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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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A mulher com mais Oscars: Edith Head

A figurinista icônica tem nada menos do que oito Oscars e 35 indicações, ficando atrás apenas de Walt Disney

Por Ana Claudia Paixão
10 mar 2024, 17h56
Edith Head
A figurinista Edith Head ganhou oito estatuetas do Oscar em uma carreira ímpar no mundo do cinema (Mark Sullivan/Getty Images)
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Se você acompanha minha coluna aqui em CLAUDIA sabe que amo conversar com figurinistas e adoro uma nostalgia. E essa combinação nasceu também pela minha admiração pelo trabalho de uma lenda em Hollywood: Edith Head.

Ninguém vai conseguir ultrapassar o recorde de Walt Disney como a pessoa que ganhou mais Oscars na vida. Foram 26: quatro deles honorários e 22 vitórias em 59 indicações (outro recorde). No entanto, entre as mulheres, há alguém que supera Katherine Hepburn e que é justamente a figurinista Edith Head, que ganhou nada menos do que oito estatuetas do Oscar em uma carreira ímpar no mundo do cinema. Teria tido mais, pois o Oscar de Figurinos só foi criado em 1948.

O primeiro Oscar da figurinista, que é responsável por inúmeros clássicos nas telas foi em 1949, por Tarde Demais para Esquecer (The Heiress) e o último foi há 51 anos, em 1973, por Golpe de Mestre (The Sting). pouco antes de sua morte, em 1977. Em 5 décadas e mais de 400 filmes, Edith Head foi indicada 35 vezes e suas 8 vitórias a colocam como a maior vencedora depois de Disney.

A baixa estatura e a grande personalidade

Num mundo comandado por egos gigantescos, a pequena mulher que mal tinha um metro e meio de altura, era gigante e respeitada. Edith agradava a gregos e troianos, tinha mão de ferro e foi a última figurinista a ter um contrato anual com um estúdio.

As versões da figurinista sobre sua juventude e passado eram incompletas e variadas, mas o New York Times creditou sua origem como nascida na Califórnia, em 1897. Curiosamente, se dedicou ao estudo linguístico em vez de moda. Se formou em francês em Berkeley, em 1919, e concluiu um mestrado em línguas românicas em Stanford, em 1920. Passou a ensinar francês (ou espanhol dependendo da fonte) em escolas particulares para mulheres na Califórnia, mas rapidamente se entediou e foi para Hollywood.

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Edith sabia cortar, prender e armar, mas não sabia costurar na máquina – apenas à mão. A lenda conta que ela decidiu arriscar uma carreira no cinema quando viu um anúncio de uma vaga de desenhista na Paramount. Em vez de levar algo próprio, na entrevista “inocentemente” apresentou um portfólio de trabalhos “emprestados” de colegas do curso de desenho. O designer-chefe do estúdio, Howard Greer, logo percebeu a mentira, mas ainda assim a contratou. Talvez pela ousadia?

Em 13 anos ela o substituiria e ao longo dos anos Edith voltaria a ser criticada por assinar trabalhos de outros designers, mas ficaria na Paramount por 44 anos. Poderia ser pequena, mas ali estava um monstro criativo

A assinatura pessoal inconfundível

A carreira de Edith Head na Paramount foi relativamente rápida. Em 15 anos era a Chefe do Departamento e se nas telas seus looks eram variados, pessoalmente logo estabeleceu sua assinatura inconfundível: franja, coque, terno de duas peças (em geral, cinza) e óculos de tartaruga redondos com lentes azuis (usados assim porque nos tempos dos filmes Preto e Branco ajudavam a perceber como as cores seriam fotografadas). Ficou tão icônico que foi inspiração para várias personagens anos depois, como Edna Moda de Os Incríveis.

Descrita como tendo “rosto simples e estilo afetado e imutável”, trabalhou em equipe para filmes ainda do cinema mudo, até que, em 1933, assinou sozinha os figurinos de Uma Loira para Três (She done him wrong), estrelado por Mae West. A atriz teria pedido à Edith que seus vestidos fossem “apertados o suficiente para mostrar que sou uma mulher, mas soltos o suficiente para mostrar que sou uma dama”, e a partir daí até o público passou a identificar o nome da figurinista, tanto que creditam a ela ter lançado a a mania dos sarongues nos anos 30, quando desenhou os figurinos para Dorothy Lamour em Princesa da Selva, em 1936. Em uma tentativa de humildade alegou que seus trabalhos eram “quase acidentais”, nada tão calculado. “Não estou criando estilos ou moda,” disse em uma entrevista.

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Edith Head não foi designer de alta-costura e dizia que seu trabalho era “um cruzamento entre camuflagem e reconstrução”. A meta era esconder as falhas e destacar a beleza das estrelas, e a precisão de seu trabalho era justamente garantir que o público nunca veria os detalhes que faziam parte da perfeição. Como gostava de lembrar, tinha que atender aos gostos dos produtores, diretores e atores antes dos seus.

Reconhecimento e o 1º Oscar

Adorada e temida pelas estrelas, a mão de ferro de Edith Head começou a ter fama logo no início. O Oscar, criado em 1927, só passou a ter uma categoria de Figurinos em 1948, e claro que ela estava entre as primeiras indicadas, por A Valsa do Imperador, mas perdeu para Dorothy Jeakins e Karinska com Joana D’Arc.

partir de 1949, no entanto, Edith Head começou sua coleção ganhando pelo lindo trabalho de Tarde Demais para Esquecer (The Heiress), que também rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Olivia de Havilland. E mais: como a categoria era dividia em Preto e Branco e Filmes Coloridos, foi indicada em mais de uma produção na mesma noite, como em 1950, quando ganhou tanto por A Malvada (All About Eve) como por Sansão e Dalila.

