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Por que dívidas dos funcionários devem ser preocupação da empresa?

Saúde financeira, ou melhor, a falta dela, é uma das situações de maior impacto na vida das pessoas e, consequentemente, no trabalho delas

Por Natalia Lima
26 Maio 2021, 12h00
Ilustração de mulher voando com asas de notas de dinheiro
 (VectorMine/Getty Images)
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Q

ue a pandemia da Covid-19 transformou o cenário econômico do nosso país e do mundo, não há dúvidas. Se, antes disso, o brasileiro já sofria com o endividamento e os juros pessoais altos, a pandemia exerceu um papel avassalador.

Temos uma taxa de desemprego recorde (13,5% em 2020) e um grande percentual de famílias com dívidas (66,3% em dezembro de 2020). Sabemos, por uma pesquisa recente*, que 64% dos brasileiros vivem no limite do orçamento, e que 52% deles não possuem uma reserva de emergência.

Como consequência das reações do Governo nos últimos meses e de termos uma população carente de planejamento e educação financeira, cresceu o medo de que o dinheiro não dure até o final do mês e também subiram as dívidas – na maioria das vezes, a única saída para garantir o sustento. Além disso, ainda que o funcionário tenha mantido o emprego, os gastos não planejados aparecem com maior frequência.

Essas dificuldades financeiras tão familiares a muitos de nós geram o que chamamos de estresse financeiro, condição que afeta a saúde mental e a produtividade. Do outro lado, as empresas, também impactadas pela crise, veem queda de perfomance e absenteísmo de seus funcionários.

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Em pesquisa feita pela consultoria PwC no ano passado, 54% dos entrevistados afirmaram que a questão financeira é a principal causa de estresse para eles. Em 2019, 35% relataram que problemas com finanças eram motivos de distração no trabalho. Outro dado alarmante é que 49% dos funcionários que sofrem com problemas financeiros relatam gastar 3 horas ou mais, por semana, no trabalho, lidando com eles – o equivalente a 20 dias ao ano. Segundo um estudo de 2019 da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, 87% das pessoas ouvidas usariam o 13º salário para quitar dívidas – número que cresce ano a ano.

Isso nos faz refletir sobre a responsabilidade do empregador, que tem a oportunidade de realmente fazer a diferença na vida de seus colaboradores. Não é apenas um ganho para a empresa, mas uma questão de empatia, visto que ele pode ser, naquele momento, a única fonte de auxílio de alguém do time.

Benefícios financeiros são agora, mais do que nunca, essenciais para que todos tenhamos mais tranquilidade e concentração. Permitir que alguém trabalhe sabendo que existem alternativas e também uma rede de segurança em casos de necessidade pode fazer toda a diferença – além de que, muitas vezes, não tem nenhum custo para a empresa.

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Com essas questões tão relevantes, ganhou força uma linha de pensamento bastante popular em outros países: por que fazemos as pessoas trabalharem um mês todo (ou ano, no caso do 13º) para só depois receber seu pagamento? Por que não liberar para que cada um faça a gestão de sua renda proporcional ao trabalho exercido? Sabe aquela vez que você precisou de um valor no meio do mês e fez as contas para saber quantos dias faltavam até o pagamento do salário? E se desse para evitar isso? O sistema existente hoje na maioria dos lugares funciona como um financiamento ao empregador por parte dos seus colaboradores, via trabalho e salário. Esse modelo nem sequer é questionado.

Conhecido como salário sob demanda, o benefício citado acima, com casos muito impressionantes, pode contribuir para a segurança financeira do colaborador, apresentar uma alternativa ao endividamento e também facilitar a organização pessoal de cada um – inclusive caso ele opte por não movimentar esse salário, se não houver necessidade ou vontade.

Pesquisas de empresas que fazem isso fora do Brasil, como a PayActiv, revelaram que o salário sob demanda permitiu que 38% dos colaboradores evitasse o pagamento de multas por atraso de contas, por exemplo, e 31% deles evitaram o pagamento de taxas de juros do cheque especial. O resultado também é visível no engajamento: 81% deles têm maior tendência a permanecer no emprego por causa do benefício.

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Para mim, a empatia passa também pela saúde financeira. E concordam comigo 92% dos colaboradores que afirmaram que empresas que oferecem assistência de emergência financeira são mais empáticas, segundo outra pesquisa**. O estudo mostra também que 93% dos colaboradores estão propensos a continuar em uma empresa empática. Portanto, ao mesmo tempo em que ajuda, a companhia melhora o ambiente e garante a retenção de talentos.

O estresse financeiro é um problema unânime no Brasil de hoje, e já está afetando a saúde física e mental de muita gente. Há formas de ajudar, mas todas passam pela vontade de contribuir com o próximo e de buscar soluções viáveis – muitas vezes, elas estão mais perto e são mais fáceis do que imaginamos.

*Indicador de Bem-estar Financeiro do Brasileiro, CNDL/SPC Brasil e CVM, 2019 **The State of Workplace Empathy – Special Report, Businessolver, 2020

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Natalia posa sorridente com os braços cruzados
(Foto/Divulgação)

Natalia Lima é CFO do Xerpay. Formada em finanças e contabilidade pela University of Virginia, nos Estados Unidos, tem mais de 10 anos de experiência no mercado de investimentos. Hoje, lidera a área financeira da startup, que oferece soluções financeiras e de benefícios para empresas no Brasil.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva

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