“Entrou nos enta, enfrenta”, assim diz a amiga jornalista Liliana Rodriguez. E não é que cheguei aos 55? De quarenta já passei há tempos e agora, rumo a terceira idade que segundo as pesquisas, começa aos 60.
Como pode? Até ontem era uma gostosa do Leme, cheia de vida e sonhos. Ano a ano, sucedeu-se uma avalanche de acontecimentos. Me sinto quase um anuário, com as datas comemorativas de muitas fases.
Aprendi a caminhar, ler, escrever, a primeira escola, o amor de infância, as viagens em família, o mochilão , a faculdade, a maconha, mil transas – experimentei gêneros e tamanhos – a primeira filha, a segunda, a empresa que criei do zero, a carreira, os zil eventos, demissões, o fim do casamento, a doença, a gordura, a magreza, eu sozinha, eu com ele, eu sem ele, unidinitê, salamêminguê, a falta de grana, de libido, a menopausa… e eis que um papel em branco está aqui, limpinho, na minha frente.
Urge uma nova história – mais consciente e afiada no tal aprendizado. O amanhã, o que vai ser? Oscilo entre a vergonha de sonhar alto e a tarefa de ser mais contida nos meus pedidos. Me pego fazendo planos pra cirurgias, pensando em poupança, em diminuir o fardo. Cadê o Marrocos? Cadê o aluguel da casa de campo? Onde foi parar a nova tatuagem? E aquele anel-muso escrito VIDA? Morar em São Paulo já nem sei mais se consigo.
No dia do aniversário tive um diagnostico de quase pneumonia. Faltou ar. Sinistro como fala o corpo quando não assumimos nosso destino. Ficou a lição que preciso respirar. Encarar os “enta” que se Deus permitir, serão longevos e amáveis. Nesta data querida, o presente é manter-se firme. O que virá não será tão glamuroso mas é muito melhor do que um ponto final. Envelhecer requer coragem e isso, repito pra acreditar, não me falta. Parabens Kika!
Leia mais: Endividamento sênior
Carga mental: você se sente sobrecarregada em casa?