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Kika Gama Lobo

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Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam

Prateada

Pé na estrada e olhos abertos, que não estamos mortas, só diferentes

Por Kika Gama Lobo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
26 Maio 2022, 08h51
cabelo grisalho
Gostando dessa fase clean, antítese de tempos ainda tão fakes. (Westend61/Getty Images)
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Ainda às voltas com o preconceito contra as grisalhas. Já mencionei que são as mulheres que rejeitam com mais intensidade a minha cabeleira cinza. Tenho uma penca delas que insiste que eu estou mais velha e mais abatida. Juro que gosto. Até porque seria masoquista né!

Cheguei a total cabeleira prateada durante a pandemia. De pijama em casa a transição ficou mais fácil, pois o caminho é longo e feio. Vai abrindo umas frestas amazônicas nas estradas capilares. Parece devastação mesmo. Eles rompem o caminho preto, castanho, ruivo e gritam. O cabelo branco não pede licença. Ele chega chegando. É um fórceps capilar. Mas depois que atinge um certo tamanho você pode podar a juba e seguir em frente em sua versão silver.

Já me disseram para eu abusar da maquiagem, roupas coloridas, arcos e brincões. Não me animo a nada. Gosto deste look ameba, meio feto. Não quero liberdade de ter esse cabelo natural e virar uma japonesa louca pelo make. Tô gostando dessa fase clean, antítese de tempos ainda tão fakes. E sabe que tenho sido paquerada? Acho que os maduros se intrigam de uma mulher com menos de 70 anos deixar a juba toda branca. Como se a gente só pudesse atiçar a libido alheia se tiver cabelos louros Rapunzel ou ébanos de Índia Potira.

Não sei se por ter voltado a viajar pelo Brasil, nesta abertura pós-pandemia, eu estou atenta aos novos olhares masculinos. Também pode ser delírio da minha mente, mas acho que por ser uma mulher extravagante, que usa roupas diferentes, age diferente e pensa diferente, eu chamo a atenção. Ou pode ser início da senilidade. Vai que né? Será que estou cada vez mais invisível aos olhares de testosterona, mas intuo que o meu tico e teco ainda não pediram demissão? Então, grisalhas, pé na estrada e olhos abertos. Não estamos mortas. Só diferentes!

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