Nova onda do vírus
Você já experimentou escrever cartas para si mesma? Esse é o novo hábito que criei com a possibilidade de um novo lockdown
Será? Parece que o Brasil vai enfrentar mais um lockdown. Assim, decidi pensar no que uma mulher madura pode, jogada em casa, fazer para ocupar o tempo de isolamento. Livros, Netflix, revistas antigas, aquele jornal que você ainda não abriu (alguém ainda os lê em papel?), isso é de lei, mas não aguento mais.
Mentorias, cursos on-line, jornadas de autoconhecimento. Já deu. Mas fui além. Decidi escrever cartas para mim mesma. Começou com uma lista de To-Dos. Depois virou pauta. Ata. E por fim uma carta. Você já experimentou se escrever? Sozinha na sala, meia luz, o cachorro calmo, a vela acesa, ao cair da tarde. Segunda-feira, muitos em home office e você, num ócio forçado. Uns dizem que adoram. Encara mais 6 meses e me diz se não baterá um desespero top?
Além da vontade da vacina, tem a culpa capitalista. Você, profissional liberal, em casa? Perdendo grana (aliás alguém a viu por aí?), achando que por ter mais de 50 anos vai ser demitida (já fui), pois qualquer outra de 20 anos não pegará Covid, e os boletos em cascata que te esperam enfileirados, presos por clips, ordenados em dias? Mas esqueçamos da vida real e voltemos às cartas.
Sim. Data, cabeçalho e… “Kika, escrevo-me esta correspondência para me lembrar de mim”. De supetão foram três laudas. Achei meio ridículo no começo, mas lágrimas e risos vieram ao rosto. Lembranças. Carinho grátis. Um ato singelo, simples como pensar, me ajudou naquela tarde. E olhei em volta. E olhei para dentro. E olhei para o futuro. Tive vontade de esconder a carta dentro de uma garrafa, estilo message in a bottle, e zunir pela casa.
Anos depois, ao achar, iria saber de mim, fazer a checagem se o que eu desejei tinha minimamente acontecido. Isso, eu conto depois. Pra agora, só peço ao Universo que o mundo volte ao prumo. Velho anormal, novo normal. Não sei se aguentarei esse BIS macabro. Só desejo colocar um ponto final nesta escrita. FIM.
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