Sexo no climatério: a vida sexual na transição da menopausa
Período de transição em torno da menopausa inclui oscilações de humor, autoestima e libido
A primeira menstruação, a menarca, é aguardada e, muitas vezes, até celebrada. Mas e a última? Há um despreparo — e até mesmo um medo — quando tocamos nesse assunto. O climatério, fase que vem antes e depois da menopausa, é um período de transformações intenso que pode e deve ser abordado diretamente em todos os seus âmbitos, inclusive o sexual.
“Menopausa, em si, é o fim da menstruação. A fase de transição é o climatério, que pode acontecer cinco anos antes da menstruação acabar e até cinco anos depois. A menopausa é um ponto, o climatério é um tempo”, explica a ginecologista e terapeuta sexual Larissa Cassiano, 35 anos.
A forma como lidamos com esse processo é muito particular, no entanto, em larga escala, costuma estar atrelada ao “fim”. Segundo as especialistas ouvidas, é um equívoco. Trata-se de um recomeço, que também deve ser exaltado nas suas mudanças em relação a corpo e mente.
“Não é porque você está envelhecendo que vai perder a sua capacidade de se divertir, excitar, sentir prazer, desejo e viver romances. É preciso entender que existem certos ajustes na parte física, mas há também a sabedoria de vida e o conhecimento acumulado ao longo desses anos, especialmente sobre si e nossos pontos de prazer”, ressalta Laura Müller, sexóloga e psicóloga, de 53 anos.
O climatério e o sexo
Entre 45 e 55 anos, os ovários produzem menos estrogênio e progesterona. Isso pode causar uma série de sintomas, incluindo: ondas de calor, diminuição da libido, insônia, ansiedade, secura vaginal, incontinência urinária, depressão, períodos irregulares ou sangramento.
A falta de estrogênio pode acarretar em mudanças na silhueta do corpo, como o acúmulo de gordura na região abdominal e a diminuição da massa muscular. Junto a isso, somam-se as modificações de humor.
“Você já não está se gostando devido às alterações corporais e fica mais irritada, então vêm as ondas de calor, insônias e, consequentemente, a falta de disposição. Inclusive para sexo. Não é uma coisa específica, você só não está disposta para nada”, pontua Helena Hachul, especialista em menopausa e saúde da mulher, de 53 anos.
Como amenizar os sintomas
Essas alterações podem ser minimizadas com um estilo de vida saudável: hidratação, alimentação balanceada e uma rotina de exercícios. A terapia hormonal, uma escolha que pode ser feita com base nos desconfortos e nas preferências individuais de cada mulher, é uma alternativa. Pode ser administrada de várias maneiras, incluindo via oral, tópica, por implante ou DIU, mas não é algo mandatório. É possível, sim, tratar os sintomas específicos de forma isolada.
Para secura vaginal, as opções incluem o laser intravaginal, que melhora o epitélio vaginal sem envolver hormônios (mas tem alto custo); hidratantes intravaginais, que são diferentes dos lubrificantes; e cremes vaginais com hormônios, que trazem menos efeitos colaterais.
Existem também formas alternativas de abordar a questão, como o pompoarismo. Essa é uma prática oriental que envolve exercícios de contração dos músculos do períneo e da vagina, proporcionando benefícios físicos e psicológicos, melhorando o prazer sexual, o autoconhecimento corporal e ajudando na prevenção da incontinência urinária.
Há uma procura crescente por essa técnica, principalmente por mulheres que entraram no climatério ou já passaram pela menopausa, conta a professora de pompoarismo Regina Racco, 73 anos.
Os exercícios garantem um bem-estar no corpo inteiro, não apenas fortalecimento íntimo. A técnica ajuda nas ondas de calor, disposição e na secura vaginal. As alunas de Regina e ela mesma comprovam isso!
A prática estimula as glândulas da vulva, promovendo benefícios à saúde sexual. “Eu nunca tive ressecamento vaginal. Óbvio que eu não tenho a lubrificação de uma garota de 20 anos”, completa Regina, que dá aulas de ginástica íntima há 40 anos.
