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Sarah Aiosa mostra que propósito e ciência podem caminhar juntos

CEO da MSD para a América Latina, ela conta sobre os desafios e prazeres da frutífera carreira de 25 anos

Por Paula Jacob
25 abr 2023, 08h28
Sarah Aiosa
Sarah Aiosa (ILUSTRAÇÕES Catarina Moura/CLAUDIA)
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Foi aos 14 anos que Sarah Aiosa teve o primeiro contato com a saúde humana, trabalhando em uma farmácia no bairro onde nasceu, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Filha de uma mãe porto-riquenha e de um pai equatoriano, ela, muitas vezes, precisava traduzir os frascos e receitas para os moradores de origem latina. Mais tarde, se formou em ciências biológicas pela Rutgers University, onde trabalhou como voluntária num centro pediátrico, atendendo crianças com AIDS. “Ali, pensei: esse é o caminho para mim, fazer algo com propósito”, conta.

Depois, fez mestrado em saúde pública pela Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, enquanto já atuava em grandes empresas farmacêuticas. “Sou apaixonada pela velocidade que as coisas acontecem nesse ramo. Antes, atendíamos pacientes com diagnóstico de câncer com seis meses de vida pela frente. Hoje, já vemos os que sobrevivem por mais cinco anos. Sem contar o impacto que as mudanças climáticas têm, fazendo a gente olhar constantemente para o meio ambiente.”

Em 2016, entrou para a Merck Sharp & Dohme (MSD), atuando no marketing global de oncologia. De lá para cá, trabalhou como líder comercial global em oncologia, atuou em funções estratégicas e operacionais em diversos países e foi diretora geral e CEO da MSD Suécia. Agora, como a primeira mulher latina a ocupar a presidência da MSD Latam, Sarah colhe os frutos de uma frutífera carreira de 25 anos. “Poder casar o amor pela ciência com tecnologia e inovação, e ainda trazer todo um impacto para a saúde pública, é transformador.”

E sua presença no cargo, desde 2022, já surtiu efeitos significativos: a MSD México aumentou em 50% a participação feminina em cargos estratégicos, algo que ela deseja reproduzir em outros escritórios. A seguir, ela conta um pouco sobre a trajetória e a junção de setores para pensarmos em um mundo melhor (e mais saudável) para todos:

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Sarah Aiosa
Como a primeira mulher latina a ocupar a presidência da MSD Latam, Sarah colhe os frutos de uma carreira de 25 anos. (ILUSTRAÇÕES Catarina Moura/CLAUDIA)

Como você vê o papel da saúde pública no mundo?

Vamos usar como exemplo recente a pandemia de Covid-19. Todos nós vimos o que acontece quando um sistema de saúde não está pronto para uma emergência. Por isso, acho que precisamos trabalhar juntos [o setor privado e os governos] em benefício da sociedade, para evitarmos crises como essa. No Brasil, inclusive, acabamos de lançar a vacina nonavalente contra HPV, disponível ainda em clínicas particulares. É o começo da nossa vontade de erradicar o câncer de colo do útero, uma doença que mata tantas mulheres.

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Você pode contar as principais mudanças ou projetos que quer implementar na MSD?

Outro comportamento que foi possível observar durante a pandemia, infelizmente, é que muitos pacientes não faziam acompanhamento médico ou tinham seus exames em dia. Portanto, estamos focados em trazê-los de volta para esses testes anteriores e, caso o câncer apareça, podemos tratar mais cedo. Já para as vacinas, temos feito um ótimo trabalho com nossa parceria aqui no Brasil com o Instituto Butantã. É algo que adoraríamos ver em outras partes do mundo, por- que o setor privado e os governos, juntos, podem fazer mais, atuando para abraçar a vacinação e manter nossas populações saudáveis. Temos um longo caminho de atuação na oncologia, principalmente ajudando na ampliação do acesso a insumos e tratamentos.

Quais foram os seus principais desafios ao longo da carreira?

Enquanto mulher e de raízes latinas, fui subestimada. Nosso potencial nem sempre é reconheci- do porque não há muitas pessoas que se parecem conosco por perto. Aliás, um desafio que espero ajudar a superar, considerando a posição em que estou agora. O outro está relacionado à vida familiar. “Qual o impacto das minhas escolhas na minha família?” é um questionamento que as mulheres normalmente fazem. A sorte é que sempre tive apoio, o que foi essencial para superar isso.

Falando nisso, como você enxerga as iniciativas de diversidade e inclusão na área?

Na época do mestrado, foquei em ensaios clínicos de câncer e me questionei muitas vezes onde estavam as mulheres, os negros e as pessoas LGBTQIA+ produzindo artigos ou estudos. Na MSD, por exemplo, estamos trabalhando diretamente com a diversidade nas pesquisas, mas também no quadro de funcionários e colaboradores, para oferecer mais oportunidades de equidade nos diferentes grupos sub-representados [historicamente].

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E com o impulsionamento do empoderamento feminino internamente, certo?

Temos um grupo de oportunidades, o Women’s Network, com mais de 10 mil membros do mundo todo. São mulheres e aliados que formam uma rede comunitária para apoiar uns aos outros, ajudar no desenvolvimento profissional e nas mentorias. Trazemos palestrantes externos e, o mais importante, compartilhamos vagas e projetos temporários.

Como a liderança feminina impacta a empresa?

As mulheres trazem, e talvez eu esteja generalizando um pouco, compaixão e empatia. Os últimos anos deixaram claro que há vida além do trabalho. E esse cuidado é algo que as mulheres cultivam, de entender que todos nós temos familiares, filhos, animais de estimação… Somos capazes de fazer malabarismos e entregar um bom resultado. É outra força que nós, enquanto líderes, trazemos para a mesa.

Qual conselho você daria para uma mulher que quer seguir seus passos?

Sonhe, mas sonhe grande, porque as únicas limitações são aquelas que colocamos em nós mesmas. Outra coisa que aprendi ao longo da carreira é ser muito clara sobre o que você quer. Se pergunte: “O que me motiva? O que me dá paixão e energia?” Depois de articular as respostas, compartilhe com seus colegas e a chefia, mostre a eles o que você quer fazer. Manifeste seu destino sendo clara sobre o que você deseja, você descobrirá que mais opções e oportunidades se abrem. Você verá que o universo começa a te ajudar a se mover nessa direção.

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Como você se sente olhando seus filhos, a próxima geração, considerando a sua área de atuação profissional?

É tão inspirador. Minha filha mais nova está na sexta série. Um dia, fomos assistir uma apresentação de trabalho sobre liderança. “Mas o que uma criança de 11 anos tem a dizer sobre o assunto?”, me perguntei. Bom, segundo eles mesmos, para ser um bom líder, você precisa ser um bom ouvinte, ser cuidadoso, forte, ousado e corajoso. Uau! Foi incrível ver que eles enxergam essas qualidades, algo que todos nós queremos de um líder. Isso é tão bom. Significa que estamos tentando formar bons cidadãos, ao menos é isso que eu espero que eles se tornem.

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