Forever Young
Se der, Fernanda, manda seu espirito me visitar. Mete o pé na porta, sem cerimônia
Nunca tive tesão em mulher, mas achava a Fernanda o máximo. Coisa de pele, de verbo, de escrita. Não nos cruzamos. Temo afirmar que a Vani de Os Normais era eu. Aquela niteroiense me conhecia.
Os seus quatro filhos lindos, seu marido meio feio, seu cabelo branco, preto, vermelho, careca. Sua inquietude pop. Sua verve desbocada. Tinha buceta na boca. Tinha esta revolta de não levar desaforo pra casa. Também não levo. Ando menos bélica, mas como homenagem póstuma acho que vou barbarizar por você.
Andava de ônibus, de metrô, de barca… Igual a mim. Reclamava que ralava feito uma vaca. Igual a mim. Ri muito com suas palhaçadas sérias. O Saia Justa com ela e Rita Lee merecia bis. Posou nua. Posou vestida. Escreveu 10 livros, fez muitos programas como roteirista, atuou como atriz, modelou e atentou os caretas de plantão. Eu era voraz leitora de sua coluna semanal. Seus posts no insta, bapho! Uma voyeuse selfish. Ela adorava a si mesma. Tem melhor espelho?
Jogou pesado com Bolsonaro. Merecido. O cara é patético. A nudez, o beijo na boca da colega, o trabalho que nem estreou. Nunca foi um padrão. Por isso me chamava atenção. Quis entrevistá-la pro ATITUDE50. Íamos abalar juntas. Não tinha nada de burra. Não concluiu faculdade. Não parava em empregos. Pregava urgência curricular. Era mutante em tudo. Nas obras, no físico, no estilo. Fiel, só ao seu jeitão nômade e ao modelo família. Ótima mãe, esposa dedicada. Até nisso foi vanguarda.
A sua ultima postagem também me representou: ”Onde queres descanso, sou desejo”. De vida. De produzir. De entender esse planeta aqui. Tenha certeza que com os seus textos, tatuagens, jeito de doida, pele de camafeu, você nos ajudou a decifrar um pouco mais essa cafonice tropical. Se der, Fernanda, manda seu espirito me visitar pois ainda estou asmaticamente enlutada por não ter te conhecido. Mete o pé na porta, sem cerimônia.
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