Passei 13 dias com minha mãe, internada em uma unidade semi-intensiva num hospital carioca. É quase um Enem, um vestibular da existência.
Monitores, acessos a veias, pressão arterial, glicemia, hemodiálise, batimentos cardíacos, além de fisioterapia, fonoaudiólogo, neurologista, psiquiatra e clínico-geral. Ressonâncias, tomografias, exames mis. Uma muvuca de gente para assistir ao doente.
Claro que nem nos melhores sonhos podemos supor isso em uma UPA ou SUS. Vergonha desse Brasil, mas o tema aqui é outro. Fraldas sujas; diarreias noturnas; vômitos; aquela sensação de “será que vai viver?”, fora o drama de eu ser acompanhante todas essas noites por causa do custo de enfermagem.
É algo devastador por um lado, mas que te situa na linha da vida. Nós seremos os próximos da fila. Precisamos saber como viveremos até lá e como vamos reagir quando estivermos nós, de fraldas! Uma amiga querida me disse que já vem exercitando o que não quer viver na velhice. Listou pra mim: Não quer ficar impaciente e por isso toma magnésio diariamente; Não quer dar trabalho aos filhos então exercita de agora não pedir nada a eles;
Quer ter os dias ocupados hoje para que não sejam desocupados depois; Não vai parar nunca de fazer exercícios para o corpo seguir suas pulsões; vai ajudar os filhos com os netos – a maior parte, atos que ela não teve de sua mãe e por isso quem compensar com os próprios filhos. Faz palavras cruzadas. Uma vez por semana faz algo diferente de sua rotina.
Escreve com a mão esquerda. Anda de olhos fechados pela casa. Paga o plano de saúde sem atraso. Outra atitude é o perdão. Perdoar salva. Sentada naquele sofá monstrengo e desconfortável no CTI, olhei para minha mãe e revi nossa relação com todas as porradas, todos os embates, todas as querelas, todas as baixarias. Nem doeu tanto porque a iminência de sua partida doía mais.
Quer maior laço de amor? Entende-se assim, rapidinho, o cerne do afeto. Em algum pedaço do tecido esgarçado o remendo é feito fuxico, ponto a ponto com amor.
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