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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária

A coragem advém da resistência em enfrentar as inseguranças

A colunista Ana Carolina Coelho aborda o enfrentamento coletivo dos medos e inseguranças provenientes de uma grande mudança

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 30 ago 2021, 11h04 - Publicado em 30 ago 2021, 11h02
mãe e filha
 (Reprodução/Getty Images)
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Há alguns dias, eu e minha família fizemos uma longa viagem rumo a uma temporária mudança radical: estamos agora vivendo em outra cidade num país estrangeiro. Embora seja um prêmio que eu conquistei, as incertezas dos dias atuais, primeiro definiram que eu não viria sozinha e segundo que precisaríamos nos organizar muito, em vários aspectos da vida cotidiana, para que pudéssemos vir. Isso incluiu a decisão de matricular as crianças em escolas locais. O primeiro grande impacto das meninas foi compreender que todas as pessoas falam “outra” língua.

A minha filha mais nova passou os primeiros dias perguntando porque ninguém falava português. E eu observei dois movimentos interessantes da minha flor mais selvagem, a minha Rosa preciosa: conforme os dias passavam ela usou todos os recursos verbais e gestuais para estabelecer comunicação e ela foi aos poucos ficando mais introspectiva, todas as vezes que estávamos próximos da sua futura escola.

Hoje recebemos uma correspondência da nova escola. Um lado do papel estava endereçado às mães, pais e tutoras/es das crianças e no verso havia uma carta do novo professor para as crianças. Eu disse: “olha, que legal, seu professor escreveu uma carta para você!”. E após examinar cada linha, ela me disse que não entendia quase nada do que estava escrito.

E eu vi a minha filha realmente assustada. Meu primeiro instinto foi de abraçá-la e ler o que estava na carta, mas me contive. Eu tentei fazer a voz mais calma que consegui e disse: “Pegue o celular e tente descobrir.” Durante quase uma hora, Clara Rosa ficou debruçada entre olhar as palavras no papel e tentar decifrá-las. Eu a observava com cuidado de tempos em tempos. Suas expressões variavam entre sorrisos e preocupações.

Finalmente, decidi que era a hora de uma intervenção materna. Eu fiz um café para mim, algo que ela está acostumada a me ver segurando, portanto, eu parecia apenas estar “passando” perto dela, me sentei na cadeira ao seu lado e seguiu-se o seguinte diálogo:

– E aí? O que o seu professor escreveu?

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Ela me contou tudo que conseguiu descobrir da carta e finalmente desabou:

– Mãe, eu estou nervosa. Eu não acho que consigo ir para a nova escola.

Como eu sou professora e essa mudança teve como um dos requisitos que eu lecionasse um curso em uma universidade, eu olhei nos olhos dela e disse:

– Eu também estou nervosa com a minha nova turma.

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– Mas mãe, você é professora. Por que você estaria nervosa?

– Bem, eu não conheço meu local de trabalho, as pessoas de lá com quem vou trabalhar e ensinar… tudo isso deixa a gente meio nervosa, você não acha?

E eu vi minha filha rir de maneira relaxada pela primeira vez em vários dias. A ideia de que pessoas adultas podem ficar nervosas, assustadas ou constrangidas foi o tema de mais de meia hora da nossa conversa. Eu disse a ela para ser ela mesma, tentar fazer o melhor de si e não ter medo de perguntar ou errar. Você encontrará boas amizades no caminho: peça ajuda. Não tente fazer tudo sozinha. Mantenha-se focada em aprender e principalmente, faça o que é certo, mesmo que ninguém esteja fazendo. Por dentro, eu me dizia a mesma coisa.

Ela adorou receber uma carta de boas-vindas do professor. Achou gentil da parte dele e terminamos nossa conversa com a minha quase pré-adolescente pulando pela nova casa, feliz e aliviada. “Vai ficar tudo bem”, eu me disse por dentro, enquanto tomava um café já frio. Há dez anos o café fica frio e eu me vejo falando essas mesmas palavras para mim mesma sobre o maternar: se não der certo, tente aprender e faça de novo.

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À noite, quando eu estava estudando, minha filha mais velha foi a primeira a fazer menos barulho. Durou menos de dez minutos, mas aquele foi um gesto importante inicial de apoio e amor.

Maternar é função e relação: as regras variam porque as pessoas envolvidas na relação são diversas e únicas. Certamente, cuidados básicos de sobrevivência são os requisitos primários da função, como manter as crianças alimentadas, seguras e educadas (o que é um desafio em todos os países que enfrentam profundas desigualdades sociais, como o Brasil).

Para sermos capazes de “amaternar” precisamos adicionar um elemento a essa equação: a capacidade de expressarmos nossas emoções para as crianças, como guardiãs de suas formações emocionais. A coragem não advém da falta de medo, mas da resistência em enfrentar as inseguranças e principalmente, em ser capaz de não tentar resolver todas as questões sem nenhum auxílio.

Amaternar é o entendimento de que o coletivo é sempre mais forte que um indivíduo. Mães entendem a força da ajuda mútua. A coragem de ousar sermos falíveis pode nos levar adiante, além de muitas fronteiras. Dias Mulheres virão!

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Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram: (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas!

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