Laces, nova geração de perucas usada por Bru Marquezine e Camilla de Lucas
Hiper-realistas, essas perucas se popularizam como estratégia para mudar o visual em pouquíssimo tempo e sem comprometer o cabelo natural
squeça aquela imagem antiga de perucas brilhantes, embaraçadas e nem sempre bem costuradas. Repense, ainda, caso associe o uso somente aos tratamentos de saúde que fazem com que as pessoas percam o cabelo natural. Há uma nova geração de perucas realistas que ressignifica o uso do acessório e oferece a possibilidade de variar o look sem que seja necessária qualquer interferência permanente nos fios originais. São as chamadas lace wigs.
Diferentemente das perucas com toda a base de tecido, elas são costuradas em tule, o que garante naturalidade. Também podem ficar coladas por dias, suportando mergulhos em piscina, banhos de mar, longas noites de dança ou até esportes.
“Aqui no Brasil, ainda vemos mais nas celebridades, mas fora do país é um acessório cotidiano. São vendidas em qualquer lugar, com fácil acesso. É uma ferramenta de autoestima, porque as pessoas querem e gostam de mudar, de se ver de jeitos diferentes”, diz o beauty artist Henrique Martins, que tem mais de 200 perucas em seu acervo e já foi responsável por looks emblemáticos de Bruna Marquezine, Marina Ruy Barbosa, Sabrina Sato e outras artistas que se aventuram em cabelos variados.
Parte dessa democratização recente se deve aos avanços na confecção desse acessório e à evolução das colas, mas também à internet. Ao passo que cresceu a produção de conteúdo voltada para o tema, especialmente entre influenciadoras brasileiras, como Camilla de Lucas, que tem desfilado as suas versões no Big Brother Brasil, da Rede Globo, o acesso às laces também foi facilitado.
Hoje, além das lojas físicas, as consumidoras também encontram vendedores e peruqueiros nas redes sociais, inclusive os que estão fora do país. A depender do orçamento e da capacidade de sonhar, nem o cabelo de Anitta ou Beyoncé é o limite. O look desejado está a alguns cliques de distância. A seguir, preparamos um guia para quem quer mergulhar de vez neste universo.
Bê-a-bá das Laces
A base das lace wigs é de um tule finíssimo, similar aos que são usados em vestidos de festa com recortes. Os fios de cabelo são entrelaçados em cada um dos furinhos, simulando a raiz do nosso couro cabeludo. Exatamente por isso, o acabamento é natural e realista, uma vez que é possível visualizar a pele sob a tela.
A partir daí, os tipos variam. Existem as chamadas front laces, em que apenas a frente do couro cabeludo é feita de tule – cerca de três ou quatro dedos a partir da linha do cabelo. Esse tipo vale para quem deseja usar as madeixas soltas.
Outra variedade é a full lace, considerada a mais versátil, pois é feita em base inteiramente translúcida, logo, permite ser dividida ou penteada de qualquer forma ou direção. Elas também variam entre cabelos sintéticos, naturais e composição mista. Os materiais artificiais, como fibra orgânica ou futura, são mais baratos, mas também menos duráveis e versáteis, pois há limitação de calor para estilizar, por exemplo.
Já aquelas confeccionadas com cabelo humano são mais caras. “Os fios mais valiosos são brasileiros e europeus, pois há variação de tonalidades naturais. As madeixas de origem asiática, por exemplo, são mais escuras e não toleram descoloração”, explica o peruqueiro Francisco Vieira, fundador da @perucaria.
Enquanto uma peruca sintética pode custar em torno de 300 reais, a depender do comprimento e do acabamento, as naturais começam na casa dos 500 reais para cabelos asiáticos e a partir de 1 500 reais para fios brasileiros. O tamanho, a densidade e o tipo de fio definirão a escalada dos valores.
Os cuidados
“Costumo dizer que a durabilidade da peruca está relacionada a três práticas: jeito de higienizar, de pentear e de guardar”, fala Francisco. No caso da lace de cabelo humano, o primeiro ponto de atenção é a frequência de lavagem.
Se ela estiver instalada, pode ser lavada uma ou duas vezes por semana. Caso contrário, a limpeza deve ser mais espaçada. Se você usá-la só aos fins de semana ou para trabalhar sentada em escritório, pode reduzir para uma vez por mês.
O processo deve ser feito com xampus e condicionadores ideais para o tipo de fio. Vale ainda hidratar as pontas com máscaras específicas de manutenção da cor, por exemplo. Caso deseje usar finalizadores, evite a raiz para manter as mechas soltinhas.
