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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Saudade do abraço, né minha filha?

Enquanto não chega o tempo em que a gente possa voltar a se abraçar, vamos ter que nos reinventar.

Por Juliana Borges
Atualizado em 22 Maio 2020, 21h00 - Publicado em 22 Maio 2020, 21h00
 (FG Trade/Getty Images)
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22 de maio de 2020

Quando será que voltaremos a abraçar? Um gesto de afeto tão incrível. Abraço tem utilidades mil. Já que abraço pode afagar, pode consolar, pode ser pouso e pode, também, sufocar. Mas daí há discussões mil porque deixa de ser abraço, pelo menos para mim, e passa a ser “chave de braço”. Mas o radical da palavra é o mesmo. Logo…

O abraço anda fazendo falta e estamos precisados dele. Porque nessa loucura, estamos todos nos limite, na exaustão mental e física. E um abraço seria o melhor remédio. Mas esse maldito “micróbio” – se você não viu ainda o meme do micróbio, veja! – transformou das nossas formas de afeto mais lindas em um terror. Porque abraçar passou a ser perigoso e algo a se evitar. E dói tanto se a gente vê alguém que gosta e não pode abraçar… nem o zoom dá conta.

A gente também transformou abraço em outras coisas. “Abraça” com tom de surpresa pode ser “até parece”, “abraço” com certa indignação pode ser “acabou”, “aquele braço” seu Gilberto Gil já eternizou como a despedida. Há quem diga que há o “abraço chamego”; o “abraço A”, quando a gente ainda não conhece bem a pessoa; tem o “dormir abraçado de conchinha”, que eu já odiei muito, mas foi só até encontrar meu grande amor. Cada abraço denota um tipo de afeto ou resposta do nosso corpo.

Também tem quem diga que o abraço até fortalece o sistema imunológico. Nessa última, eu acredito um pouco. Tenho sérias suspeitas de que me sinto fraca por falta de abraço. E olha que eu abraço minhas irmãs vez ou outra. Mas tem meus amigos-família, minha família-família que desejo muito abraçar.

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As pessoas perguntam coisas complexas sobre o pós-pandemia. Como ficará a Educação, o preço dos alimentos, o mundo do trabalho, a Economia, o nosso comportamento. E eu só peço que a gente possa voltar a se abraçar, que isso não mude nunca e que esse tipo de afeto possa voltar, mesmo que eu saiba que nunca voltaremos ao que era e penso comigo “Saudade do abraço, né minha filha?”. Bem que poderíamos combinar um tempinho, um momento que seja, em que a gente pudesse ficar horas e horas se abraçando, mesmo que soubesse que seria por aquele recorte breve de tempo. Enquanto esse tempo não chega, vamos ter que reinventar o jeito de abraçar. Alguém da NASA bem que poderia desenvolver logo uma tecnologia sensorial pelos computadores. Dizem por aí que já tem coisas desse tipo. Alô, NASA, querida, populariza isso para nós!

Mas enquanto não surge algum cientista brilhante, daqueles de filme que salvam a humanidade, disposto a dar um jeito da gente abraçar, a gente vai reinventando e abraça na tela, e se auto abraça, cada um no seu cantinho e se olhando pelo computador. A gente se abraça com a voz de quem a gente ama do outro lado do telefone, a gente abraça com áudios de whatsapp que mais parecem podcasts. O negócio é dar um jeito de abraçar para recarregar energia.

E se você não está sozinho nessa quarentena e não está abraçando tanto quem está contigo, está esperando o que? Tem quem daria riquezas pelo abraço nesse momento. Abraça quem está ao seu lado no sofá, levanta da cadeira e abraça quem está cozinhando, invade o quarto da sua filha ou do seu filho e deem abraço de urso e não se importe se eles não irão gostar, porque você sabe que mais tarde eles vão entender. Seja abraçada e abrace hoje, amanhã e depois de amanhã.

Abraço,

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Juliana.

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