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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Marilyn Monroe: a injustiça paradoxal de Hollywood

Atriz lendária esteve uma única vez na festa da Academia, mas os filmes sobre sua vida rendem indicações que ela jamais recebeu como atriz

Por Ana Claudia Paixão
10 mar 2023, 10h17

As histórias de Oscars passados, especialmente os muito antigos, são geralmente mais curiosos pois, com a passagem do tempo, algumas coisas ganham perspectiva. Por exemplo, Marilyn Monroe efetivamente nunca alcançou o respeito de seus colegas como atriz e até o final de sua curta vida ainda acumulava ressentimento de muitos deles por isso.

A rejeição afetou diretamente a autoestima e segurança profissional da atriz e, nesse cenário, sem surpresa, ela jamais foi indicada a um prêmio da Academia, estando na festa uma única vez, em 1951, para apresentar a categoria de Melhor Edição de Som.

Ironicamente, duas das atrizes indicadas ao prêmio de Melhor Atriz em 2023 receberam elogios por interpretá-la: Ana de Armas em “Blonde” Michelle Williams, que esse ano está indicada por “Os Fabelmans”, mas em 2011 estava na festa por “Sete Dias com Marilyn”. Ou seja, em sua injustiça clássica, Hollywood reconhece quem imita Marilyn, mas não valorizou a lenda em vida.

Mas vamos colocar em perspectiva: em 1951, Marilyn ainda não era a “Marilyn”, apenas uma estrela em ascensão. Estava, no entanto, no elenco do filme que tinha nada menos do que 14 indicações naquela noite, o clássico “A Malvada”, estrelado por Bette Davis. Uma das categorias pelo qual o filme venceu foi a anunciada por ela, que sorriu orgulhosa ao abrir o envelope.

O modelo escolhido por Marilyn para aquela noite é um dos mais bonitos que já vi na festa, embora aparente ser mais discreto e bem diferente dos outros modelos glamurosos que destacam a sensualidade da estrela. Talvez porque mais tarde os modelos tenham sido feitos “para Marilyn” o que estava longe de ser o caso em 1951. A atriz pegou o vestido emprestado do departamento de guarda-roupa da Fox, onde estava guardado desde que foi usado pela atriz Valentina Cortese no filme noir “Terrível Suspeita”, gravado apenas alguns meses antes.

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O modelo de tule preto foi assinado pelo estilista Charles LeMaire, que “caprichou” no decore ‘coração’, usando uma camada de tule para disfarçar o que estava em destaque, podendo ser usado sobre os ombros ou puxado para baixo. Como uma estrela sem brilho seria errado, Charles usou lantejoulas para iluminar os muitos metros de tecido da saia. Ficou lindo.

Mas como falar de Oscar sem drama? Pouco antes de subir ao palco, Marilyn notou que a saia estava rasgada e obviamente ficou nervosa, afinal era um vestido emprestado e estava precisando da ajuda de uma costureira de plantão, que consertou o dano antes dela entrar no palco. Quem a vê entrando maravilhosa, jamais imaginaria as lágrimas de nervoso minutos antes. Quem diz que ela não era boa atriz?

história do batom vermelho - Marilyn Monroe
Marilyn Monroe transformou o batom vermelho em símbolo de sensualidade (Baron/Hulton Archive/Getty Images)

Infelizmente, interpretar Marilyn ainda não resultou em ganhar um Oscar, mas deixa as atrizes mais perto. Em 2011, Michelle Williams entrou na lista das mais elegantes da noite e até chegou a ser uma das favoritas para o prêmio, mas perdeu para Natalie Portman em “Cisne Negro”. Dificilmente Ana de Armas terá alguma chance por “Blonde”, especialmente diante do favoritismo de Michelle Yeoh em 2023. Estou no grupo das que de-tes-tou o filme, mas que ficou apaixonada pelo trabalho de Ana de incorporar Marilyn. Assim como Austin Butler ‘foi’ Elvis Presley, é difícil separar a Ana da verdadeira estrela quando se coloca fotos ou filmes lado a lado. Sua inclusão no grupo das indicadas acabou sendo “a” premiação, mas, tortuosamente, mais uma vez “Marilyn vai perder”.

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Não adotando nenhuma bandeira, mas acho que falta uma mulher para fazer a obra definitiva sobre a maior estrela que Hollywood produziu. Sim, “Blonde” é um livro de uma autora feminina, mas uma que usou apenas a trajetória para ressaltar outros problemas da indústria, para criar ficções quase criminosas e deturpar uma pessoa que já teve uma vida amargurada. Tanto “Blonde” como “Sete Dias com Marilyn” tem uma mão masculina forte na narrativa, uma que a sufoca em memória como sufocava em vida, a colocando na caixa de desequilibrada, abusada e em constante crise.

Não estou dizendo que Marilyn era o pilar de saúde mental, longe disso, mas tento ouvi-la em suas entrevistas, sempre cândidas, com excelentes análises e uma dor da incompreensão muito clara. Em sua última entrevista ela fez um único apelo – “Não me faça parecer uma piada” – e, infelizmente, 61 anos depois de sua morte, seguimos surdos para verdadeira Marilyn Monroe.

Diante dessa injustiça, vendo que pela segunda vez quem a interpreta tem reconhecimento, me dá uma esperança que em um dia breve, finalmente, Marilyn tenha sua voz ouvida e seu desejo puro e simples de ser respeitada e reconhecida, seja alcançado. Não será em 2023…

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