Não acredite em quem te diz que autocuidado é skincare
Sobre o mito de que cuidar de nós mesmas é sempre prazeroso ou envolve milhares de produtos
Nos últimos tempos, tenho achado a palavra autocuidado um tanto quanto desgastada. Não me leve a mal, por favor. Sou uma ferrenha defensora de momentos só nossos, daqueles que a gente consegue se autoperceber, se cuidar, se amar. Mas será que tudo o que nos é colocado como autocuidado, de fato, é? Mais do que isso, será que ele não está mascarado de forma equivocada na nossa rotina?
Eu encaro como autocuidado todos os minutos que eu dedico somente a mim. Do banho ao skincare e à maquiagem todos os dias. Não é esforço, pelo contrário, tem muito prazer envolvido. São momentos em que toco meu rosto, meu cabelo e meu corpo. Olho os meus traços bem de pertinho, observo o que gosto e perdoo os pontos que ainda não consigo amar. À noite, vou me desligando do dia e permitindo que o sono chegue. Um processo muito gostoso.
Bem, então eu deito na cama e passo horas praticando o que descobri recentemente ter sido cunhado com o termo “revenge bedtime procrastination” (procrastinação de vingança em tradução livre). É simples de entender, apesar do nome difícil. São aqueles momentos em que a gente adia o sono ao máximo pra ter a sensação de que estamos fazendo algo com nosso tempo livre e por nós mesmas – tipo ver uma série ou passear no Instagram.
Ao menos para mim, isso é profundamente paradoxal e desgastante, porque me faz feliz por estar distraída, enquanto gera um sono agitado e reduz consideravelmente meu tempo de descanso. Então, eu te pergunto: cadê o meu autocuidado nesse tipo de situação?
O que quero dizer com essa provocação é que praticar o autocuidado nem sempre vai ter apelo comercial, precisar de um creme específico ou render um reels no Instagram. Às vezes, será um remédio amargo, mas que a gente precisa tomar para melhorar. Será aquele “não” dolorido à beça de ser dito. Autocuidado pode ser fazer terapia ou terminar um namoro que não está legal.
A gente precisa enxergar o autocuidado também num caminho difícil, sem glitter e séruns deliciosos envolvidos, mas necessário para o nosso crescimento e para uma vida mentalmente saudável. Ainda que seja uma delícia se jogar nos delírios de consumo (eu amo!), a gente não pode permitir que um momento pessoal se limite à materialidade do que se compra e do que se possui; o autocuidado precisa morar na imaterialidade dos rituais e das decisões que nos tornam felizes de dentro para fora. E eu garanto que uma mente sã e um coração feliz fazem um bem danado para a pele.
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