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Crônicas de Mãe Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Banho de empatia

A colunista descreve nesta crônica a necessidade de ter empatia com as diferentes formas de ser mãe, até porque a maternidade é plural

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 9 jun 2021, 22h46 - Publicado em 7 jun 2021, 13h55

Há alguns anos, quando minha primeira filha ainda era neném, passei pela seguinte situação: depois de muito ponderar, exausta, cheias de dúvidas e medos, rejeitei uma proposta de trabalho que poderia ser muito boa para mim, mas que eu sinceramente não tinha nenhuma condição ou força para realizar NAQUELE MOMENTO.

Foi então que eu ouvi uma expressão, que já tinha escutado antes de ser mãe, mas nunca tinha “sentido” as palavras dentro do meu corpo com tanta força: “Você não pode usar sua filha como muleta!”.

A frase foi dita com um misto de indignação e escárnio, parecendo uma brincadeira que não tem nenhuma graça. Eu não ouvi essa expressão somente essa vez, infelizmente.

É um constrangimento social público feito diretamente às mães que questiona nossa competência como profissionais e somos impelidas a responder a essa armadilha que nos leva sempre ao mesmo lugar: ou nos retratando, aceitando o trabalho, ficando cansadas e culpadas ou recusando tacitamente e ficando igualmente consumidas pela culpa, inseguranças, dúvidas e ao inevitável esgotamento. 

Muitas vezes, pasmem, são mesmo outras mulheres que nos dizem essas coisas, como um desafio para que provássemos que, APESAR da nossa maternidade, ainda somos capazes de realizar todas e quaisquer atividades laborais e que ter uma filha pequena fosse algum tipo de “desculpa esfarrapada” que comprovasse minha “preguiça e/ou desinteresse”.

É muito triste constatar a nossa solidão nesses momentos. Ter que explicar o que significa “cansaço materno” para mulheres que, muitas vezes são mães, mas tiveram experiências de suporte familiar e/ou terceirizado e que não compreendem na pele as dores da sobrecarga de educar e criar um outro ser humano.

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As maternidades são plurais, uma vez que cada pessoa que materna está ocupando um lugar no mundo. Por isso que as interseções de raça/etnia, classe social, gênero e orientações sexuais causam tanto ruído de comunicação entre as pessoas.

As conversas parecem ser feitas em um rádio de transmissão muito antigo, no qual cada ponta está sintonizada em uma frequência diferente. Todo mundo parece se ouvir e ninguém está realmente entendendo o que a outra pessoa fala.

Nesse curto espaço de vozes dissonantes, é preciso parar e sentir as palavras como se elas fossem água entrando em nossos poros. Às vezes como chuva morna, outras como tempestades de granizo e, em muitas ocasiões, como ondas que nos retiram do chão e nos fazem respirar sal e areia e água.

Apenas completamente banhados nas existências diversas, conseguiremos entender as dores, as delícias, as alegrias e as feridas que determinadas frases e atitudes causam. 

Hoje, minha pequena botão de flor colorida do Cerrado usou uma metáfora exemplar para esse transbordar de nascentes que nós somos. Ela estava chorando por algum desejo que eu não podia atender, a famosa “birra” infantil, que eu considero uma forma de tentar se posicionar no mundo.

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Eu disse que ela não poderia fazer tal ação e ela, imediatamente, começou a chorar. Eu sentei ao lado dela e deixei as lágrimas escorrerem por seu rosto, limpando de vez em quando e perguntei:

– Você consegue saber por que isso está te deixando tão triste? 

– Não sei. – ela respondeu ainda aos berros. 

– Nem sempre a gente precisa saber com palavras. Me mostre o que você está sentindo.

Ela me olhou, sentou no meu colo, me deu um abraço apertado e disse:

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– Às vezes ficam umas palavras ruins na minha barriga e eu não gosto. 

– Ah, é isso filha? Fique tranquila que toda mamãe tem uma magia para tirar essas palavras ruins da barriga das crianças. – eu afirmei, admirada com a sabedoria da minha “bebê”.

Eu a abracei, de forma delicada e firme. Respirei e ela respirou junto. Dei vários beijinhos em seu rostinho ainda molhado. O choro acalmou, ela sorriu, me beijou de volta e saiu saltitante para alguma brincadeira na casa. A “mágica” funcionou.

O que eu não contei é que estava terminando de arrumar o lanche da tarde e lendo um trabalho que tem prazo, quando toda essa situação aconteceu. A cena, que parou meu dia, adiou e atrasou meus prazos. Foram alguns minutos que se repetiram em vários atos ao longo do dia.

Pequenas e grandes interrupções constantes. Crises sanadas com beijos, abraços, palavras ásperas e doces. Maternar é um rio e as mães, muitas vezes, são a única e todas as correntezas dessas águas que moram em nós. 

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O fato é que eu tenho filhas pequenas e há muito tempo decidi que não irei escondê-las em uma bolsa para parecer ser aquilo que a tal “sociedade” espera de mim.

Eu sou uma profissional de múltiplas atividades não APESAR delas, mas principalmente JUNTO delas. Eu não escondo das minhas filhas que preciso de tempo para produzir e não me esquivo de estar com elas acompanhando e sendo parceira em suas vidas.

É uma troca exaustiva e eu direi não a algumas propostas e lamento que certas pessoas considerem isso uma muleta. Meu “amaternar” não é algo no qual me apoio para “não andar”, mas algo que me sustenta e me impulsiona em todas as minhas ações. 

Ajustes sempre serão necessários e, para que isso funcione, é preciso uma comunidade inteira apoiando as mães em seus “sims” e seus “nãos”. Urge a existência de seres humanos que estejam dispostas/os a serem correntezas e rios.

As diversidades e as diferenças estão no cerne das minhas pesquisas e diariamente acredito que podemos ser águas diferentes e juntas, para que sempre haja espaço para os mares, os lagos e os oceanos, onde as “palavras ruins” possam sair de todas as nossas barrigas e assim, construirmos um mundo mais empático com estações bem sintonizadas e encontros de pele, corpo e alma. Dias Mulheres virão!

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Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou no Instagram  (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer!

Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores em https://claudia.abril.com.br/blog/cronicas-de-mae/ e acompanhe as próximas! 

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