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A parte que me cabe

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Idealizadora do @namastreta, a jornalista Caroline Apple trilha o caminho da autorresponsabilidade nos relacionamentos

Amor sem borda: é possível amar um ex-parceiro?

Uma reflexão sobre a possibilidade verdadeira e factível de amar o seu ex

Por Caroline Apple
21 jul 2023, 08h47
Caroline Apple reflete sobre a possibilidade de amarmos ex-parceiros.
Caroline Apple reflete sobre o quanto a raiva após um término nos afasta de um verdadeiro processo de superação.  (mussbila (Getty)/Reprodução)
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Este texto não é sobre a antiga ideia de ser amiga do ex-companheiro. É sobre amar verdadeiramente o ex, independentemente da relação estabelecida após o término. Quando o modelo de amor romântico se esvai, geralmente leva consigo todas as outras
“formas” de amar. Não sobra nada daquilo que um dia pareceu ser tudo.

Sinto que isso acontece justamente porque “fragmentamos” o sentimento, como se existisse um de cada tipo. Mas será que amor não é amor em qualquer circunstância? Acredito que não paramos para pensar nisso, porque boa parte das relações termina com muito sofrimento. Pelo menos as minhas foram assim. Sobra pouco espaço para o amor.

É tanta raiva, frustração e ódio despertados, que desejar a real felicidade do outro, à distância, se torna até um ato violento para com as nossas verdadeiras emoções. Seria como colocar a “máscara da resolvida”, se apoiando em uma maturidade fictícia — seja
por medo, vergonha ou indisposição de sentir o desconforto de lidar e aceitar sentimentos que julgamos serem tão baixos.

Recentemente, a vida me presenteou com o término de uma relação que não faltava amor (pois é, relacionamento não tem fórmula mesmo). Digamos que tínhamos tudo para durar mais do que duramos. E acabou. Não vislumbramos o mesmo horizonte em momentos diferentes de vida. Mas o amor nunca esteve ausente e a raiva não se apresentou. Como iria superar esse fim sem a força motriz da fúria?

Caroline Apple

“Me peguei percebendo que terminar no amor é muito desafiador. Talvez a raiva me impulsionaria para uma tal ‘superação’, que sei que não é verdadeira.”

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Me peguei percebendo que terminar no amor é muito desafiador. Talvez a raiva me impulsionaria para uma tal “superação”, que sei que não é verdadeira. Ela deixa rastros e pendências emocionais, mas pelo menos se movimenta. É o preço. Preço que a vida percebeu que eu não estou mais disposta a pagar.

Não quero nada mal resolvido. Então, conheci o melhor amor que tive até hoje. Mesmo assim, não foi o suficiente para dar conta das subjetividades humanas. Ali, nesse contexto, percebi a oportunidade de aprender a amar sem bordas. A assumir definitivamente que amor é amor, apesar do tipo de relação que temos com alguém.

E, pela primeira vez, eu sou capaz de dizer honestamente que desejo felicidade a um ex-namorado. Se seremos amigos, não sei. A única coisa que tenho certeza é que eu o amo, sem borda.

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Um processo que não é nada simples. Vibrar e se alegrar pelos espaços que se abrem dentro de nós, por essa possibilidade de simplesmente amar, é maravilhoso. Porém, os momentos de plenitude se intercalam com os de angústia daquilo que precisou ser
destruído para que esse espaço fosse possível.

Fica entulho por toda parte, mas uma ampla visão de um horizonte que eu não tinha, que é lindo e também apavora. Amar é e sempre vai ser um ato de resistência.

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