le Segretain/Getty Images)

Quem também nunca se rendeu ao saudosismo do passado espetacular da Dior com John Galliano foi Maria Grazia Chiuri. A italiana manteve seu olhar em uma linha estética com cortes limpos e, na maioria, acinturados, mas sem armações volumosíssimas. A interpretação da diretora criativa sobre a temática “Árvore da Vida”, baseada no folclore ucraniano e fazendo referência ao trabalho da artista local Olesia Trofymenko, trouxe, no máximo da vibração, looks monocromáticos em vermelho com a elegância fresca que Chiuri é conhecida por trabalhar na medida. 

Armani Privé Paris Haute Couture
Armani Privé na última Paris Haute Couture. (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Já entre os nomes que não deixam de lado a excelência na construção da alfaiataria, mas, também, dos vestidos de festa mais brilhantes, está Sr. Armani para a Armani Privé. O estilista italiano, que é conhecido por ter revolucionado o terno na década de 1980, segue seu script composto pelos melhores materiais, estética limpa de exageros e brilhos na medida. Para ele, a sua marca no segmento de Couture serve para as mulheres brilharem ainda mais, mas, nas entrelinhas, ele também quer esse brilho vindo de dentro das suas clientes. O primeiro look monocromático, composto por um vestido-casaco preto com uma flor aplicada no ombro, é a abertura exemplifica bem o que a Armani Privé define como sofisticação atemporal: uma peça com corte perfeito, ponto de luz e rua.

Fendi na Paris Haute Couture
Fendi na última Paris Haute Couture. (Vittorio Zunino Celotto, Daniele Venturelli, Vittorio Zunino Celotto/Getty Images)

Kim Jones, que é responsável pelas criações femininas da Fendi desde o Verão 2022 de Alta Costura e é um alfaiate de mão cheia, também faz parte de quem prefere cortes retos, mas com modelagem relativamente ampla para a alfaiataria, uma fenda aqui, outra amarração ali, bordados e transparências para finalizar a apresentação. Pierpaolo Piccioli, que tem sensibilidade apuradíssima para criar suas coleções para a Valentino, levou suas peças para a escadaria da Piazza Di Spagna, em Roma, e trouxe uma mistura de combinações exata entre cores vibrantes, volumes pontuais, plumas e peças bem feitas – seja na regata, calça de alfaiataria ou, ainda assim, no vestido de red carpet, coberto por rosas ou não.

Já quem era aguardado para a sua segunda participação no calendário da Couture era Demna Gvasalia, na Balenciaga. Se na sua estreia em 2021, como o retorno da casa fundada por Cristóbal Balenciaga, ele fez uma homenagem às silhuetas e composições da época, desta vez, a proporção mudou. O Inverno 2022 traz mais do que o diretor criativo georgiano está acostumado a apresentar no prêt-à-porter, mas com o trabalho minucioso da Alta Costura. Inclusive, em materiais como neoprene, jeans e moletom, que ele segue insistindo em usar mesmo fora de produção em série. E errado ele não está. A marca tem base nas ruas, com materiais e peças que são íntimas à vida ativa fora dos bailes de gala. Por isso, o seu jeans é “couture”, assim como seus conjuntos esportivos. Mas Demna, que não se limita ao considerado “básico”, a olhos nus, também entregou vestidos super armados, incluindo um modelo com bordados feitos pelo ateliê Lesage. 

O embate entre Prêt-à-Porter e Alta Costura ficou ainda mais forte com a apresentação dessas coleções. Alguns questionam a relevância da Couture para o calendário de moda, buscam entender qual é esse público que investiria cifras altíssimas em peças que, esteticamente, poderiam ser facilmente encontradas semelhantes em produções em série. Mas há um esquecimento claro em meio a todo esse discurso. A Couture foi criada para ir além da forma. Não é à toa que foi criada uma lista de elementos que precisam ser respeitados para uma marca entrar na categoria Couture. Entre os itens mais importantes desta série de requisitos está uma produção 100% artesanal, feita em solo francês, por ateliês que estão atravessando gerações e especializando novos profissionais para dar continuidade a um trabalho que, convenhamos, já poderia ter sido substituído por máquinas. Há um respeito muito grande e uma fidelidade a quem está depositando suas horas para alinhavar a barra de uma calça de Couture. E essa mudança, que tira o foco dos vestidos exagerados, é em respeito às mulheres que hoje vivem nas ruas – e não no castelo da Cinderela. Só que a ideia de trazer uma moda que valoriza ainda mais cada camélia feita na máquina manual, deveria ser ainda mais celebrada. São novos tempos e a Couture também está nova. Ou será que o prêt-à-porter está preparado para absorver toda essa tradição de Alta Costura?

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