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A parte que me cabe

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Idealizadora do @namastreta, a jornalista Caroline Apple trilha o caminho da autorresponsabilidade nos relacionamentos

Você é incrível, mas…

Frase usada para “amortecer” os impactos de um fora pode ser gatilho para dúvidas e culpas — e não precisa ser sempre assim

Por Caroline Apple
24 jun 2023, 18h46
O conhecimento é a chave para não se limitar ao que o outro acha de você na hora do término. (Sacha Moreau/Pexels)
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Da mesma série de “O problema não é você, sou eu”, uma frase bem comum que nós mulheres ouvimos na hora do término de uma relação é: “Você é incrível, mas…”. Está aí um momento de ouro para lapidarmos nosso amor-próprio. Mas, até que essa compreensão chegue, muitas vezes, só nos restam dúvidas e até culpa por sermos incríveis. 

Passei uma vida me sentindo no papel de escolher os rumos dos meus relacionamentos. Porém, há sete anos, abriu-se a temporada de foras. Foi, então, que notei que todos os meus namorados, de uma forma ou de outra, usaram minhas qualidades para tentar amortecer a minha dor diante de uma decisão unilateral.

Essa atitude, que soa incoerente num momento de rompimento, já me fez pensar que não valia a pena ser eu, que seria mais fácil seguir um padrão mediano de conduta e ter a chance de estar com alguém em vez de ser incrível e sozinha. Eu sabia que estava colocando na mão de outra pessoa o meu valor, mas era o que eu sentia naquele momento de imaturidade emocional e desamor. Estava disposta a deixar de ser incrível para não estar só. 

Com um trabalho profundo de autoconhecimento, eu fui reconhecendo minhas características como potências pessoais inegociáveis e me sentindo mais fortalecida, mas é na prática que a gente tem a chance de saber em qual ponto exato estamos da nossa jornada de empoderamento. E tive essa oportunidade recentemente diante do fim do relacionamento com o homem mais doce, talentoso e leal que já passou pela minha vida.

É inegável o desafio de entender que, do outro lado, existe uma pessoa que tem o direito de escolher não estar conosco, mesmo nos considerando incríveis. Estamos todos enfrentando batalhas internas, e sinto que reconhecer isso é o primeiro passo para desassociarmos o nosso valor pessoal das escolhas do outro. 

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É inegável o desafio de entender que, do outro lado, existe uma pessoa que tem o direito de escolher não estar conosco, mesmo nos considerando incríveis

Caroline Apple

Então, hoje, se alguém me diz que sou incrível, mesmo num momento de término de relacionamento, eu acredito e concordo, sabendo que ser assim não me torna imune às dores da vida e que seguirei sendo assim independente de quem esteja ao meu lado, porque é sobre mim ser essa mulher. 

Ser incrível é também reconhecer que relacionamentos são construções subjetivas, que nossa tentativa de controle nos traz mais responsabilidades do que realmente temos sobre os desfechos da relação e que as pessoas têm o direito de dizer não, assim como nós também temos. 

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Mas, independentemente do entendimento que agora tenho sobre essa fala, eu dispenso a “ponderação”: não preciso de ninguém mais me recordando da mulher incrível que me tornei e muito menos afirmando nas entrelinhas que eu ser incrível não foi o suficiente. Porque nunca será, porque não se trata disso, nem o término e nem a manutenção dos relacionamentos. E quando ouvir isso de alguém nessas circunstâncias apenas agradeça e diga: “Você tem razão”.

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