Velha gay
"Em meio às suas tias, madrinhas, vizinhas, primas e conhecidas deve haver alguém precisando respirar", diz a colunista Kika Gama Lobo
Muito se fala sobre o orgulho gay, mas quase sempre o protagonismo está nos jovens. A militância porém é antiga. Imaginar que a maturidade é o assunto em pauta, porque então se fala tão pouco sobre vida gay nos 50+?
Na minha família eu tenho uma tia octagenária que desde muito cedo optou pela vida amorosa com alguém do mesmo sexo. Tudo mega normal. Sem alardes, sem bandeiras, sem palanque. E cresci com ela tendo suas namoradas – muitas amigas da família até hoje. Mas fico pensando tudo o que ela não enfrentou para se impor.
Acho até que ela tem traços masculinos no andar e falar, mas que para mim eram parte de seu estilo. Ledo engano, né? Deve ter passado poucas e boas e se blindou do jeito que deu, afinal ela nasceu nos anos 40 e caminha, para quem sabe, atingir seu centenário como homossexual. Nunca disse pra ela que tenho imenso orgulho dela e de sua caminhada solo.
E hoje, vendo o novo alfabeto LGBTQIA+ entendo que precisamos debater a vida gay na pós menopausa e velhice e incluir sobretudo as lésbicas maduras – ainda mais excluídas e muitas ainda escondidas no armário – e libertá-las através do tema da longevidade as que ainda precisam de coragem para expor suas opções.
Ser velha gay não é bolinho. É papo sério que merece lugar na sala de jantar. Aliás olhem em volta. Em meio às suas tias, madrinhas, vizinhas, primas e conhecidas deve haver alguém precisando respirar. Livre.