Operada, há 1 semana sem colocar o pé na rua, me volto pra dentro. Pijamão, cabelo desgrenhado, unha sem fazer – sou a imagem do desabamento maduro. Tá bom, sabe? Tirando o desconforto da cirurgia, essa quietude em me perceber num vai e vem do quarto para a sala, do banheiro para a cozinha, num circuito limitado de ação e expressão, é boa. Tenho apenas o silêncio como distração. Não é fácil aquietar-se.
O ritmo frenético das metrópoles, a necessidade do pão nosso de cada dia, a atribulação de encher a vida de coisas inúteis e se fazer super ocupada para parecer que tem uma vida significativa. Quem nunca maquiou a própria existência? Deu um ar fake a um cotidiano medíocre?
Nestes dias não há filtro para ocultar nada. Decidi correr para um auto-abraço, um encontro marcado com a minha deslembrança de mim. Olho em volta. Objetos herdados de avós, tias, amigos. Cada um com sua mensagem. Investigo varizes, pintas e pelos que brotam em coxas, suvacos e virilhas. Os dentes deram uma escurecida. As linhas de expressão e pintas de senilidade se acotovelam para brotarem mais rápido. Não é belo envelhecer em casa, sozinha.
Mas, sem plano B, já estou pensando em minha volta aos palcos da vida. Não posso ser a mesma. Não serei. Darei mais abertura a esses silêncios e a essa nova cadência marcha lenta, investigativa e ausente de culpa. Ainda terei uma semana em casa. Pretendo esculpir uma nova Kika, menos urgente em tantos quereres e mais seletiva em desejos reais. Por onde começo?
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