Osesp e São Paulo Cia. de Dança unem balé e música clássica
Orquestra e bailarinos apresentam obras coreografadas por Ana Botafogo e Antônio Gomes no palco da Sala São Paulo
A Osesp e a São Paulo Cia. de Dança se unem para o já tradicional encontro entre a música clássica e o balé no palco da Sala São Paulo, com regência do maestro Claudio Cruz. Em Dança na Sala, o público pode assistir desde ontem até 3 de novembro, as coreografias de Les Sylphides (Chopiniana), remontagem de Ana Botafogo — com música de Glazunov sobre Chopin —, e Madrugada, criação de Antônio Gomes — com valsas de Francisco Mignone orquestradas por Rubens Ricciardi.
“Faz alguns anos que a São Paulo Cia de Dança dança na Sala São Paulo. Foi de um diálogo meu com o Marcelo Lopes. A ideia de subir a orquestra foi do Marcelo, na época o diretor ainda era o Arthur Nestrovski, diretor artístico, e aí ele brincou, claro, a dança precisa de mais espaço, então, a dança ganha esse lugar de destaque na cena, mas os músicos também estão presentes, visíveis para o público, porque eu acho que isso é que é muito bonito. Aqui, os músicos constituem parte da cena como um todo, e isso faz com que a plateia também possa apreciar o movimento dos músicos, ressoando no movimento dos bailarinos e vice-versa”, explica Inês Bogéa diretora artística da SPCD.
Embora sejam de tempos e de estilos diferentes, as duas obras interpretadas pelos bailarinos da SPCD celebram a beleza e a poesia da dança, proporcionando uma experiência sensorial única que é potencializada pela execução ao vivo da Osesp.
“A parceria com a São Paulo Cia. de Dança já é uma aguardada tradição das temporadas da Osesp. Transformamos o palco da Sala São Paulo — espaço dedicado à música sinfônica — para receber os bailarinos do grupo. Mostramos, assim, a versatilidade da nossa Orquestra e exploramos e valorizamos o encontro de linguagens artísticas historicamente tão íntimas”, afirma Marcelo Lopes, Diretor Executivo da Fundação Osesp.
Madrugada: nostalgia, jovialidade e romantismo
Madrugada, criação de Antônio Gomes, tem como trilha as Valsas de Esquina, de Francisco Mignone. A delicadeza das relações humanas e a entrega dos bailarinos transformam a noite em uma celebração da vida, da arte e das emoções mais profundas. Em um baile atemporal à luz do luar, a ingenuidade e a nostalgia se encontram com a jovialidade e o romantismo, captando o clima efêmero e singelo das serenatas, agregando elementos contemporâneos baseados em traços da música popular já presentes nas composições.
“‘A Madrugada’ é uma obra muito especial para mim, porque ela tem uma conotação muito especial no meu repertório. Me lembro quando a Inês me pediu para fazer uma obra para São Paulo Cia de Dança, ela me pediu uma obra que fosse num espírito mais romântico, nostálgico, de um ambiente de paz, de dança, simplesmente. A gente não utiliza nenhum suplemento de decoração, só os bailarinos e a música. ‘A Madrugada’ é inspirada das 12 valsas de esquina do Francisco Mignone, e essas valsas são no estilo brasileiro, não são valsas de Strauss. Eu acho que elas vão muito bem com La Sylphides, que é a Chopiniana com música de Chopin, com orquestração do Glazunov, então, é uma noite onde o ritmo de três tempos é o Rei”, coloca o coreógrafo Antônio Gomes que mora na Suíça há 44 anos.
Les Sylphides: o encantamento pela dança
Na sequência, um clássico que evoca a era romântica do balé. Com remontagem da renomada bailarina Ana Botafogo, Les Sylphides (Chopiniana) retrata o encantamento de um poeta sonhador pela dança das sílfides, seres mágicos que habitam as florestas. Sob o luar, elas materializam o ato poético em seus movimentos e desenham o palco com arabescos, resultando em uma obra de grande beleza contemplativa. A coreografia, embalada pela Chopiniana, de Alexander Glazunov sobre peças para piano de Chopin, nos transporta para um universo etéreo, onde a delicadeza dos movimentos e a luz do que nos remete ao luar criam uma atmosfera de sonho e contemplação.
