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Kika Gama Lobo

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Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam
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Vacinada

Como será o futuro depois da vacina? Diferente da maioria das pessoas, não quero minha vida de volta, quero tudo novo

Por Kika Gama Lobo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 out 2020, 09h00
Estudo foi feito com pessoas que já receberam a vacina
Moderna e Pfizer se destacam por darem maior reforço em anticorpos e células T (Foremniakowski/ThinkStock)
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Penso na vacina. Quando? Vem ainda esse ano? Claramente não. Primeiro semestre? Quando eu poderei tomar? Antes de mim tanta gente na frente. E como vai ser o amanhã com a proteção ao vírus?

Tenho pensado tanto em um novo mundo. Mundo de novas possibilidades reais. Todo o mundo fala de um novo normal ou “cadê aquele meu universo”? Eu já penso diferente. Quero tudo novo. A questão do feminino, a questão racial, o debate religioso (aborto incluído), além do desmatamento, do saneamento, da previdência… tudo entrou no meu radar com força.

Quero vivenciar um 2021 cheio de propósito real (eita palavrinha desgastada). Quero viver com metas e gente diferente. Frequentar mais comunidades e menos palácios. Abraçar muito ao invés de debater. Mergulhos no mar, voltar a estudar fauna e flora e viajar pra perto da minha casa. Vale até Maricá. Porque só o chic, o caro, o luxo valem à pena. Não. Virei roots. Quero o basicão na veia.

Acho que temos que começar pela geladeira e pelo armário. Doar ou trocar quase tudo, alimentar o vizinho e o porteiro com os nossos excessos. Voltar às origens de ter duas calças jeans, duas camisas, um vestido preto, um de festa, um salto alto, uma havaiana e um tênis. Biquíni e calcinha à vontade.

Compras no mercado penso assim: o grosso vai de atacadão, pois economizo no preço aumentando o volume. Mas o fresco só na vendinha do lado de casa, de preferência a daquele cara que mora em Teresópolis e traz, domingo, a sua horta pra vender nas redondezas. Meu cabelo já está branco. A unha da mão sou eu quem faz. Tô diminuindo quase tudo. Aumento só em Zooms, meditação e leitura.

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Juro que quero menos coisas e mais sensações. Quero sentir. Novas formas de gozar. Vento na cara. Chuva no corpo. Sol nos ossos. E assim vou virando uma “riponga” de meia idade. Sem lenço, sem documento, mas vacinada. De todos os vírus, sobretudo a mesmice.

Estou com câncer de mama. E agora?

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