O lado de Mariana Becker sobre suas histórias pelo mundo
A jornalista esportiva conta curiosidades sobre sua carreira e dá detalhes da publicação “Não Inventa, Mariana”
Mariana Becker, ao longo de quase 30 anos de carreira, é uma das figuras femininas mais importantes no jornalismo esportivo, principalmente quando se trata de Fórmula 1. Sua autenticidade transborda através da televisão e nos abraça como se estivéssemos no grid, ou melhor, para muito além dele.
Entre pistas perigosas, viagens pelo mundo e bate-papos inusitados, Mari (como gosta de ser chamada) vem quebrando cada vez mais paradigmas, humanizando principalmente as transmissões dessa modalidade de automobilismo. Com mais de 260 mil seguidores, ela compartilha suas experiências e dicas sobre a vida de uma viajante com muita bagagem inspiracional e profissional.
É autora também de Não Inventa, Mariana, sua coletânea de memórias e histórias que convence o leitor a entender que Mari é como se fosse uma amiga divertida, que relata suas aventuras mais surpreendentes, além de mostrar que, no mundo, temos sempre algo em comum com alguém, muito mais do imaginamos.
A redação de CLAUDIA conversou com a jornalista, que é ouro em contar as melhores histórias que a vida pode proporcionar.
CLAUDIA: Ao longos desses mais de 30 anos de carreira, quais são as suas impressões sobre essa nova dinâmica com o público e o que você tem aprendido com essa interação dentro do jornalismo?
Mariana Becker: Eu tenho achado super legal, porque o meu objetivo como uma repórter esportiva, no caso de Fórmula 1, sempre foi fazer com que quem estivesse em casa se sentisse do meu lado. A experiência de estar naquele ambiente é muito mais rica do que apenas números. Tem que ter um certo distanciamento, claro, pois é necessário analisar e contar tudo o que acontece em sua volta, sem formar uma opinião crítica ou se relacionar de forma afetiva com a situação. Hoje em dia, o evento do ao vivo te abre as possibilidades para que você explore diversas sensações. E como é que você explora essas sensações? Descrevendo.
A televisão tem a felicidade de poder mostrar a imagem e o som, mas a sensação é de conhecimento meu. Então eu posso dizer que a Ferrari, por exemplo, tem cheiro de café porque o café da Ferrari é o melhor. Posso acrescentar informações, como dizer que o Valtteri Bottas, piloto na competição, apesar de ser finlandês, gosta de tomar um cafezinho antes de correr. Então essas coisas que podem parecer pueris, na verdade colorem a sua percepção daquele evento. Tentar colorir o universo de quem está em casa é deixar a pessoa o mais próximo possível das sensações que você está sentindo, e isso para mim é uma delícia. No momento em que eu tenho liberdade para fazer isso, eu me realizo.
CLAUDIA: Ainda falando sobre essa conectividade com público, a quarta parede da televisão se transformou em uma interação real através das redes sociais. São mais de 260 mil seguidores que gostam de te acompanhar para muito além da Fórmula 1, e os quadros Lado M e Guria Boa, essa ilustram bastante essa interação com seu público, que também é bastante jovem. Sendo assim, como compreender e envolver com tanto carisma e facilidade um público tão diverso para além da TV?
Mariana Becker: Eu acho que no momento em que você tem uma interação direta com pessoas nas mídias sociais você passa a poder dialogar e entender um pouco mais do que elas gostam ou não gostam de acompanhar, além de desconstruir a ideia da vida de uma repórter de televisão perfeitinha. Então o Lado M é o lado em que eu falo um pouco da minha vida pessoal, sobre o que eu acho que pode ser comum para quem está em casa e também sobre as coisas que gosto de comer, as que não gosto, sobre os medos, as roubadas, as grandes paixões, os sonhos, etc.
Já no Guria Boa, essa eu tento trazer, em poucos minutos, histórias reais de mulheres que fizeram algo que não estava sendo esperado delas. E isso vai desde o princípio do século passado, com a história de uma mulher que atravessou o Canal da Mancha vestida inteira de lã, com o corpo repleto de gordura para não passar frio, até histórias do meu cotidiano, como, por exemplo, de uma guria que era porteira e ficava na catraca do Grande Prêmio do Canadá. Passei a cumprimentá-la todos os dias até descobrir que ela era estudante de engenharia mecânica e boxeadora amadora. Então este quadro ressalta a história de mulheres e momentos que ficaram escondidos na história.
CLAUDIA: Sua história, assim como a de muitas mulheres, se encontra em um intersecção: a coragem de não desistir daquilo que acredita. Sendo referência tanto no jornalismo esportivo, quanto para muitas jovens futuras jornalistas, como você enxerga as dificuldades em estar em uma área onde temos, em maioria, referências masculinas?
Mariana Becker: Eu sempre gostei de contar histórias. Sempre tive uma certa facilidade de comunicação, porém eu era muito crítica comigo mesma. Toda e qualquer crítica me afetava muito, eu achava que tinha que ser sempre mais e mais. Até as críticas que vinham de fora, eu ficava ali, tentando analisar se as pessoas tinham de fato razão, inclusive as completamente carregadas de machismo, pelo fato de na época eu ser mais nova, ou até mesmo depois, por ser mais velha.
Eu ouvia todas essas coisas no mesmo nível. Isso foi o que eu aprendi com o tempo. Quando você vivencia um meio hostil, seja ele por qual for, a resposta está na resiliência. Você ir de novo e de novo. Cada vez que eu me sentia derrubada por qualquer razão, eu sempre perguntava se isso era maior ou menor do que a minha vontade de fazer jornalismo, e se a resposta fosse menor, eu seguia em frente.
CLAUDIA: O livro Não inventa, Mariana é sobre as aventuras vividas não somente durante o seu trabalho, mas também como uma viajante voraz pelo mundo e descobrindo novas culturas e costumes. O que podemos esperar nessa coletânea de memórias que não vimos ainda na TV ou nas redes?
Mariana Becker: O livro na verdade fala pouquíssimo sobre Fórmula 1. Ele fala muito sobre as viagens, sobre as coisas que eu passo fora e, sobre como a gente tem muito mais coisas em comum do que imaginamos. Ele é a desconstrução da persona que vimos na TV. É dizer ali que sou parecida com sua irmã, sua prima, sua amiga do colégio, e se não sou, posso vir a ser porque pensamos iguais em várias coisas ou passamos por coisas parecidas, não é mesmo?
Eu fui capaz de encontrar, por exemplo, no Japão, um cara igual ao meu tio, que é do Alegrete, no interior do Rio Grande do Sul, ou por outro exemplo, encontrar na Arábia Saudita uma senhora que prepara o seu chá apoiando o corpo sobre o joelho e se equilibrar em uma perna, assim como fazemos quando estamos lavando louça ou preparando alguma comida (risos). Então é sobre contar o que vejo de diferente e que talvez outras pessoas não tenham a mesma oportunidade de vivenciar essas experiências.
Não Inventa, Mariana está disponível em todas as plataformas de e-book, livrarias e sites pelo Brasil.