Ela relata que teve medo desse período, que foi potencializado com a notícia de que teria que remover os ovários. Mas deu tudo certo. Ela é muito bem resolvida com seu corpo e sexualidade: “Eu garanto para você que eu estou muito bem hoje, mas eu não posso também abrir mão do meu acompanhamento médico”.
Eu estou muito bem hoje, mas não posso também abrir mão do meu acompanhamento médico
Regina Racco, 73 anos, professora de pompoarismo
Quebrar tabus e padrões
Além de todos os sintomas da menopausa, as mulheres ainda precisam lidar com tabus e outros padrões estéticos. Muitos estão ligados à aparência e, principalmente, à sexualidade.
“Uma coisa que noto muito em minhas pacientes é que elas querem manter a beleza da juventude. Isso também muda conforme o padrão da idade, não é e nem precisa ser estático. Existe a beleza do hoje, a da idade que você tem”, ressalta Helena Hachul.
Nós, mulheres, somos normalmente condicionadas a parecer mais velhas quando somos jovens e ao contrário, conforme vamos envelhecendo. “Isso tudo faz parte do processo de vida de toda mulher. Precisamos entender isso, aceitar e, a partir de então, começar a ver as possibilidades que existem de viver a vida com muito prazer também nessa fase”, completa Laura Müller.
O que esperar do climatério?
Entre as entrevistadas, é unânime que as expectativas e as realidades conseguem se equiparar. Com a maturidade, entendemos melhor nosso corpo e vontades. Isso traz um brilho no olhar, que consegue ser ainda mais intenso — e bem aproveitado, caso a realidade seja de mais tempo livre.
Partindo do ponto de quem ainda não chegou lá, Marcela Mc Gowan, ginecologista e terapeuta sexual, de 34 anos, reflete sobre o futuro. “Eu imagino que quando chegar a minha vez, me relacionando com outra mulher, eu sinto que posso contar mais com entendimento dela sobre a fase. É o que a gente deveria poder contar em qualquer relacionamento, não é? Acho que o que falta é mudar essa essa visão de usar a sexualidade masculina como o correto e a comparação a ela como desvios.”
Já Helena Hachul mostra o lado de quem está vivenciando esse período. “Eu tenho 53 anos, estou na menopausa e é o meu melhor momento. Eu tenho super liberdade profissional, um relacionamento com meu marido, onde tem espaço para fazer o que desejo, e não preciso ficar preocupada o tempo todo com as minhas filhas, que já são crescidas. É um momento de libertação e eu procuro trabalhar bastante isso com as pacientes, a encarar tudo de outra forma”, conta.
Ela acredita que, com a maturidade, aprendemos a lidar melhor com nosso tempo, espaço e mente. “Você já se conhece, tem a noção do que está acontecendo e sabe como agir. É um tipo de maturidade que não existia antes”, completa. Envelhecer não é o fim, é encarar a vida de uma nova forma.
3 obras sobre o tema
Acende a Luz – Série nacional
Em cinco episódios sobre a sexualidade na terceira idade. Nascida do curta de mesmo nome, lançado em 2020, tem criação e direção de Paula Sacchetta e Renan Flumian, com produção da bigBonsai. Você pode assistir no GNT, semanalmente, todas as segundas.
Boa sorte, Leo Grande – Filme
No filme, a atriz Emma Thompson interpreta uma mulher aposentada e viúva que está em busca de seu primeiro orgasmo. A obra retrata com extrema delicadeza a sexualidade feminina na maturidade. Com direção de Sophie Hyde, está disponível no Telecine, por assinatura, ou para aluguel e compra nas principais plataformas de streaming.
Natureza Íntima: Fendas de uma Mulher – Livro
“A mulher não nasce pronta, muito menos consciente, para acessar todas as suas capacidades. E cada uma de nós escolhe se conhecer melhor, adentrar nas profundezas do seu eu mulher”, reflete a autora Maria Barretto. O livro transborda em suas páginas toda a essência e multiplicidade do que é ser mulher. Disponível na Amazon, por R$49,97.