“A Ana Botafogo foi convidada para fazer a remontagem de La Sylphides. Ela é uma primeira bailarina que tem muita história e tem o conhecimento da delicadeza, da sutileza dessa dança, que com música de Chopin você vai ver os desenhos dos corpos no espaço. Então, é uma beleza sensorial, sútil e de imagem. Ela é uma pessoa importante na dança do Brasil e é um prazer tê-la conosco na São Paulo Cia de Dança. E o Antônio Gomes também é uma figura ímpar na dança do país, ele hoje mora fora, e a gente o convidou para fazer as valsas de esquina do Francisco Mignone, e foi feita uma orquestração, e aqui a gente tem uma orquestração do Rubens Richard, que é um compositor brasileiro, então, você tem aí a união também da dança com a música de uma maneira muito potente. E o Antônio é muito criativo, trouxe um passeio à luz do luar, e você tem então duas obras que falam dessa sensação da noite, do anoitecer, das luas, da percepção do tempo no corpo, uma clássica e outra contemporânea”, conta com inspiração Inês.
Ana Botafogo celebra estar ao lado da São Paulo Cia de Dança à convite de Inês mais um ano, e com a montagem do ballet La Sylphide no Dança na Sala.
“Bom, esse já é o terceiro ano que a São Paulo Companhia de Dança faz essa remontagem de Les Sylphides. O primeiro ano, foi um ano intenso de trabalho meu, de pesquisa, para fazer essa remontagem. Claro, foi um balé que eu dancei bastante, e que eu trouxe um pouco toda essa memória corporal e que veio sendo passado inclusive por Tatiana Leskova, que esteve também dançando com os balés russos, e Tatiana que teve todo um encontro e um conhecimento com os grandes da dança. Mas o La Sylphides, especificamente, é um balé que a São Paulo Companhia de Dança está trazendo para o repertório deles, uma vez que eles são uma companhia eclética que fazem contemporâneos e clássicos, mas trazer esse balé emblemático do início do século XX foi muito importante, porque traz muito as sutilezas da dança clássica, da precisão e da limpeza da técnica do balé clássico, mas sobretudo Michel Fokine, que era o coreógrafo, é uma remontagem minha em cima da coreografia de Michel Fokine”, explica a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro Ana Botafogo.
As camadas por trás da dança
A Osesp, sem a companhia de dança, apresenta ainda a orquestração de Rubens Ricciardi para a dança popular brasileira Lundum.
“Acompanhar balé, é como acompanhar os cantores de ópera, é como reger uma ópera. Você tem que ter uma leve noção do que os bailarinos têm que dançar, especificamente ou especialmente, no início de cada peça. E também tem que, de uma certa forma, conhecer toda a cenografia. Eu tive acesso aos vídeos do balé, de outros espetáculos, ensaios, então, eu pude me preparar nesse sentido. A emoção é grande porque eu trabalhei aqui no Osesp por 27 anos. Eu trabalhei como violinista, já regi diversas vezes e regi a Osesp, que é uma das orquestras mais importantes ou até a mais importante que nós temos. Como eu trabalhei aqui muitos anos, eu digo que ela é a mais importante (risos). E a São Paulo Companhia de Dança que é um espetáculo, é uma companhia maravilhosa. É uma emoção muito grande, particularmente, para mim”, se emociona o maestro Claudio Cruz.
“Dançar na Sala São Paulo, com música ao vivo, acrescenta novas camadas de experiências e sensações, tanto para quem assiste quanto para quem dança”, comenta Inês Bogéa, Diretora Artística da SPCD.
“A presença da orquestra intensifica a conexão entre a música e a dança, criando um ambiente onde cada nota musical e cada movimento coreográfico se unem de maneira sublime, proporcionando uma experiência única e inesquecível para todos os presentes”, finaliza.
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