Ela acorda todos os dias por volta das 5h, faz seus pranayamas (práticas de respiração usadas na ioga) e vai para a sala de visitas para tomar sua dose diária de vitamina D. “Adoro tomar meu sol na janela da sala e respirar. Você respira energia cósmica. Então, recebe Deus dentro de você”, me diz dona Zilda, agora com 103 anos. Depois, tem a caminhada matinal com o neto Nikolas, atividade que se repete à tarde, pois já faz um tempo, ele, que é preparador físico, criou uma rotina importante de exercícios para ela que inclui também o fortalecimento muscular.
A manhã é preenchida ainda com doses de leitura espirituais (entre seus autores preferidos estão Paramahansa Yogananda, Deepak Chopra, Sai Baba e Osho, entre outros mestres iluminados) e as músicas eruditas que escuta via YouTube numa tela grande que fica ali mesmo na sala. Para completar o clima, cristais estão espalhados pelo mobiliário, assim como placas de madeira com a frase “Eu Sou”, uma afirmação ligada aos mestres ascenssionados da Fraternidade Branca. Diante da pilha de livros em que tem se debruçado atualmente, ela reforça um dos pilares que considera importantes para estar tão bem aos 103 anos: “Sempre trabalhei o cérebro, nunca deixei ficar parado, não”.
Quando questiono sobre sua alimentação, ela conta que é vegetariana há anos e que já faz um tempo parou de tomar bebidas alcóolicas. Hoje, se alimenta com a maior variedade possível e com parcimônia.
Voltando no tempo
Nascida em 11 de junho de 1919, na fazenda Areias, no município de Campina Verde, no Triângulo Mineiro, ela estudou no Colégio Nossa Senhora das Dores, em Uberaba, e adorava frequentar as missas, onde lia sobre espiritualidade. Pioneiríssima, foi atravessada pela prática da ioga e estudou com professores como Caio Miranda, George Kritikos e Luís Sérgio Álvares DeRose. Logo, começou a dar aulas, mas o marido não gostava nada daquela história e acabou sugerindo que desse cabo da ideia.
Um grande amor sonhado
Como já virou tradição, perguntei a ela sobre o namoro, se tinha beijo na boca ou era só no parapeito como ouvi muitas longevas contarem durante minhas lives na pandemia, mas ela assegura que tinha beijo, sim, e que seu grande amor foi sonhado e realizado.
“Tive uma visão de um homem muito bonito, vestindo um terno cor de tijolo, meio alaranjado. Naquele momento, tive certeza de que aquele seria meu príncipe encantado e meu único amor”, relembra.
Foi num Carnaval, em Ituiutaba, anos mais tarde, que ela conheceu Fábio Chaves, com quem viveu até sua morte há mais de uma década. “Quando fui apresentada a ele, levei um susto, pois estava vestido como na visão que eu havia tido”, conta. Zilda tinha 24 anos quando se casou e com ele teve cinco filhos, cinco netos e um bisneto.
Viver tanto é aproximar-se da morte, tema que para ela é natural como o nascer. “Na morte a gente vai para o outro lado, o corpo físico fica aqui e o espírito vai pra lá. Eu aceito, sei que é bom ir pra lá. Quando chegar a minha hora, vou alegre.”