Arte e boas energias: Rita Batista abre as portas de seu lar em Salvador
Moradora (e entusiasta!) do centro de Salvador, a apresentadora do 'É de Casa' enxerga a moradia como uma extensão de sua personalidade
Impossível não se sentir à vontade ao atravessar a porta da casa de Rita Batista. De praxe, todo visitante recebe das mãos da anfitriã uma lembrança de boas-vindas: uma etiqueta com os dizeres Casa da Sorte. A letra cursiva é de sua mãe, e o nome faz referência ao título dado à sua moradia em Salvador.
“As minhas casas sempre tiveram nome. Quis nomear esta assim porque toda casa é da sorte, não importa a configuração. É uma sorte ter um teto, seja próprio ou alugado. O lugar que você habita é seu, mesmo que momentaneamente”, diz a apresentadora.
Em seus 19 anos de carreira, Rita, que é formada em publicidade e propaganda, foi motivada pelo frio na barriga causado pelo ao vivo. Estar à frente da reportagem, no rádio ou na televisão, foi sua vontade desde o início. “Sempre soube que seria apresentadora, não tinha dúvidas. Às vezes, as pessoas acham que o repórter só faz o ao vivo. Mas estar no ar é a parte mais ‘fácil’, existe todo um trabalho prévio de apuração feito durante a semana”, conta a jornalista.
Ela, que já passou por grandes emissoras de rádio e TV em Salvador, sua cidade natal, se divide entre São Paulo e Rio de Janeiro durante as diárias de apresentação do É de Casa, programa das manhãs de sábado da TV Globo, apresentado pela jornalista baiana e também por Maria Beltrão, Talitha Morete e Thiago Oliveira.
Apesar de ter se instalado em São Paulo para administrar melhor o tempo que a profissão exige, uma grande parte sua permanece na capital baiana, local em que mantém seu lar e sua família. A rotina desde sempre agitada e preenchida por pontes aéreas é contraposta pelo sossego dessa casa histórica. Com janelas generosas e um portão instalado direto para a calçada, o clássico sobrado foi a escolha de Rita para passar mais tempo de qualidade na região central de Salvador.
A mudança ocorreu no final de 2020, quando o apartamento onde vivia tornou-se pequeno — à época, Rita vivia com o ex-marido, Marcel Suzart, e o filho deles, Martim, de 4 anos. “A propriedade fica ao lado da Mahikari, templo da prática espiritualista japonesa da qual Marcel e eu fazemos parte. Então, já a conhecíamos de vista, mas ainda sem pretensão”, relembra.
“Com a pandemia, todas as percepções da vida foram modificadas. Quis tornar o momento de ficar em casa mais aprazível. Gostamos dela cheia”, detalha. E foi nessa moradia, no bairro dos Barris, que se instalou para viver a cidade mais de perto.
“Muita gente foge do conceito de casa de rua, porque há intempéries de morar num lugar localizado nesse contexto. Tem dias que vizinhos mais empolgados dão festas até altas horas, gente que vem aqui na porta namorar…”, diz com bom humor, sem se importar com as peculiaridades desses eventos.
“Os centros das cidades carregam um estigma, mas acredito que precisamos habitá-los. Quanto mais gente morando, circulando e consumindo por aqui, mais os olhares se voltam para essa parte das capitais e fazem com que o poder público invista em segurança e infraestrutura”
Aliás, é exatamente no meio dos acontecimentos que escolheu estar, já que defende o aproveitamento do centro da cidade. “A agonia de morar no centro existe, por conta da segurança. Mas eu penso justamente o contrário, é preciso ocupar e movimentar esse espaço”, explica.
Para Rita, outra vantagem de estar na região é a possibilidade de frequentar o que está disponível. “Eu adoro um comércio popular! Sou a musa da Avenida Sete [de Setembro]”, conta ela, referindo-se à agitada via. “Frequento a Rua Carlos Gomes, onde o trio elétrico dá a volta, o Velho Espanha, um bar centenário na esquina de casa… Gosto de fazer tudo a pé e conhecer os vizinhos.”
BOM, BONITO E ÚTIL
Cada ângulo da Casa da Sorte imprime o alto astral de Rita. Seu otimismo aparece nas escolhas dos móveis garimpados, na pluralidade dos artistas que assinam os quadros e as obras, e no macramê que faz a vez de cortina. Sua leveza está ainda nos rabiscos feitos pelo pequeno Martim, que adora usar as paredes como tela. “Tem famílias que dão canetas especiais para a criança, ou determinam onde pode desenhar. Eu não ligo, daqui a pouco ele cresce e não vai querer riscar mais nada.”
As plantas também não são um apego — as espalhadas pelo lar foram trazidas por sua mãe. “Eu cresci na casa de minha avó, em Periperi, no subúrbio de Salvador, e uma das minhas obrigações era molhar as infinitas plantas dela com uma mangueirinha. Levava quase uma hora, acho que por isso não sou do rolê das plantas, mas minha mãe é”, relembra dando risada. “O que tenho, por uma questão mais candomblecista, é a espada-de-são-jorge, que adoro e não exige tanta manutenção.”
Se as plantas não cativam, com os garimpos acontece o oposto. Seus xodós são uma coleção de figas de madeira e livros raros de arte, tudo de segunda mão. “Tem gente que investe em carro, bolsas… Eu gosto de livros”, fala sobre suas preferências. Os achados ainda se estendem para móveis clássicos que dão personalidade ao espaço, como um baú do século 17 arrematado pela jornalista.
“Eu divido essa paixão por antiguidades com meu colega Fabricio Battaglini”, diz ela sobre o repórter global e dono do perfil @antigoepronto, que traz uma curadoria de peças das décadas passadas. “Ele tem um olhar semelhante ao meu, e compramos dos mesmos lugares em São Paulo. Às vezes, você acha uma peça com potencial que as pessoas dão de ombros.”
“O second hand é um caminho para conseguirmos dar um jeito de viver mais tempo neste planeta, senão a conta não fecha. Ficamos preocupados com coisas macro e não damos conta do mínimo, de reajustar o próprio consumo”
Na casa, apenas uma regra imposta por Rita: absolutamente tudo precisa ser utilizado. “Sou muito prática. As coisas da minha casa já foram testadas e aprovadas por gerações, só faço esse combo do bom gosto. Aqui, todo mundo senta à mesa, sem exceção, e não tem esse negócio de ‘não pega aí porque é a louça de não sei da onde’. A vida é hoje e meu tempo é agora, as ocasiões especiais surgem a todo momento. Tudo tem que ser frequentado, permitido e ventilado pelas pessoas.” Está aí um bom conselho para levar para a vida…