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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Por que 1939 foi o ano de ouro de Hollywood?

Em 1939, pelo menos dois dos maiores clássicos do cinema foram lançados. Nunca antes ou depois Hollywood foi a mesma

Por Ana Claudia Paixão
16 fev 2024, 12h51

É considerado fato histórico que 1939 foi o ano de ouro de Hollywood, quando os maiores clássicos foram lançados, as estrelas eram adoradas e a magia do cinema era a diversão número 1 do mundo. Em comparação, em 2024 a melhor palavra para definir a indústria é incerteza. Por isso, a nostalgia nos faz olhar para o passado com curiosidade: o que aconteceu para que até hoje 1939 seja insuperável?

Há 85 anos, os cinemas receberam nada menos do que um filme novo por dia. Isso mesmo, foram 365 lançamentos, o que nos faz concordar que, independentemente do que tenha sido produzido, dizer que 1939 foi “o melhor de Hollywood” ganha outra perspectiva.

A alta produção (na maior parte, os filmes eram ainda feitos em preto e branco) refletia os anos de prosperidade e paz após a 1ª Grande Guerra Mundial, algo que em setembro daquele mesmo 1939 mudaria com o avanço dos nazistas na Polônia, dando início ao segundo conflito que envolveria o mundo.

Em Los Angeles, os tempos de paz foram sinônimo de lucro e, mais ainda, criatividade e qualidade. Não vamos citar os 365 filmes de 1939, mas relembre apenas alguns clássicos para dar uma noção do que estou falando: O Mágico de OzE O Vento LevouO Morro dos Ventos UivantesAdeus, Sr. ChipsVitória AmargaSó os Anjos Têm Asas, Duas Vida , A Pequena PrincesaNinotchkaA Mulher Faz o HomemNo Tempo das DiligênciasO Corcunda de Notre DameQue Mundo MaravilhosoJesse James entre outros.

Cena de
Cena de “O Mágico de Oz” (Divulgação/Divulgação)

Apenas cinco dos citados aqui foram indicados ao Oscar de Melhor Filme daquele ano, o que faz de 1939 talvez o maior ano de lista de “esnobados do Oscar”.

A maior bilheteria daquele ano foi E o Vento Levou, que até hoje simboliza o que 1939 significou em Hollywood, com toda sua grandiosidade e que, mesmo com críticas, permanece entre os maiores já feitos na história do cinema.

Era comum naquele tempo que um mesmo ator estivesse no elenco de mais de um filme, como Bette Davis, que estava em nada menos do que quatro, ou James Stewart, que estava em dois.

Greta Garbo ria pela primeira vez em um filme, Marlene Dietrich seduzia fãs, Henry Fonda era considerado o melhor em atividade e estava tanto em O Jovem Sr. Lincoln como no western Jesse James, ao lado de Tyrone Power. Aliás, o rei do gênero era ninguém menos do que John Wayne, também em atividade.

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Diretores como Frank CapraJohn HustonErnst LubitschBilly Wilder,Cecil B. de Mille, George CukorHoward Hawks, Leo McCareyGeorge Stevens, Michael Curtiz e Alfred Hitchcock estavam no auge. Victor Fleming estava à frente dos dois maiores filmes do Oscar (O Mágico de Oz e E O Vento Levou). É de deixar qualquer um de boca aberta

.Apenas essa longa lista (incompleta) já tornaria 1939 um ano inalcançável e incomparável. Em parte, especialistas justificam o esplendor como uma das consequências da Guerra na Europa, que ajudou a “importar” as maiores mentes criativas da época, em especial cineastas já fugindo do crescente e perigoso nazismo.

Além disso, os Estados Unidos tinham saído do período da Depressão e, com isso, havia dinheiro circulando, aliado com a busca pelo escapismo que apenas o cinema proporciona, virando uma espécie de santuário onde os problemas e medos ficavam em suspenso por algumas horas e o público era levado para fantasias fantásticas, estrelas de beleza ímpar, drama e comédias, musicais e aventuras.

De alguma forma, o universo não voltou mais a alinhar a prosperidade com o negócio. Criar mundos de imaginação custa caro e os estúdios passaram a ter as contas liderando o processo criativo. Por outro lado, há 85 anos o regime de trabalho era desumano, seguindo um formato de “exclusividade” que parecia eufemismo para escravidão.

