Estupro: Bolsonaro toma pena leve e Abdelmassih bebe vinho bom
O abuso sexual está longe do fim: o deputado deve pagar só 10 mil de indenização à colega Maria do Rosário. E o médico estuprador se diverte longe da prisão
A vitória nem sempre significa que a guerra está terminada. Ganhamos uma batalha ontem (15/8) e perdemos outra. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação do deputado Jair Bolsonaro, que em plenário havia dito não ter vontade de estuprar a parlamentar Maria do Rosário por ela ser “feia”.
A quantia que ele terá de pagar como indenização à deputada, de 10 mil reais, é pequena pelo tamanho do estrago provocado pela ofensa. Não só por ter atingido todas as brasileiras, mas pelo enorme eco produzido. Bolsonaro é um barulhento apologista do crime que dá tanto prazer aos homens maus – e eles o seguem, se multiplicam, fazem novas vítimas. Chamando o chefe de Bolsomito. Mito das cavernas. Fábula de um mundo masculino ultrapassado.
Há, porém, algo a comemorar. Melhor que a merreca de 10 mil é o efeito da condenação. Ela alerta o parlamentar e seus imitadores que a sociedade não tolera mais essa coisa de berrar: “Eu estupro, sim”; “Bato, amarro, cuspo”; “Violento e tá tudo certo”. Para essa gente cabem a pena, a multa, a prisão e a pesada advertência das mulheres: “Chega! Não haverá silêncio nunca mais. Vamos denunciar”.
Bolsonaro recorreu da decisão tomada por unanimidade no STJ. Não quer pagar centavo algum e fará tudo para não entrar na lista dos culpados, já que isso pode atrapalhar a sua vidinha eleitoral. As mulheres – não tenha dúvida, deputado – ficarão nos seus calcanhares.
A batalha que perdemos: na mesma terça-feira, o criminoso Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de prisão em regime fechado por estuprar 37 pacientes no seu consultório médico, seguiu para o apartamento que mantém em Pinheiros, na capital paulista, onde gozará de prisão domiciliar. Sim, usufruirá. São puro deleite a comida, a cama bem-feita, os vinhos, a sessão da tarde na TV…
O argumento do advogado que convenceu a Justiça se estruturou na carência do sistema prisional brasileiro, que não oferece condições para Roger Abdelmassih cuidar dos problemas de saúde. Ora, entre os presidiários há milhares de homens e mulheres tão doentes quanto ele. Ou mais. Com tuberculose, hanseníase, aids, câncer, epilepsia, doenças cardíacas graves. Um sistema carcerário mais humanizado é necessário e urgente. Mas não só para Roger.
Balanço do dia 15 de agosto de 2017: as mulheres estão longe do triunfo e devem permanecer brigando. Um Bolsomito e um estuprador com muitos poderes acabam movendo as montanhas em favor deles.