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Para não repetir padrões e ser livre financeiramente

Organizar o próprio dinheiro, considerando traumas, limitações e sonhos, é uma possibilidade para reorganizar a rota, independente das surpresas no caminho

BAIXE O EBOOK Atualizado em 13 set 2023, 10h39 - Publicado em 13 set 2023, 09h24
Para não repetir padrões e ser livre financeiramente
Para não repetir padrões e ser livre financeiramente (Getty Images/Reprodução)
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“A minha avó era uma mulher forte, de uma sabedoria incrível, mas lhe faltava independência financeira. Ela não tinha autonomia para fazer o que queria, tinha que pedir dinheiro ao meu avô se quisesse sair com amigas.” Esse é um relato que eu não esperava ouvir de Gustavo, homem guardião da cultura andina em Tilcara, remota cidade de pouco mais de 5 mil habitantes, na Província de Jujuy, no Noroeste da Argentina (junção das fronteiras com Chile e Bolívia).

Me surpreendeu por diferentes razões. A primeira, por estar de férias e não querer quebrar a promessa de não falar sobre o assunto que faz parte da minha rotina de trabalho. Mas também por me deparar com uma percepção masculina rara de que o patriarcado de fato limitou a potência das mulheres, naturalizando a dependência delas pelo “homem da casa”, pelo “chefe de família”. Eu estava longe, em meio a colinas e formações rochosas incrivelmente coloridas e áridas, sentada ao sol para me aquecer do frio, observando cáctus e uma parreira de uva seca. Gustavo contava a história de sua família e daquela região, que guarda ruínas que datam do século XII, memórias da civilização Omaguacas. Embora experienciando um outro contexto, ficou ali a certeza de que a dependência financeira atravessa povos, culturas e gerações.

A dependência financeira poda a mulher e a coloca em um lugar de submissão, a impede de fazer escolhas

E não é por causa desse histórico que devemos justificar uma realidade ainda presente: a dependência financeira poda a autonomia da mulher, a coloca em um lugar de submissão, a impede de fazer escolhas. A mudança não depende apenas da conscientização da mulher, da luta dela por mais direitos — é uma obrigação de toda a sociedade, do setor corporativo ao Estado, atravessar esse labirinto.

E não estou falando só de equivalência aos direitos dos homens, mas, sim, de novas diretrizes capazes de abraçar um outro espectro, o feminino, com todas as suas peculiaridades. Quanto de dinheiro você precisaria para não depender de ninguém para custear as suas escolhas? Esse é um valor que você deve projetar para alcançar! Não tem a ver com quantos dígitos você ganha, mas com o que você necessitaria dentro da sua realidade para sobreviver, seja da forma que você pode ou sonha.

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Afinal de contas, as suas ações precisam caber dentro do seu bolso. Escrevendo assim, em poucas linhas, pode parecer que não existe uma bigorna sobre a cabeça de grande parte das mulheres brasileiras, representando o peso das injustiças da maioria, do trabalho doméstico não remunerado à pensão ridícula destinada aos filhos, passando pela desigualdade salarial. Ainda assim, em meio ao caos, é preciso dar um passo, e o próximo, e o seguinte.

Volto de Tilcara, dedico tempo para ler mensagens antigas, passando pela linha infinita do aplicativo até encontrar nomes queridos. Encontro. É uma amiga abrindo o coração: quer se divorciar e, para tal, resolveu fazer um planejamento financeiro. Não para custear o processo, mas para conseguir viver financeiramente sozinha com o filho, sem depender do ex-marido, com quem nem mais quer conversar.

Não há fórmulas ou receitas prontas. Talvez, o planejamento seja mesmo o primeiro passo para a independência financeira. A mulher contemporânea, de um modo que transcende gerações, aprendeu a almejar mais do que a sua sobrevivência. E essa nova história começa nos detalhes para terminar em grandes mudanças. Não é sobre números apenas — tratei sobre isso na coluna “Finanças pedem autoconhecimento”.

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Um orçamento cuidadosamente elaborado nos confere confiança para agir de acordo com a nossa essência. Em vez de impulsos fugazes, que impedem de construir uma história de longo prazo, se debruçar sobre um planejamento nos faz enxergar os passos que queremos dar: ganhar, poupar, investir… Saber o que fazer com o próprio dinheiro é um ato corajoso e de amor próprio.

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