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Alexandre Simone e Lucas Galdino, comunicadores e criadores do @historiasdeterapia, contam causos que vão do emocionante ao cômico

O dia em que um estranho me despertou para a vida

Entre um like e outro, às vezes uma boa alma surge para nos trazer de volta ao que realmente importa

Por Alexandre Simone e Lucas Galdino
15 dez 2024, 08h00
Sair do celular é importante
Desconectar-se do celular é essencial para aproveitar as experiências da vida. (Getty Images/Reprodução)
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É um sábado de folga e eu, Alexandre, decido passar a manhã na rua. Acordo com vontade de ver a vida, já sentiu isso? Mas assim que piso para fora do apartamento em que estou hospedado, sinto meu celular vibrar. Penso que nada deve ser tão urgente num sábado de manhã. Mas, entre um passo e outro, sou tomado pela curiosidade.

Me rendo. Como era de se esperar, a mensagem é “tão” importante que nem sou capaz de lembrar de seu conteúdo para escrevê-lo aqui. Sento na cadeira de plástico de um boteco próximo à praia. Antes mesmo de pedir um café puro já me perdi na tela.

Rapidamente, sou abduzido pelo deslizar infinito do feed. Foto, vídeo, likes. Comento com um coração, sinto inveja, discuto nos comentários. Não sei quanto tempo se passou, até que o garçom se aproxima e já deduz meu pedido: “Café e pão na chapa?”.

Quando me desconecto das notificações e levanto a cabeça, enxergo um céu azul, o mar ao fundo, algumas pessoas caminhando pela rua… Todos parecem saudáveis. Fico com inveja. Será que se eu morasse aqui estaria agora de shortinho e tênis?

Percebo que a moça à minha frente está no estado apático em que me encontrava cinco minutos atrás. Ela olha para o celular sem esboçar reação. Na cadeira de frente está uma senhora, deduzi ser sua mãe. Cruza a rua um menino alto, magro, sem camisa, segurando tiras de folhas. Ele solicita um tempo das pessoas. A maioria nem levanta a cabeça, enquanto outras negam antes mesmo de ouvi-lo. 

Ele chega na moça do celular, que demora a entender o que estava acontecendo. Quando o olhar de ambos se cruza, seu rosto é de sono, como se tivesse dormido por horas e, de repente, retornasse para o corpo em estágio de quase atenção. O menino pergunta: “Você tem três minutos?” 

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Ela responde que sim, mas só balançando a cabeça. Enquanto ela apoia o aparelho na mesa, ele pega uma das plantas e começa a dobrar, dobrar e dobrar.

Ela passa a observar ao redor. Inquietos, seus olhos passeiam: as mãos do garoto, as pessoas de bicicleta, o céu com nuvens, o mar calmo, o quiosque de coco, a fila da sorveteria, o casal de mãos dadas, os meninos que correm entre os turistas, o cachorro que revira o lixo, até que… a mão se estende. Ela recebe uma flor. Uma flor que foi feita naquele instante, diante dos olhos perdidos da mulher. E também dos meus, que ficam em estado de fascinação.

Pela primeira vez, vejo um sorriso surgir no rosto dela. É como se a jovem percebesse que, antes disso, estava recebendo inúmeros estímulos pela tela, mas nada ainda tinha sido capaz de arrancar uma reação verdadeira. Ela agradece ao garoto e olha para a suposta mãe, como quem pede algum dinheiro.

A senhora remexe a imensa bolsa: tira comprimidos, chaves, três isqueiros, uma foto 3×4, um carregador portátil. O garoto começa a rir — eu também. Da bolsa ainda sai uma piranha de cabelo, um creme em miniatura e uma pilha, até que, finalmente, sai a carteira. O menino agradece a nota de cinco reais e segue para a próxima mesa.

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Ela entregou a ele um dinheiro que, provavelmente, não fará falta nenhuma. Em troca, ele acha que deu a ela uma flor, quando, na verdade, a devolveu o olhar atento ao redor. Algo que só acontece se estivermos presentes no presente. Perco ele de vista. E ouço a mulher dizer:

— Bonita, né, mãe? — eu tinha razão, eram mãe e filha, seus narizes eram iguais.

— Lembra quando eu te ajudava nos trabalhos de arte da escola, filha? Você tinha talento.

— Eu gostava mesmo, nunca mais fiz nada por mim.

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O celular dela vibra, ela olha rapidamente alguma notificação irrelevante, mas escolhe jogá-lo na bolsa. Opta por um banho de mar, desta vez, enquanto a mãe toma conta dos pertences. Foi ele, o menino alto, que a trouxe de volta à vida.

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