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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária

Como borboletas selvagens, mães sabem a hora de mudar

'As maternidades são verdadeiras 'manteigas voadoras': selvagens, potentes e resistentes a quaisquer intempéries da vida", reflete Ana Coelho

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 27 set 2021, 19h14 - Publicado em 27 set 2021, 17h51
Maternidade
Maternidade (| Ilustração: Helena Sbeghen/CLAUDIA)
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Há alguns dias fomos assistir a uma experiência científica de um projeto que mapeia as rotas migratórias das borboletas-monarcas. A pesquisadora apareceu com uma linda blusa cheia de borboletas e trouxe duas pequenas caixas repletas de “butterflies”.

Era um evento gratuito e aberto ao público que explicava a importância desse acompanhamento anual; que o projeto já funciona desde meados de 1990 e que cada pequena mudança observada auxilia no maior conhecimento sobre tais borboletas. Essa pesquisa, entre outros objetivos, busca entender e encontrar formas de preservação da espécie. Fomos avisadas que durante um ano receberemos avisos regulares do projeto.

Em um determinado momento da apresentação, as crianças foram convidadas a colocar uma pequena etiqueta de identificação nas asas dessas graciosas criaturas pesquisadas e, em seguida, libertá-las. Seguiu-se uma comoção de risos, braços levantados e expectativas.

Uma criança deveria pegar a delicada “manteiga voadora” – faça a tradução literal do inglês “butterfly” (Eu sempre achei muito poético, e um pouco engraçado, confesso) –, outra colocava a etiqueta e uma terceira a colocava nas mãos e a deixava voar.

Foram instantes muito mágicos, com muitos sorrisos, aplausos e de grande harmonia. As crianças se dividiam espontaneamente, cediam a vez e se organizavam em pequenos grupos para realizar a tarefa de maneira colaborativa.

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O cuidado com as asas era impressionante e quase reverente. “Não podemos machucar os animais” era um mantra não-dito que se via nos gestos infantis coletivos, cada vez mais suaves e com falas mais baixas e calmas. Eram todas, naqueles momentos, crianças cientistas em ação!

Eu perguntei para a pesquisadora por que havia duas caixas. Ela me respondeu que uma era de borboletas criadas em cativeiro e a outra de borboletas selvagens – nascidas na natureza – capturadas para aquele projeto.

Além disso, acrescentou que as borboletas-monarcas são capazes de sobreviver a furacões, terremotos e mudanças climáticas bruscas; que algumas já voaram milhares de quilômetros, foram encontradas vivendo no México e em outros países.

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E, por fim, ela apresentou dois dados fantásticos já constatados por esse projeto científico: as borboletas selvagens têm uma taxa de sobrevivência e de migração muito maior que as de cativeiro. As monarcas que nunca migram vivem apenas um mês; já as que conseguem migrar, percebendo que chegou a hora de mudar, vivem uma média de nove meses. UAU!

Eu olhava as crianças “brincando” de fazer ciência e imediatamente depois dessa fala, comecei a pensar nas mães. A maioria das mães entende esse sentimento: uma urgência de mudança radical, que muitas vezes é mal compreendida pelas pessoas.

Mudamos de casa, de escolas, de bairro, de país, de amizades. Encontramos terremotos, vivenciamos furacões, descobrimos novas parcerias e seguimos adiante. Batemos as asas e levamos as crias com a força de um amar que não fica apenas na superfície das falas, mas que existe nas atitudes. Mudar é ação, quase sempre dolorosa, de aprimoramos nossas vidas, muitas vezes para que as crianças possam florescer e voar.

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Enquanto as monarcas voavam à minha volta eu me recordava, em cada bater de asas, de uma mãe que já conversou comigo, de uma história ou de um relato comovente, que com variações tem esse início: “Eu não sabia se daria certo, mas sabia que precisava fazer alguma coisa”. Pensei também em todos os caminhos que percorri para estarmos naquele dia vendo um projeto científico ao ar livre.

O “espetáculo” acabou e fizemos um pequeno piquenique. Minhas filhas riam, imaginando e discutindo onde as borboletas estariam. E eu sorria, pensando em todas as monarcas maravilhosas que vivem dentro das ações e emoções das mães. As maternidades são verdadeiras “manteigas voadoras”: selvagens, potentes e resistentes a quaisquer intempéries da vida.

Enquanto eu descascava uma maçã, cheguei à seguinte conclusão sem a fantasia da “mãe perfeita”: acredito que o nome dessa espécie de borboletas representa muito o que o “amaternar” produz em nossas vidas.

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MÃES são “MONARCAS SELVAGENS”, pois sabemos a hora de realizar mudanças, com a força de nossas asas e “na cara e na coragem”, para encontrar uma maneira de viver MUITO mais e melhor. Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas! 

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