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Estrelas eram de ‘posse’ dos estúdios. Bette Davis, uma das grandes daquele tempo, não poderia sair da Warner para trabalhar com um diretor ou ator que estivesse sob contrato com a Fox se não fosse “emprestada” ou “liberada”. Os astros eram propriedade dos executivos.

Os sindicados começaram a se organizar apenas em 1936 e nem todos estavam em atividade em 1939, portanto, as telas tinham beleza, mas os bastidores ainda eram bem sujos.

O segredo de ter um volume tão gigantesco de filmes também estava na agilidade de produção, que não ultrapassava algumas semanas e tinham poucas externas. Sim, os filmes eram mais teatrais, o realismo veio apenas quatro décadas depois, mas ninguém que viveu os anos duros da Depressão buscava ver pobreza ou tristeza nas telas.

E rendia muito: um estudo mostrou que, em 1938, os estúdios americanos arrecadavam nada menos do que 80 milhões de dólares por semana. A fábrica de sonhos nasceu desses números: quanto mais lançamentos, mais resultado nas contas bancárias. Com dinheiro circulando, a liberdade criativa era total.

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Com 1939 sendo o pico de uma fórmula perfeita, na sequência tivemos uma queda, mesmo que gradual. Infelizmente, os magnatas viciados em poder e lucros não perceberam as mudanças externas influenciando o negócio, menos ainda que uma nova Guerra iria parar o mundo novamente. Assim que eclodiu no final de 1939, a Segunda Grande Guerra Mundial acertou involuntariamente seu alvo justamente em Hollywood.

O mercado europeu, que era lucrativo e vital, foi praticamente cortado, pois não havia segurança ou dinheiro para gastar. E, nos Estados Unidos, o Congresso americano passou a controlar o negócio, proibindo o que no meio se chama de “reserva em bloco”, o sistema que permitia que os grandes estúdios agendassem os cinemas conforme sua conveniência, não permitindo concorrência direta.

A influência da Guerra interferiu no que era produzido pois estrelas se alistaram, os negócios passaram a ser organizados e muitos filmes foram feitos para propaganda política, o oposto da liberdade artística que marcou a década anterior.

Acelerando a máquina do tempo em 85 anos, é até triste comparar números e perspectivas. Claro que em 1939 o volume foi alcançado em cima de condições abomináveis de contratos e abusos por parte dos estúdios, e não havia diversidade. Além disso, filmes coloridos eram poucos porque a tecnologia era cara e recém criada!

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Seria de esperar que os avanços ajudariam a baratear, mas foi o contrário. Vivemos dias nos quais Inteligência Artificial é vista por muitos como uma ameaça criativa para o cinema. Nos últimos quatro anos, o mundo passou por pandemias e vive uma recessão internacional, além disso, duas greves em Hollywood sacudiram os frágeis modelos de negócio.

Executivos encontram na fusão de estúdios uma tábua de salvação para um mercado que move bilhões, mas ainda assim está em crise. Agora, é preciso convencer as pessoas a voltarem a ir ao cinema. A TV, computadores e os telefones disputam a atenção e investimento dos usuários. Em 1939 o rádio tinha força, mas o cinema tinha as imagens.

Os custos de vida também são muito mais altos hoje, com os preços dos ingressos demandando uma pausa para quem não tem orçamento para manter a frequência dos anos anteriores. Com isso, a possibilidade de poder ver de casa ficou mais atraente e as plataformas usaram dessa estratégia, o que ainda está dividindo artistas e executivos sobre a melhor alternativa. É fato, porém, que entre cinema e TV em vez de meses ou anos, esperamos semanas ou dias.

A prioridade de Hollywood é resgatar o lançamento nos cinemas sem abandonar o streaming. De alguma forma, quem perde o fôlego são os independentes, porque grandes orçamentos para grandes produções têm sido o que funciona para as grandes telas, mas é obvio que são os “menores” que usualmente têm maior ousadia artística, e o cinema tem esse papel de inovação.

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Em 2023, Barbie arrecadou mais de 600 milhões em todo o mundo e Oppenheimer mais de 300 milhões, mas mal se fala dos outros títulos em cartaz.

Para 2024, teremos pouco mais de 50 lançamentos, incluindo continuações e filmes indo direto para plataformas, nenhum que grite ‘clássico’ e poucos que possam fazer as bilheterias sacudirem. Desanimador, sem dúvida.

Pelo visto, nem Inteligência Artificial consegue recuperar a produtividade dos grandes. Assim, 1939 segue sendo o inigualável ano do cinema. Uma lenda. Uma memória. Um sonho.

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