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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Por que crianças precisam ver que choro é fortaleza

Para a colunista Ana Carolina Coelho, os filhos passaram a ter uma outra relação com os sentimentos durante a pandemia

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 16 ago 2021, 14h58 - Publicado em 16 ago 2021, 14h25

Estávamos vendo jornal e minha filha mais velha, para variar, veio me questionar por que as pessoas insistem em fazer coisas que “todo mundo já percebeu que está errado”.

Em vez de responder, me contive – até porque a historiadora que habita em mim estava pronta para começar uma palestra de duas horas e meia sobre heranças sociais da desigualdade (contém ironia) – e devolvi a pergunta: o que ela achava de tudo aquilo?

Clara não poderia ter sido mais certeira: “Eu acho que as pessoas não querem ver o que está na frente delas porque isso faria com elas tivessem que fazer coisas chatas, como a gente, que agora nunca mais sai de casa.”

Eu a abracei e pensei o quanto tem sido dolorosa a experiência da pandemia e como estamos nos tornando uma única geração de pessoas em vários níveis de traumas e feridas.

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Nesse mesmo dia, eu estava novamente mandando uma mensagem de condolências a uma pessoa muito amiga e meus olhos estavam marejados de tristeza. Minha filha se aproximou e, dessa vez, ela me abraçou em silêncio.

Ela me trouxe água, como eu sempre faço quando ela está chorando. Eu deixei o telefone de lado, pronta para dar atenção à minha filha e ela disse: “Continue, mamãe. Sua amiga agora precisa do seu abraço, mesmo de longe!”

Esse foi o dia em que minha filha me “amaternou”. Eu fui sua professora por tanto tempo e naquele instante fui sua aluna.

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O dia permaneceu sombrio e tenso como tantos outros têm sido nesses “15 dias” eternos de um mundo pandêmico, mas terminou com quatro pessoas desajeitadas, minha família, dançando e cantando no quarto antes de dormir.

Não estávamos em estado de alegria delirante, eu coloquei a música e decidi lutar contra a desesperança que parecia nos ter assolado. Enquanto a batida pop invadia nossos passos incertos, decidimos em silêncio que o desânimo não seria o campeão do dia: nós iríamos ousar resistir mais um amanhecer.

Maternar é verbo e ação, como as teorias sobre maternidade tanto têm demonstrado nos últimos anos. Em tempos como estes, nossa única opção é vivermos com a ousadia dos afetos em teias e dos acolhimentos solidários. De pequenas ações de coragem movidas pelo amor como ato político e alegria como resistência.

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E, por isso, eu insisto que é preciso que façamos mais que maternar: temos que “amaternar” a vida.

Como já venho afirmando, “amaternar” é um verbo inventado por mim – poeta que sou – que fala desta ação ousada de criarmos elos libertários das funções maternas, quando somos capazes de fazer o que muitas consideram fraqueza ou ser uma “mãe ruim”: mostrar quem somos para nossas crianças sem máscaras ou invenções e deixarmos evidentes nossos limites e nosso valores.

Não se trata de deixar de cuidar, ao contrário, é um cuidar atento que cria uma relação entre as pessoas que convivem na casa.

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O modelo de mãe abnegada, ainda vigente e atuante em nossa sociedade, que se sacrifica todos os dias, todos os seus sonhos e desejos em prol das/dos filhas/filhos é a base de todo controle social sobre as mulheres e um grande limitador do potencial criativo das mães.

Mãe é função, exercício, prática e identidade até, mas nunca pode ser sinônimo de barreira para a realização plena das mulheres em suas vidas e na sociedade.

Infelizmente, é exatamente isso que “mãe” significou para muitas mulheres em nosso passado (e ainda significa para muitas nos dias de hoje): o muro em que foram cravejados os sonhos nunca realizados dos sacrifícios maternos.

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A historiadora que habita em mim clama por uma transformação fundamental em nossas estruturas políticas amorosas.

Assim, esses modelos de “mãe” e “maternidade” possam pertencer APENAS ao passado – e que as futuras gerações, inclusive, nem saibam o que ele significa, como mimeógrafos ou, como bem lembrou um grande e querido colega de profissão, o termo “calça rancheira”.

Também espero que possamos cultivar uma sociedade em que as mães sejam mulheres que tenham infraestrutura e suporte em seus ambientes de trabalho e familiar e que as relações sejam repletas de abraços, copos de água e suporte, em teias de afetos verdadeiramente solidárias. Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas! 

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