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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Greve geral das mães

Que tal substituir todas as orientações da rotina da casa pelo silêncio? A colunista Ana Carolina reflete sobre a figura da mulher na administração do lar

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 24 Maio 2021, 13h33 - Publicado em 24 Maio 2021, 13h15

“É só fazer agora!”, que mãe nunca ouviu essa resposta, após ter combinado com MUITA antecedência alguma divisão de tarefas na casa e que obviamente não foi cumprida?

Eu diria que essa é uma das frases mais cansativas da rotina das mulheres, em especial das mães. Vejam bem: tudo já foi pensado, organizado, detalhado, explicado, dividido entre as pessoas que moram na casa – são, em geral, atividades rotineiras e pedidos simples – e, assim mesmo, a quantidade de vezes que temos que repetir, conferir e (re)pedir extrapolam todos os limites da nossa paciência. E, assim mesmo, seguimos falando.

Eu proponho aqui, no final do mês de maio, uma greve geral das mães: uma semana inteira sem dar qualquer diretriz para nenhuma e nenhum das/dos membras/os da família – exceto às crianças pequenas que realmente precisam das instruções.

Um absoluto silêncio sobre onde ficam as roupas, a louça ou sobre a importância de deixar as coisas arrumadas, separadas e organizadas.

Nem uma palavra sobre limpeza pessoal ou da casa, sobre cuidados com os objetos domésticos, sobre a realização das tarefas.

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Muitas de nós estamos vivendo há pelo menos 1 ano e meio, na maior parte do tempo, em casa – nesse espaço coletivo onde, historicamente em nosso país TODOS os cuidados recaem sobre as figuras femininas, mas que é habitado, em geral, por várias pessoas capazes.

A desigualdade nas divisões das tarefas do lar não está apenas na ordem do fazer: elas residem principalmente na administração do funcionamento de cada residência.

Portanto, além da sobrecarga física, sofremos intensamente com o acúmulo dessas atividades de gerenciamento do lar.

Realizar todo esse trabalho e ter que ficar praticamente implorando para que as “coisas da casa” funcionem é um imenso desrespeito e uma das grandes razões para as mulheres que maternam sentirem-se solitárias e abandonadas.

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Tudo realmente fica muito mais pesado se temos que falar TODOS os dias praticamente as mesmas regras. De fato, quando as crianças são pequenas precisamos ensiná-las diariamente.

A questão é que ensinamos, ao longo do tempo, que as mães são verdadeiros “gravadores humanos”, e que é parte da responsabilidade exclusiva delas ter que lidar com os cuidados e tarefas de administração da casa e da vida de todas as pessoas para a vida inteira, ou seja, filhas e filhos já grandes e capazes e nossos/as companheiros/as.

O resultado disso é o adiamento ou o cancelamento dos nossos próprios sonhos e desejos – porque o “é só fazer agora” rapidamente vira um “deixa que eu faço!”, falado entredentes ou aos berros, a depender da capacidade de controlar a mágoa que as mães têm naquele momento de mais uma total decepção – e de uma “maternar” cheio de culpa, lágrimas choradas às escondidas e ressentimentos.

A “greve geral das mães” não é uma proposta de punição. É uma proposta de reavaliar a maneira como estamos vivendo dentro de nossas próprias casas e como estamos ensinando nossas crianças a (re)produzir diferenças que, no futuro, continuarão a existir em outras casas.

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É uma reflexão de como nossa sociedade, como um coletivo, entende as tarefas diárias do viver. Todas as pessoas que moram em um lar são responsáveis por manter esse espaço funcionando.

Como diz o ditado, “tudo que é combinado não sai caro”. A ideia é que ninguém se sinta perdendo tanto, como as mulheres em geral relatam quando se tornam mães.

Hoje pela manhã eu estava ensinando minha filha mais nova a falar cada sílaba em separado para ver se ela já conseguia pronunciar a palavra “desculpa” com todas as sílabas. Ela conseguiu e seguiu-se este pequeno diálogo:

EU – Que legal! Saiu!

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FILHA – Ela foi para onde?

EU – Não sei. Acho que foi para a varanda.

FILHA – Não, mamãe. Ela foi embora. Acho que ela colocou a máscara, abriu o portão e não vai mais voltar.

Eu, que acordei pensando nas questões que envolvem a exaustão materna, ri muito alto. “Sim, pequena flor! ”, as desculpas foram embora, devidamente protegidas e não vão mais voltar.

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Não há espaço para tantos: “é só fazer agora”, “era só você ter falado que eu faria” ou “me desculpe! ”. As mães merecem o direito de não serem as únicas responsáveis por tudo, principalmente o respeito por tudo que já fizeram diariamente.

Além disso, sempre que existam pessoas grandes e capazes na casa, as mães merecem a recíproca de uma divisão igualitária dos cuidados. Mães precisam ser cuidadas e amadas, pois elas são, em geral, muito demandadas nos anos iniciais de convívio com as crianças.

Isso significa a necessidade de todo grupo familiar se envolver nas tarefas do dia a dia, porque “amaternar” é tornar a vida mais plena, leve e possível e, para isso, os constantes pedidos de desculpas definitivamente precisam ir embora e nunca mais voltarem. Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou no Instagram (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas!

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