Cringe
A colunista Kika Gama Lobo se apropria desta gíria dos jovens, que pode ser traduzida como "mico", com propriedade e leveza
Virou modinha no Rio usar esse adjetivo cool. Confesso que nem sabia bem do que se tratava, mas, de tanto os modernos e atentos à nova linguagem viralizarem a expressão, fiquei de ouvidos atentos. É um termo usado para definir um mico, vergonha alheia, aquela jacada ocasional que todos nós damos quando escorregamos nas bananas da vida.
Sou mestre. Além de ter uma personalidade meio DDA + looser, acho que só escapei de sofrer bullying eterno porque sempre me sacaneio antes. Não há tribunal mais severo do que o meu, por isso as críticas me caem suaves. Antes me puno como auto-imolação. Mas venho suavizando. Oferto-me cada vez mais flores e nesse jardim das novas delícias olho com mais piedade e carinho para os meus micos.
Mas os coleciono, fato. De gargalhar em enterro (de nervoso), a vomitar no primeiro encontro com o bofe – sou um poço de estabanação (palavra inventada, claro) não me esqueço no dia do meu segundo casamento, em Miami. Eu, já vestida de noiva, fui tirar uma foto com meu quase-marido e caí de bunda na decoração natalina do prédio na chic Sunny Island. Já peidei enquanto gozava, apartei briga de marido e mulher na rua e acabei apanhando da vítima, além de ter entrado num carro e o motorista batido uma punheta em plena travessia.
Me livrei da quase curra e chamei um guarda. Pra que? Fui acusada de desacatar a autoridade, pois o débil policial não fez porra nenhuma além de me olhar de modo irônico. Então a culpada pela erotização era eu? Me poupe!
CRINGE também pode significar cafonice e algo demodê. Mal sabem os modernos que adoro uma naftalina e celebrarei sempre os meus antepassados e suas lembranças antiguinhas. Sou 100% vintage. E assim nesta vida cheia de espasmos eu sigo soluçando micos. Posso dizer que sofro dessa moléstia. Sou uma CRINGE ambulante com várias estrelinhas na lapela.