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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Puerpério: a Era dos Palpites

"Apoiar uma mãe recém-nascida é entender que ela muitas vezes não tem a menor ideia do que está fazendo ou sentindo", diz a colunista Ana Carolina

Por Ana Carolina Coelho
Atualizado em 6 jul 2021, 19h31 - Publicado em 5 jul 2021, 18h23

“Quando nasce uma criança, nasce uma mãe”. Esse ditado popular, ainda muito repetido, pode ser interpretado de muitas formas. A principal delas é a noção de que esta “mãe recém-nascida” sabe exatamente o que fazer e como agir.

É como se despertasse dentro de cada uma de nós um “manual de instruções materno” que veio programado em nosso DNA. Esse manual, senhoras e senhores, não existe. Ele é uma invenção social, alimentado pela ideia de que os “bichos sabem como agir” e, portanto, nós também saberemos.

Eu não sei vocês, mas nunca vi bichos montando enxovais com macacões, pomadas, lenços umedecidos nem sequer debatendo se devem usar fraldas ecológicas ou descartáveis.

Historicamente, a complexidade da vivência humana não se reduz a uma suposta natureza instintiva. Somos atravessados e compostos pela nossa cultura, pelos nossos hábitos e pelas nossas crenças morais sobre “certo” e “errado”.

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O puerpério é um dos períodos mais doloridos, solitários e difíceis da maternidade exatamente por causa do peso dessa ideia equivocada de que “mamãe sabe tudo” aliada a essa avalanche de “palpites”.

A contradição de discursos reina na “Era dos Palpites”, em que temos todas as respostas dentro de nós e só precisamos nos conectar com nosso “manual materno interno”. Ao mesmo tempo, precisamos ouvir e seguir todas as regras das pessoas sobre criação.

É por isso que quando “nasce” uma mãe começa a “Era dos Palpites”, na qual somos bombardeadas por conselhos não solicitados, que muitas vezes são ordens disfarçadas, e só nos deixam mais inseguras em como viver nossas próprias experiências das maternidades.

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Dizer a uma mãe que ela “saberá o que fazer” e ao mesmo tempo enchê-la de “conselhos” é um abandono moral da nossa sociedade em um dos momentos de maior fragilidade de sua vida. Quer seja pelo nascimento biológico, quer seja pelo nascimento adotivo, a maternidade é um título que ganhamos antes de fazermos a verdadeira formação.

Como uma graduação às avessas, primeiro recebemos o diploma e depois nos qualificamos nas matérias que aparecem em nossa grade curricular, conforme nossa criança.

Apoiar uma “mãe recém-nascida” é entender que ela muitas vezes não tem a menor ideia do que está fazendo, sentindo ou pensando. Com absoluta certeza, afirmo que esta mulher estará confusa, cansada e angustiada, tentando descobrir como lidar com a vida nova que existe sob sua responsabilidade e com essa nova identidade que se cola em nossa alma: Mãe.

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Eu demorei muito tempo para rejeitar as palpiteiras de plantão e decidir quais regras serviam para fortalecer o meu “amaternar”: descobrir e entender quais elementos, como em um quebra-cabeça, faziam nossa casa e nossas vidas em conjunto mais plenas e completas.

Passei a tentar respeitar todas as peças peculiares que compõem nosso lar. Eu sigo sendo uma mãe em constante graduação e, de tempos em tempos, me vejo matriculada em novas disciplinas.

Um certo olhar atento, os ouvidos abertos e muito acolhimento foram elementos fundamentais e isso demanda tempo e disposição para um construir coletivo amoroso.

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Das pequenas coisas da vida às grandes decisões morais, aqui em casa, estamos constantemente (re)desenhando nossos nascimentos em cada fase de nossas vidas. As meninas estão crescendo e a toda hora a rotina e as regras vão mudando.

A Era dos palpites morre para cada mãe quando a verdadeira sororidade materna começa. Mães que acolhem mães e mulheres que não são mães que acolhem mães. É um privilégio e uma honra vivenciar uma rede de apoio amorosa e receptiva.

De algum tempo para cá, observo que esse ocaso ganhou alguns aliados muito bem-vindos: homens – ainda poucos, mas existem – que começaram a querer REALMENTE entender o que é vivenciar a maternidade, nossas dores e angústias.

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É preciso esse conjunto de pessoas sensíveis e amorosas que nos cercam e que, em vez de fazerem da cerca uma jaula, fazem dela uma malha mágica de proteção. Somos muitas e cada dia mais fortes. Sonho com o dia em que o puerpério poderá ser vivido com a liberdade e o tempo que todas as mães precisam e que a “Era dos Palpites” finalmente seja apenas uma página virada nas histórias das maternidades. Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou pelo Instagram: @anacarolinacoelho79. Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Clique aqui para ler as anteriores e acompanhe as próximas!

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