“E por falar em sexo, quem anda me comendo é o tempo”. Frase das melhores, atribuída à filósofa e palestrante Viviane Mosé. Latejou feito mantra na minha cabeça. Zero conotação sexual, mas sim o Pac Man da ampulheta, o tempo, ele, mestre de todas as vidas. Quanto ainda terei de sobra? Estou honrando o meu dia a dia? As horas estão sendo bem consumidas?
Faço uma reflexão noturna sobre como foi a minha jornada. E são tantas as perguntas… E eu, que já gosto de um inventário das emoções, fico meio apatetada com a forma de consumi-las. Está valendo? Estou dando pleno gás aos meus desejos? Estou correndo atrás dos meus quereres? Ou apenas abro os olhos, respiro, transpiro, inspiro e durmo?
Com quase sessenta anos, estou nessa de mitigar minhas falhas. Não dou brecha para qualquer deslize. E é claro que isso me gera um certo incômodo. Parece Olimpíadas do porvir. E deixo de lado a minha capacidade de fazer direito, de sentir direito, de viver da forma mais naturalmente gostosa.
Me deu uma certa pressa para usar o tempo de maneira assertiva. E peco. Pelo excesso de zelo por algo que deveria vir fácil. E, o pior! Como tenho vontade de marcar a data da minha entrada como sexagenária, vivo ainda mais aflita. Bahia, Marrocos, festa? Será que terei aqué e permissão para organizar e vivenciar tudo isso?
Também me impressionei assistindo ao Netflix sobre a vida da JLo [Jennifer Lopez], artista porto-riquenha que fez fortuna na América atrás de seu sonho pessoal. Fez de um tudo para atingir o seu Olimpo como cantora, dançarina e atriz.
E eu? Estou fazendo o que? Vida banal diante dos meus sonhos de outrora. Suavizei o rosa na pintura da minha existência, e de fúcsia virou quase bege. Não sou mais a heroína do meu futuro. Virei uma aposentada classe média tacanha.
Cadê a Anitta que morava em mim? Sei lá, mas prometo ter mais garra e mais coragem. Se alguém tiver que me comer, que seja eu mesma – e com muita fome. Fome de viver.