“Já os fios sintéticos não contêm as cutículas e camadas dos naturais, por isso não se beneficiam das propriedades dos produtos para cabelos. Logo, a limpeza deve ser feita com detergente ou sabonete neutro e a hidratação com amaciante para roupas”, explica Francisco.
Depois de limpas, as laces podem secar ao natural, tomando cuidado com o vento para não embaraçar os fios. Na hora de pentear, comece das pontas, siga para o meio e só depois deslize direto da raiz.
Prefira escovas do tipo raquete, com cerdas largas, e mantenha os movimentos suaves. Guarde sobre cabeças de tecido, para manter o formato do tule, ou em gavetas. O importante é que as mechas permaneçam esticadas, para evitar fricção e marcações, e longe do sol, do calor e da umidade.
Como colocar uma lace?
A colocação das perucas é chamada de instalação. O processo varia de acordo com a presença ou ausência de cabelo natural e o tempo de uso da lace. Quem é careca não necessita de cuidados prévios, mas quem tem cabelo precisa prendê-lo bem para que o acabamento fique imperceptível.
“Faço tranças de raiz do tipo nagô e prendo ao redor da cabeça, como se fosse uma espécie de capacete”, indica Henrique Martins. Com as mechas bem presas, a cabeça é coberta por uma touca de meia e só depois a peruca é colada. Também é possível fixar com as presilhas internas.
Um dos pontos-chave é o acabamento na linha do couro cabeludo, chamado hairline, fator decisivo para o aspecto de naturalidade. Alguns profissionais mesclam com a linha original, outros aplicam meio centímetro atrás. Vale finalizar ainda com pontos de baby hair, por exemplo.
No mercado, existem colas de variadas texturas (gel, spray…) que duram até quatro semanas. É possível fazer todo o processo sozinha (existem vários tutoriais no YouTube, por exemplo), mas vale procurar um profissional para a primeira vez, caso tenha dúvidas.
Colorir e estilizar
No caso dos fios humanos, os truques são os mesmos que usamos no cabelo. Antes de encostar qualquer ferramenta de calor, aplique uma camada de protetor térmico em todo o comprimento. Pranchas e modeladores devem ser usados com delicadeza para que não encostem no tule nem puxem fios da raiz.
Esse tipo de fio também tolera colorações, mas é bom não exagerar, pois diminui a vida útil do acessório. O ideal é que ele já seja comprado da forma que se deseja usá-lo. É indicado perguntar ao vendedor, no caso das cacheadas, se o fio original tem as ondulações ou se foram produzidas com permanente, por exemplo, pois o jeito de cuidar será diferente.
No caso das fibras artificiais, o calor deve ser limitado. Acima dos 160 graus, elas já podem começar a derreter. Antes de tocá-las com a ferramenta quente, sempre faça um teste de mecha na parte da nuca para entender a tolerância.
Não é possível tingir a sua peruca sintética com coloração capilar. Para ela, são indicados alguns pigmentos que alteram tons e subtons, mas devem ser combinados entre si. Essa é mais uma ocasião em que o ideal é buscar um profissional antes de se aventurar.
Palavra de quem usa
“Acompanho o universo das laces desde 2017 no YouTube, mas ainda havia pouco conteúdo sobre o assunto. No começo de 2019, eu e minha mãe, Mirian, viajamos para Nova York e decidimos visitar algumas lojas. Foi quando comprei a minha primeira lace. Depois disso, nós também compramos versões de cabelo natural; experimentamos, ainda, encomendar num site chinês.
Em razão da pandemia, não pude usar todas as minhas laces tantas vezes, mas já coloquei para chamadas de vídeo, por exemplo. Preparo o cabelo natural com tranças de raiz e nem sempre uso cola, uma vez que uso em ocasiões mais rápidas.
Gosto de tê-las para variar o meu cabelo, porque adoro mudar. Meu acervo possui versões castanhas, ruiva e até verde neon, que revezo com as tranças. Para mim, uma questão que ainda existe é o tabu de “se desmontar”, de aceitar que aquele cabelo não é seu ou aparecer sem ele. Para algumas mulheres, sobretudo mulheres negras, esse pode ser um ponto de fragilidade.”
Nairim Bernardo, estudante
Para seguir já
Sonha com um cabelo específico? Dá para encomendar a sua lace sob medida conforme os desejos de cor, comprimento e estilo.
Prepare-se para encontrar looks iguais àqueles usados por Luísa Sonza, Manu Gavassi, Pocah e outras celebridades brasileiras.
Com várias filiais pelos Estados Unidos, tem uma variedade incrível de perucas – desde diferentes cores e texturas de fio até aquelas com penteados prontos.
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