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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Entrevista: música de Hildur Guðnadóttir é destaque em A Noite das Bruxas

Compositora, que venceu o Oscar em 2020 por Coringa, fala com exclusividade sobre experiência de trabalhar com Kenneth Branagh

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 8 set 2023, 09h12 - Publicado em 8 set 2023, 09h11
A compositora Hildur Guðnadóttir
Hildur Guðnadóttir foi a terceira mulher a vencer um Oscar por seu trabalho em Coringa (Gerald Matzka/Getty Images)
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Quando Kenneth Branagh começou a trabalhar em seu terceiro filme como Hercule Poirot, depois ter filmado os clássicos “Assassinato no Expresso Oriente” e “Morte no Nilo”, ele queria realmente se afastar do estilo Agatha Christie ‘tradicional’ e apostar em algo novo.

Entre as mudanças radicais estava na trilha sonora de “A Noite das Bruxas”, que, pela primeira vez, está com a oscarizada e popular Hildur Guðnadóttir, a terceira mulher a vencer um Oscar por seu trabalho em Coringa.

Tina Fey, como Ariadne Oliver, e Kenneth Branagh, como Hercule Poirot , em 'A Noite das Bruxas'
Tina Fey, como Ariadne Oliver, e Kenneth Branagh, como Hercule Poirot , em ‘A Noite das Bruxas’ (20th Century Studios/Divulgação)

Até então, Branagh trabalhava sempre com seu amigo, Patrick Doyle (que já entrevistei há muitos anos e de quem sou fã de carteirinha), que inclusive é o autor da trilha de “Frankenstein”. Por que cito isso? Simples. Primeiro, “Frankenstein” foi uma das primeiras tentativas do diretor no gênero terror, e com “A Noite das Bruxas” ele flerta com uma história de sustos e fantasmas. E, confie em mim, a música é tudo para ajudar a criar o clima em mais um excelente trabalho de Hildur.

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Com essa longa introdução, confesso que estava animada quando surgiu a oportunidade de bater um papo rápido com a compositora, que mora em Berlim. Ela também assinou a trilha sonora de “Tár” no ano passado (com outra indicação ao Oscar) e a personagem de Cate Blanchett faz uma referência à ela, num momento de metalinguagem.

Hildur, além de compositora, é violoncelista e cantora, e trabalha com a vanguarda do pop experimental e música contemporânea. Sua “assinatura” é, obviamente, uma música voltada para o violoncelo, o que ficou particularmente perfeito em “A Noite das Bruxas”, porque pode ser intimista e grandiosa ao mesmo tempo, exatamente como o diretor a pediu.

Poster do filme A Noite das Bruxas
O filme é a mais recente adaptação de Agatha Christie dirigida por Kenneth Branagh (20th Century Studios/Divulgação)

De seu apartamento em Berlim, Hildur conversou exclusivamente com CLAUDIA sobre seu novo desafio. Confira a entrevista na íntegra:

CLAUDIA: Oi! Temos alguns poucos minutos então vou direto ao ponto: nos filmes de Kenneth Branagh, a música sempre tem muita influência no storytelling. Como foi trabalhar com ele?

Hildur: Foi incrível porque ele é generoso, gracioso e um ser-humano maravilhoso. É ótimo também porque ele sabe exatamente o que quer e é direto. Outra coisa que adorei também é que ele transparente sobre o que está fazendo, sobre a visão que tem de seu filme. Gosto de diretores como ele, inabalável, mas aberto para sugestões. Ele me deixou realmente participar de verdade.

CLAUDIA: Como foi a essa dinâmica?

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Hildur: Ele me deu um roteiro muito específico do que queria, do que era sua visão para o filme, mas depois disso ele entregou e deixou tudo nas minhas mãos. E me disse “Faça o que quiser” e isso é ter uma grande confiança e algo muito generoso. Foi realmente um grande prazer trabalhar com ele.

Kenneth Branagh como Hercule Poirot em 'A Noite das Bruxas'
Kenneth Branagh como Hercule Poirot em ‘A Noite das Bruxas’ (20th Century Studios/Divulgação)

CLAUDIA: Branagh sempre fez uma parceria com Patrick Doyle e em A Noite das Bruxas trabalha pela primeira vez com você. Como foi essa troca?

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Hildur: Nós nunca falamos sobre isso! (risos) Mas ele sempre quis, do dia 1, que esse filme fosse diferente dos dois outros filmes [os dois que ele fez Poirot], queria uma direção oposta deles e um dos elementos principais que marcariam essa mudança era a trilha sonora. Por isso musicalmente não tenho nenhuma referência dos filmes anteriores e não busquei em nada ficar no mesmo campo.

CLAUDIA: A música nos deixa bem tensos, ansiosos em A Noite das Bruxas. Quais instrumentos você considera que nos ajudam a ter “mais medo”? (risos)

Hildur: Bom, ajuda que na história há uma jovem garota que toca violoncelo e vemos o instrumento em alguns momentos. Como é justamente meu instrumento principal portanto tive uma conexão fácil com ela! (risos)

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CLAUDIA: Mas há mais orquestração…

Hildur: Sim, mas Ken [Kenneth Branagh] foi muito claro que queria uma orquestração ‘pequena’, sem muitos instrumentos.

CLAUDIA: Por alguma razão especial?

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Hildur: Porque ele queria uma sensação claustrofóbica, de um ambiente fechado e desde o início eu sabia que não haveria aquele momento arrebatador de uma orquestra completa. Por isso, para deixar no ambiente mais obscuro é como uma peça de câmara. (Nota: quando Hildur cita isso é porque esse tipo de composição pode ser executado em salas pequenas, sem instrumento solo, em um ambiente íntimo)

CLAUDIA: E você foi influenciada por compositor em particular?

Hildur: Tem tantos e incríveis! Mas quando trabalho faço um esforço justamente de não ouvi os para não ser influenciada! [risos], para A Noite das Bruxas busquei ouvir compositores italianos do período da história e fiquei longe dos compositores de trilha sonora [risos]. Ouvi compositores que fizeram parte desse tempo de transição no qual o filme acontece: pré e pós-guerra. E foi onde concentrei minha atenção musical.

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