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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Série mostra juventude de Elizabeth I, com abuso, conspiração e drama

A Starz segue na reavaliação das Rainhas britânicas e chega à Elizabeth I, explorando um período frequentemente ignorado pelo cinema

Por Ana Claudia Paixão
1 jul 2022, 08h39
Becoming Elizabeth
Alicia von Rittberg como Elizabeth I em “Becoming Elizabeth”. (Starz Plus/Divulgação)
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Amo História. Amo biografia. Juntando os dois temas, fico em delírio. A Starz Play tem todo um segmento fascinante, bem novelesco, recuperando as histórias das rainhas britânicas das dinastias York e Tudor e em breve vai passar para a fascinante Catarina de Médicis. Por hora, o conteúdo inédito explora a juventude de Elizabeth I e como os traumas dessa época definiram seu reinado anos depois. Becoming Elizabeth é, portanto, uma série a se prestar atenção.

Para contextualizar. Quando a inglesa Philippa Gregory criou um gênero “ficção histórica”, do qual é considerada “rainha”, abriu a porta para TV de revisitar personalidades marcantes com outra perspectiva. Um dos maiores best-sellers de Philippa, A Outra Bolena, virou série da BBC e depois um filme estrelado por Natalie Portman e Scarlett Johansson (onde reconta as histórias de Ana Bolena e de sua irmã, Mary, que também foi amante de Henry VIII).

A partir desse sucesso, a autora publicou uma série de livros sobre os Plantagenetas, a casa governante que precedeu a dos Tudors. Esses livros foram a base das séries já adaptadas para a Starz, The White Queen, The White Princess e The Spanish Princess. Talvez porque os direitos de A Outra Bolena não estivessem disponíveis, a plataforma pulou essa parte da história indo direto na juventude de sua filha, Elizabeth I, com a série Becoming Elizabeth.

A série agora se distancia do conteúdo de Philippa e é de autoria da dramaturga Anya Reiss, que escreveu algumas peças de teatro bem aceitas pela crítica e é conhecida pelo sucesso EastEnders, da BBC. Becoming Elizabeth também conta com ótimas roteiristas mulheres além de Anya, como Emily Ballou (Taboo), Anna Jordan (Succession) e Suhayla El-Bushra (Ackley Bridge) e faz diferença.

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A narrativa explora o período da adolescência de Elizabeth, quando ficou – por ser filha de uma traidora – distante do trono e no meio da briga sucessória entre seus irmãos, Mary (filha de Catarina Aragão) e Edward (filho de Jane Seymour). Por isso a série descreve que é sobre “a jovem Elizabeth Tudor, uma adolescente órfã que se envolve na política e escândalos sexuais da corte inglesa na sua jornada para garantir a coroa”.

O “escândalo” que a série mostra é verdadeiro e quase custou a vida da futura Rainha porque manchou sua reputação. Sem surpresa, embora citado por historiadores, é o algo que mais tarde a própria Elizabeth I tentou apagar de sua biografia, sem sucesso total. Afinal, sua imagem (e marca) de “Rainha Virgem” não poderiam ser ameaçadas por conta do abuso que passou ainda aos 13 anos.

Becoming Elizabeth
História de Elizabeth I é marcada por abuso, disputas e conspirações. (Starz Plus/Divulgação)

E aqui precisamos mencionar que a série escolheu uma vertente, a do que seria consentimento ou não, mas oficialmente Elizabeth I sempre alegou ter sido vítima e abusada. Tudo aconteceu quando, após a morte de seu pai, foi adotada pela madrasta, Catherine Parr. O ambiente onde deveria ser segura passou a ser um pesadelo quando o marido de Catherine, Thomas Seymour, ultrapassou todas as regras de decoro e teria inclusive abusado sexualmente da menina.

Para aliviar minimamente a temática, a série coloca Elizabeth com 15 anos em vez de 13, o que tecnicamente em tempos modernos, ainda se classifica como estupro. Na época em que ela vivia, teria sido “sedução”. O aparente consentimento da princesa nos jogos sexuais e de poder do casal não alteram o fato, mas é justamente isso que as autoras estão revisitando porque os traumas desse período definiram Elizabeth como adulta.

Becoming Elizabeth
Tom Cullen como Thomas Seymour. (Starz/Divulgação)

A reconstituição de época está maravilhosa. Curiosamente, o papel de uma rainha símbolo da monarquia inglesa está nas mãos da atriz alemã Alicia von Rittberg, que mescla a inocência e curiosidade inerentes da idade da personagem na época, mas igualmente destaca a sagacidade que depois vai marcar o reinado de Elizabeth. Tom Cullen, que ficou conhecido pela série Knightfall, contextualiza o complexo, sexy e vaidoso Thomas Seymour, cuja ambição política era desmedida e imoral. Ele e Catherine Parr (Jessica Raine) se aproveitaram da carência afetiva dos herdeiros de Henrique VIII para controlarem suas posições na Corte. Vale destacar a atuação de Romola Garai como Mary I, a filha de Catarina de Aragão, menos vilanesca do que costuma ser pintada mesmo antes dos anos que a marcaram como Bloody Mary e sim, Bella Ramsay (nossa eterna Lyanna Mormont de Game of Thrones) que dá a inocência certa e triste para a trágica Jane Grey, talvez a maior vítima de toda essa história. Fica aqui meu compromisso de tentar voltar a essas duas mais à frente e listar as séries para “Maratona das Rainhas”. Por hora, ver como Elizabeth se tornou uma grande Rainha, sempre é fascinante.

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