Contas. Planilhas. Anotações. Na ponta do lápis vamos enfrentando a falta de trabalho, os zeros a menos, os boletos que lotam nossa mesinha de cabeceira. Na maturidade, pagar contas é montanha-russa.
Soma-se a isso a subtração de nossas conquistas futuras. Ofertam-se migalhas de oportunidades, vagas escassas e diminutas em um cenário de penúria. Se você é carioca, pode começar a gemer. O caos é solar. Amplo como o horizonte das praias que contemplamos.
O pé-de-meia, se não foi feito lá atrás, causa uma náusea permanente, como uma dor de cabeça que nenhum analgésico cura. Dia desses, fui a uma sessão de consulta financeira. Ri de nervoso. A profissional trabalhava com a linha do tempo e – os jovens ao meu lado – tinham 30-40 anos à frente. Eu, se bem, conto com no máximo 10, 15. Não estou sendo tragedinha, mas começar uma poupança aos 55 anos, um plano de previdência, a compra de títulos do tesouro nacional ou mesmo um CDI, CDB da vida, requer espera. Para o bolo fermentar. E o meu forno tem fogo baixo.
Olho pra trás e lamento. Injeto em minhas filhas o drive da cultura do centavo, de poupar a qualquer custo. Sei que a vida urge e que enquanto planejamos, Deus ri. Só escrevo para alertar. Não quero dramatizar nossa condição, mas se eu tivesse tido uma mãe que pensasse o amanhã, nem ela nem eu estaríamos neste mar sem peixes. Alerto também para os produtos financeiros dos bancos e das financeiras com crédito fácil. Sanguessugas do capeta que tornam o dia a dia dos mais velhos um cobertor curtíssimo.
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