De volta ao campo? Como voltar a namorar após um divórcio
Psicóloga conta o que é importante antes, durante e depois de tomar a decisão de seguir em frente
Finais de relacionamento costumam ser desgastantes, principalmente quando é preciso separar vidas que estiveram há muitos anos entrelaçadas. E se a recuperação física e emocional precisa de tempo, além de uma boa dose de autoconhecimento e esforço, voltar a namorar depois do divórcio tampouco é simples.
É bem possível que, de lá até aqui, você já tenha dito algo como “nunca mais vou amar/me relacionar de novo”, um sentimento bastante comum por todos que passam pela ruptura de um casamento.
“A noção de amor que temos parte muito do que vivemos, de como aprendemos a amar e sermos amados. De certa forma, se vivenciamos uma relação saudável, carregamos uma perspectiva mais flexível e funcional, e se vivenciamos uma relação tóxica, essa noção pode estar distorcida”, reflete Isabela Teixeira, psicóloga de mulheres.
Apoio é essencial
Durante o divórcio e o pós-divórcio, é interessante contar com a sua rede de apoio e buscar ajuda psicológica, pois vai ser necessário dar um tempo ao processo de autoconhecimento e cuidado emocional.
“Após se manter em uma relação por muito tempo, muitos comportamentos apresentados partem da convivência. É importante revisitar as lições aprendidas com a relação anterior para não haver uma repetição de padrão de comportamento disfuncional e reforçar padrões que não foram funcionais. É legal focar em desenvolver novos limites saudáveis e uma comunicação que seja mais eficaz, e contar com apoio de pessoas que possam te acolher”, salienta a psicóloga.
Estou pronta para voltar a namorar?
A volta ao campo pode vir acompanhada de diversos receios e medos, alguns dos quais devem ser tratados com ajuda profissional. Mas, no fim, somente você pode determinar o momento certo para retomar sua vida amorosa.
“Esse processo varia de pessoa para pessoa, mas é necessário ouvir seus próprios sentimentos e se entender. Caso você esteja insegura ou confusa, pode ser útil contar com ajuda profissional para diminuir as preocupações, e não trazer excesso de desconfiança de experiências passadas. Entenda que é um bom momento partindo do seu querer, não por uma pressão social”, reflete a terapeuta.
A especialista ainda destaca que não é necessário encontrar um amor logo após a separação, orientando que o primeiro amor a ser encontrado nesta etapa seja o próprio.
“Cada pessoa lida com o término de forma singular, e não deve existir um cronograma definido. E ainda que possa existir uma pressão social, principalmente para mulheres, de estarem inseridas em uma relação, não se cuidar e se inserir em um novo relacionamento pode ser prejudicial para a própria saúde física, emocional e mental”, acrescenta a especialista.
Dificuldades românticas pós-divórcio
“O fim do casamento pode trazer uma fase de tristeza, associada à quebra de expectativas quanto a uma nova relação. E mesmo a culpa pós-divorcio sendo compartilhada, surgem conflitos quanto à autoestima e a autoimagem, esbarrando assim na percepção de amor próprio, de amor pelo outro e na própria crença de autossuficiência”, explica a psicóloga.
Podemos encontrar também o medo em aceitar um novo compromisso, afinal, já passamos pela quebra de um. Além disso, Teixeira destaca o medo de confiar em outras pessoas e de ter que enfrentar outra decepção ou perda, apontando que a psicoterapia se mostra vital para compreender quais são as raízes do que sentimos e trabalhar cada uma dessas emoções.
“Acredito também que parte muito do próprio esforço em se enxergar, avaliando como está a autoestima, se você percebe que lidou de maneira funcional com a bagagem da relação anterior, como ressentimentos e raiva. De certo, vale você ser verdadeira consigo e no que acredita. No final, o mais funcional é seguir o seu ritmo alinhado com suas necessidades e objetivos”, conta.
E se sua noção de amor estiver conectada à dependência emocional, ou aspectos disfuncionais, é comum aparecer a perspectiva de vazio e solidão pode aparecer com força, além da desesperança.
“A confiança abalada dificulta o estabelecimento de uma base mais sólida para uma relação saudável, gerando medo de se machucar”, explica a psicóloga de mulheres.
Ela ainda acrescenta que, caso ainda estejamos com questões emocionais não resolvidas, podem acontecer muitas comparações com o relacionamento anterior, além da criação de expectativas não realistas.
Pronta para voltar ao campo?
Sente que já deixou para trás o casamento anterior, e está pronta para dar o primeiro passo? “Primeiro, busque ferramentas de autoconhecimento para aprofundar sua compreensão de si mesma e suas motivações. Busque espaços para desenvolver novas habilidades, explorar novos hobbies e cultivar interesses diferentes, não para impressionar outra pessoa, mas para sua autossatisfação”, recomenda.
A profissional ainda aponta a possibilidade de se inserir em atividades, aulas coletivas, participar de grupos, clubes e eventos relacionados ao seu interesse, que, além de benéficas, expandem o círculo social e te colocam em contato com outras pessoas com os mesmos interesses.
“Se fizer sentido, existem aplicativos onde você pode conhecer pessoas interessantes, mas lembre-se de tomar cuidado com golpes. Se necessário, peça o CPF da outra pessoa e busque informações judiciais que possam ser relevantes para a sua proteção. Você pode optar por encontros mais descontraídos, lembrando também de estar sempre em lugares públicos. E, nesse processo, seja honesta com as pessoas que se relaciona ou iniciou um diálogo”, aponta.
Para mulheres maduras que passaram anos ao lado do parceiro, um dos maiores medos após o divórcio é a sensação de que estamos ‘velhas demais para nos aventurarmos no amor’.
Isabela conta que lidar com essa sensação vai envolver superar preconceitos etários e desafiar padrões sociais estabelecidos. “Mas foca em entender que a idade não pode definir o seu valor como pessoa, muito menos dizer sua capacidade de estar inserida em uma relação ou não”, completa.
Seja muito gentil consigo, esteja aberta às surpresas e se dê oportunidades de encontrar pessoas de maneira paciente.