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Sem par, mas inteira

Recusar a narrativa do amor como redenção é um gesto íntimo de liberdade e de lucidez

Por Izabella Borges
Atualizado em 12 jun 2025, 16h11 - Publicado em 12 jun 2025, 14h46
Imagem de mulher pensativa com um coração inteiro na mão
Neste 12 de junho, é hora de questionar o mito do amor que completa — e resgatar o cuidado de volta para si mesma (Freepik/Reprodução)
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Há um silêncio que grita nas entrelinhas do Dia dos Namorados. Ele não se expressa nas vitrines, nem nos jantares a dois, tampouco nos buquês encomendados com antecedência. Esse silêncio ecoa dentro de muitas mulheres que, diante da ausência de uma relação, sentem a incômoda sensação de estar fora de lugar. Como se faltasse algo essencial. Como se a própria existência estivesse incompleta.

Como a cultura ensinou mulheres a buscar completude no amor

Esse desconforto não é individual. Ele é político, histórico e estrutural. O incômodo de não ter um par em datas como esta não nasce de uma carência espontânea, mas de uma longa arquitetura simbólica que ensinou as mulheres a se reconhecerem pelo olhar do outro. O amor, dentro desse modelo, deixou de ser encontro e passou a ser critério de validação.

O desejo feminino e a construção histórica da espera

Desde cedo, a mulher é condicionada a imaginar o amor como ápice da experiência humana. E não qualquer amor. Um amor específico, idealizado, que promete salvação, completude e permanência. Um amor que tudo cura. Um amor que redime o sofrimento e organiza a biografia.

Esse amor, vendido em capítulos por comédias românticas e sustentado por séculos de moral cristã e patriarcalismo burguês, é uma fantasia poderosa. E como toda fantasia, opera mais pela ausência do que pela presença. Nunca está onde se espera, mas continua sendo buscado como se fosse inevitável.

O que a psicanálise revela sobre o sentimento

A psicanálise oferece uma chave lúcida para essa construção. Lacan nos lembra que o desejo está sempre atravessado pela falta. O sujeito se constitui em torno do que lhe escapa. Mas o feminino, tal como foi organizado pela cultura, foi empurrado para um tipo de falta mais cruel: aquela que só pode ser preenchida por um outro.

A mulher foi historicamente ensinada a se projetar na espera, a se realizar no cuidado do outro, a se tornar amável antes de se reconhecer como sujeito desejante. O amor, então, não surge como escolha, mas como exigência de identidade.

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Simone de Beauvoir e a assimetria entre homens e mulheres no amor 

Simone de Beauvoir expôs com precisão esse movimento. Para ela, a mulher foi educada para amar como forma de existir. O homem ama como parte da vida. A mulher, como essência. A assimetria é brutal.

Ainda hoje, por mais que tantas tenham conquistado autonomia financeira e liberdade sexual, a estrutura emocional permanece contaminada por essa ideia de que só se é completa quando se é amada. E o Dia dos Namorados reforça esse enredo com delicadeza perversa.

Não se trata de demonizar o amor. Trata-se de desativar o seu uso ideológico. O amor não é o problema. A sua absolutização, sim. A romantização do cuidado, a exaltação da espera, a ideia de que amar é suportar, adaptar, ceder. Amar pode ser potência, mas nunca deve ser desaparecimento.

Bell Hooks e o amor como ato de escolha (não submissão)

Bell Hooks escreve que o amor é um ato de vontade. Amar é uma decisão ética, não um encantamento cego. Quando mulheres compreendem isso, algo se reorganiza. O amor deixa de ser finalidade e passa a ser uma possibilidade. Uma entre tantas. Não uma ausência a ser compensada, mas uma presença que só faz sentido se respeitar a inteireza de quem ama.

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Neste Dia dos Namorados, talvez o convite mais honesto seja o de desmontar a narrativa. Não como rejeição do afeto, mas como recusa à submissão simbólica.

Recolher o cuidado que foi projetado no outro e devolvê-lo para si. Reescrever a história em primeira pessoa. Com lucidez, com verdade, com desejo. Porque o amor, se não for escolha, é prisão disfarçada de sonho.

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