Ser empreendedora no país
"Apesar de tantos obstáculos, de cada 100 negócios abertos hoje 52 apresentam uma mulher na liderança"
Joana é uma empreendedora de 39 anos, com curso superior, casada e tem filhos. Como a maioria das mulheres brasileiras, assume também a responsabilidade de administrar as tarefas do lar. Decidiu abrir o próprio negócio para conciliar carreira e família, ter alguma flexibilidade de horário e, principalmente, para realizar o sonho de trabalhar com alguma coisa que fizesse sentido para ela.
Às vezes, Joana consegue cumprir todos esses compromissos com uma jornada de seis horas dedicadas ao negócio. Porém, dependendo do dia, sua jornada profissional pode chegar facilmente a dez horas. Além da pressão de investir tempo e dinheiro na própria empresa, o resultado financeiro no fim do mês é o que mais a preocupa, já que boa parte do sustento de sua família vem do sucesso dessa aposta que ela fez.
Esse retrato de Joana é muito parecido com o de outras mulheres brasileiras que resolveram se arriscar – por sonho ou, muitas vezes, por necessidade – na arte do empreendedorismo, de acordo com uma recente pesquisa feita pela Rede Mulher Empreendedora, primeira e maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil. Realizado entre julho e agosto deste ano, com mais de 2 mil mulheres em todo o país, o estudo traz, em sua terceira edição, informações importantes sobre um segmento que já conta com 24 milhões de mulheres.
Mostrou, por exemplo, que 86% delas não se planejam antes de iniciar um empreendimento e que 65% acabam misturando as finanças da empresa com as próprias contas e pagando as despesas com cartão de crédito ou débito pessoal.
Sem alternativas desenhadas para ela e seu negócio, a empreendedora brasileira foge dos produtos bancários tradicionais. Das mulheres ouvidas no estudo, 45% disseram que não pedem empréstimos com medo de um endividamento não planejado.
Quando falam da relação com outras empresas, em especial as médias e as grandes, apenas 20% das empreendedoras afirmam que conseguem fechar acordos comerciais com multinacionais. Mais da metade, ou 55%, não sabe como abrir essas portas e 50% apontam a burocracia das corporações como um entrave para o relacionamento com elas. Esses dados revelam que ainda é preciso avançar, no sistema financeiro e nas empresas de maior porte, para enxergar as oportunidades criadas pelo vasto universo do empreendedorismo feminino no país.
Ao não contemplar as necessidades, dificuldades e particularidades das mulheres que habitam o mundo dos negócios, os donos do dinheiro deixam de fazer empréstimos e vender produtos que sirvam para as empresas delas. E as corporações, por sua vez, abrem mão de obter fornecedoras e parceiras que poderiam trazer ideias, produtos, serviços e preços atraentes. Essa é uma importante conclusão da pesquisa.
Apesar de tantos obstáculos, de cada 100 negócios abertos hoje 52 apresentam uma mulher na liderança. Como revela o estudo, a empreendedora brasileira não desiste dos seus sonhos e confia no futuro: 86% das entrevistadas dizem que 2019 será um ano melhor para elas.
Na Rede Mulher Empreendedora, também trabalhamos todos os dias com esse espírito. Acreditamos que as coisas vão dar certo. Afinal, é assim que nascem as empreendedoras que apoiamos.
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