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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Nós, mulheres rebeldes, criamos espaços para mais Rayssas e Rosas

Ana Carolina Coelho reflete sobre as diferenças entre as gerações e os encontros possíveis de um "amaternar" honesto. "Somos todas Filhas das Mães", diz

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 27 jul 2021, 16h59 - Publicado em 27 jul 2021, 16h15

Minha filha mais velha está “adolescendo”. Eu vejo a cada dia o desafio e a rebeldia se acumulando em seu corpo, conforme este também, visivelmente, opera suas mudanças de hormônios. A língua, que sempre foi questionadora, agora ganhou ares de ferina.

Eu, como a maioria das mães, tenho orgulho e medo dessas transformações. Me vejo falando coisas como “tem que fazer porque EU estou mandando” e várias outras tão conhecidas ladainhas de mãe.

Minha Rosa hoje disse: “eu não sou mais pequena, mãe! Eu mudei e cresci e você precisa reconhecer isso!” E a adolescente que eu fui se encontrou na verdade dessas palavras.

Algumas horas antes, eu estava assistindo TV e comemorando a vitória da menina-fada – a filha de dona Lílian – Rayssa Leal, medalha de prata no skate street nas Olimpíadas.

Eu me lembro o quanto adorava ficar “de bobeira” ouvindo música e conversando na pista de skate perto de casa. Lembro também o quanto se falava mal de skatistas, poetas, surfistas, jogadoras/es de RPG, “galera” de banda de rock, “gente do teatro e das artes”.

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Basicamente, a descrição de quase todas as pessoas que eram e são minhas amigas. Gente cuja rebeldia transbordava pelos poros, seres que nunca foram muito boas/bons em seguir regras pré-definidas: em essência, uma autodescrição minha.

Eu vibrei pela menina que, se tivesse a minha idade, teria ouvido que “não teria futuro” e que isso era coisa de “gente vagabunda”. E ela estava ali, ganhando uma medalha, sendo reconhecida no mundo inteiro e comemorando com a sua mãe.

Como dizia uma música da grande Elis Regina, que minha mãe ouvia quando eu era criança e hoje eu ouço em minha casa: “o passado é uma roupa que não nos serve mais.”

Em uma sociedade que presentifica todas as relações e diz que o passado não importa, quando, na realidade, tudo que veio antes do momento atual é um amálgama que nos forma e colore, as maternidades continuam repletas de manuais, instrumentos e “fôrmas” de educação.

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Nesse mesmo dia cheio de choros de alegria, me vi sendo surpreendida e confrontada com uma reivindicação legítima: a necessidade do reconhecimento da mudança. A filha que nunca foi muito boa no quesito obedecer… tornou-se mãe. E agora?

E uma cena se formou com nitidez na minha cabeça: o dia, há muitos anos atrás, em que minha mãe me pediu desculpas. Nós estávamos discutindo e eu a acusava de algo que tinha me ferido no passado.

Ela parou e me disse: “Eu aprendi a ser mãe desse jeito, minha filha. Eu tinha medo que você se machucasse e eu não sabia o que eram aquelas coisas. Eu só queria o melhor para você. Me desculpe, filha! Podemos começar de novo? Eu tenho muito orgulho de você e estou tentando aprender”.

Eu já era uma mulher adulta e independente, mas a criança/adolescente, cheia de empáfia e ideias que vive dentro de mim, foi curada de muitas dores, algumas que eu nem sabia que existiam.

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A honestidade daquelas palavras me mostrou que o tempo se mistura quando falamos de mães e filhas: em um minuto somos “gente grande” e, de repente, crianças. E que ser “mãe” é algo que se aprende todos os dias na prática do fazer.

Eu olhei e reconstruí nosso passado com os olhos dela: uma mulher assustada com a “filha tagarela, desobediente, criativa e cheia de energias” que só queria conviver com pessoas iguais a ela, consideradas na época “sem futuro”.

Minha mãe tinha medo e orgulho da mulher que eu estava me tornando, mesmo sem me entender plenamente. Ela navegou com a bússola que lhe deram sobre maternidade na mesma tempestade de areia na qual estou entrando: o tempo da adolescência das filhas. A grande verdade é que somos todas “Filhas das Mães” que tivemos e das possibilidades que elas tiveram de “amaternar”.

Eu nunca fui uma criança muito obediente, mas eu não inventei nada: eu herdei essa força, garra e coragem das mulheres da minha família; da minha mãe, em grande parte, que se formou no ensino superior, tirou carteira de motorista e saiu de uma casa de chão de terra para a vida em que eu nasci. Eu gostaria de ter conhecido minha mãe adolescente e acho que teríamos sido amigas e discutido muito.

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Hoje eu vejo que todas nós, mulheres rebeldes, fomos aos poucos criando espaços para que mais “Rayssas” e “Rosas” possam reivindicar seus direitos no mundo.

Emocionada, abracei minha filha e disse: “você tem razão, eu te amo e eu também tenho razão. Podemos começar de novo?” e a abracei com muitos beijos. O olhar de fogo arrefeceu, ao menos momentaneamente, no sorriso generoso da minha flor de outono. Empate para o time da casa.

Nas Olimpíadas das maternidades, é preciso fôlego para enfrentar as provas e humildade para entender que esse é um esporte coletivo, que só funciona se praticado em grupo, porque essa é uma maratona para a vida toda.

O futuro hoje mandou lembranças para o mundo inteiro ver: nele, as garotas podem sonhar e voar, sem preconceitos sobre o que elas querem fazer e sem medo de expor que elas são a mudança.

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Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores em https://claudia.abril.com.br/blog/cronicas-de-mae/ e acompanhe as próximas! 

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