Ligação com Grace Kelly, conflitos com Audrey Hepburn

Edith Head era amada e odiada pelas estrelas, mas raramente falava delas. Soube-se mais tarde que não gostava de trabalhar com Claudette Colbert, Hedy Lamarr ou Paulette Goddard, mas, na época, proibia fofocas em ambiente de trabalho.

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Duas das mais icônicas referências de Moda no cinema, Audrey Hepburn e Grace Kelly ficaram famosas nas telas usando roupas de Edith Head, mas, com a futura princesa de Mônaco, a conexão foi mais forte e foi com um vestido azul criado para ocasião que Grace recebeu seu Oscar de Melhor Atriz em 1954. O ‘desfile’ de figurinos deslumbrantes de Janela Indiscreta é de Edith que abertamente reclamava de ter perdido o Oscar por um de seus trabalhos favoritos com a atriz, Ladrão de Casaca (How to Catch A Thief).

Já com Audrey foi um tanto mais complexo. As duas se conheceram no filme A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday), que deu à atriz o Oscar de 1953, e onde Edith se “inspirou” nos modelos de Christian Dior para criar as roupas do filme. A europeia Audrey era mais familiarizada com o mundo da alta-costura e por isso bem mais exigente do que as colegas americanas. “Suas provas são do tipo dez horas, não dez minutos”, Edith escreveria mais tarde sobre a estrela. “Ela acrescentou algumas de suas preferências aos esboços: decotes mais simples, cintos mais largos”, comentou.

Mas foi em Sabrina que surgiu o conflito entre elas quando Edith Head não abriu mão dos créditos no filme, embora os vestidos de Audrey Hepburn fossem de Hubert de Givenchy. Para piorar, quando venceu o Oscar por Cinderela em Paris (Funny Face), a figurinista não fez nenhuma referência ao trabalho dele, assumindo crédito pelo conjunto. Depois disso, por exigência contratual de Audrey, o estilista francês passou a ser creditado separadamente como o responsável pelas roupas da atriz.

Para quem acompanhava como começou a carreira não chega a ser surpresa que o ego de Edith Head fosse o dobro de sua altura. Ela já tinha tido problemas com Oleg Cassini (que mais tarde projetaria o guarda-roupa de Jacqueline Kennedy na Casa Branca) quando ele começou a se destacar na Paramount, onde foi contratado como designer adicional. Assim que foi possível, ela convenceu ao estúdio que poderia lidar com todas as responsabilidades sem ele.

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Uma das lendas mais divertidas sobre Edith Head foi o fato de ter mandado fazer uma estante em seu atelier onde colocou os oito Oscars justamente bem visíveis, uma forma de fazer as estrelas pensarem duas vezes antes de se considerarem aptos a fazer “sugestões” em seus figurinos, ou como ela preferia dizer, servia para “colocar atrizes e atores difíceis em um clima mais tranquilo. É impossível (para eles) olhar para oito Oscars e dizer: ‘Agora, olhe, Edith…’ “, ela explicou. Icônica!

Tão famosa como as estrelas que vestia

Sem ser atriz, ou diretora ou roteirista nem mesmo produtora, Edith Head era tão reconhecida como seus colegas, um privilégio de poucos profissionais “de bastidores”. Tenho particular paixão por figurinos de filmes e séries inspirada por seu trabalho no tempo auge do cinema.

A figurinista quebrou outro tabu quando, aos 70 anos, mudou da Paramount para a Universal Pictures, e seguiu não apenas trabalhando – tanto para TV como para o Cinema – colecionando prêmios. Recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood em 1974 e ficou ativa literalmente até sua morte, em 1981.

Complexa, mas talentosa, Edith Head é lendária com razão. Defendia a simplicidade acima de tudo. Escreveu livros, deu palestras. Frases como “Você pode ter qualquer coisa no mundo se usar o vestido certo” alimentam sua fama.

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Entre suas peças mais famosas estão a saia de vison, forrada com lantejoulas rubi e douradas de Ginger Rogers em A Mulher Que não Sabia Amar (Lady in the Dark), em 1944, e o vestido verde e branco de Elizabeth Taylor em Um Lugar Ao Sol, (A Place in the Sun), em 1951. Claro, tem todos os vestidos já citados de Grace Kelly, mas as 17 trocas de figurino de Natalie Wood em O Último Casal Casado na América, em 1980, que incluíram roupas para discoteca, futebol americano e corrida foram citados como um exemplo de como mesmo a um ano antes de sua morte, em um de seus últimos trabalhos, Edith provou ainda estar antenada. Seu último Oscar, no entanto, foi em 1973, por Um Golpe de Mestre (The Sting).

Ela foi casada por 40 anos com Wiard B. Ihnen, o diretor de arte vencedor do Oscar em 1945 por Sangue Sobre o Sol, que faleceu dois anos antes dela. Faleceu a poucos dias antes de seu aniversário de 80 anos, por mielobibrose mieloide, uma doença rara da medula óssea. Mesmo mais de 40 anos depois, a pequena mulher de forte personalidade mantém seu recorde de vitórias, uma que demanda o respeito e confirma a grandiosidade de sua Arte.

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