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‘Marmita de casal’: entenda a nova tendência entre não-monogâmicos

Se você já “matou a fome” de apaixonados não-monogâmicos, precisamos informar: a internet te considera uma marmita de casal

Por Kalel Adolfo
21 jul 2023, 08h45
Entenda o que é a marmita de casal.
Para além do meme, relatos mostram que a dinâmica requer responsabilidade afetiva (Mirrorpix/Gettyimages/Reprodução)
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Nos últimos meses, as pessoas nas redes sociais só querem saber (e falar) sobre “marmita de casal”. Mas, afinal, o que é isso? As marmitinhas (sim, vamos deixar a coisa fofa) são pessoas que, de vez em quando, participam da vida sexual de um casal. Não há nenhum envolvimento sério e nem entra em uma categoria extra de poliamor — que já explicamos em CLAUDIA. A coisa é casual (e sexual).

Porém, não se engane, essa atmosfera descontraída não é sinônimo de bagunça! Pelo menos é o que garante Gustavo*, publicitário e marmita convicta: “Eu sempre estou ciente do meu papel na relação e sou muito respeitoso. É como se estivesse entrando na casa de duas pessoas, enquanto convidado. Fico lisonjeado de fazer parte dessa troca. Absorvo toda a experiência com leveza, porque sei que não estou vivendo um trisal”.

O rapaz de 27 anos já coleciona algumas experiências a três, mas possui um casal de marmiteiros no seu coração. O flerte começou despretensiosamente pelo Instagram, quando ambos começaram a segui-lo, e resultou em um encontro.

“Ficamos três horas conversando num barzinho no nosso primeiro date e, no final, nos beijamos. Só fomos transar no terceiro encontro, quando conheci a casa deles. Até dormimos juntos e saímos para trabalhar no dia seguinte. Gosto de ter esse contato esporádico, que serve tanto para tomar uma cervejinha quanto para um ménage”, conta ele, que reforça: “Antes de tudo, somos amigos. É sem neura e com leveza, algo que raramente encontramos em uma relação mais tradicional”.

Gustavo*, publicitário, 27 anos

“É como se estivesse entrando na casa de duas pessoas, enquanto convidado. Fico lisonjeado de fazer parte dessa troca.”

Relatos de quem vive a marmita de casal.
Gustavo* conta que tem plena noção de que não faz parte de um trisal. (Getty Images/Reprodução)
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Enquanto Gustavo se tornou uma quentinha por simples e espontânea vontade do universo, Alice*, de 29 anos, adotou uma postura mais ativa e foi atrás de seu instinto. “Estar em um modelo [fechado de relacionamento] me causava certa angústia, e eu não sabia nomear o porquê. Quanto mais fui estudando e entrando em contato com outras formas de afeto, mais confiante me senti para comunicar esse desejo para a minha parceira”, reflete.

A arquiteta revela que, num primeiro instante, a namorada (com quem está há sete anos) sentiu dificuldades para digerir a ideia. Contudo, após muito diálogo, paciência e confiança mútua, ambas puderam se desapegar dos moldes tradicionais de se relacionar.

O test drive rolou com um casal de amigos que passavam por um processo semelhante. O sexo foi bom e, motivadas pela experiência animadora, decidiram embarcar de vez no marmita-verso com uma desconhecida. Deu bom? Não de cara. “A transa foi bacana, havia atração entre nós. O problema foi que ela precisou ficar em casa por três dias, pois estava apenas de passagem por São Paulo. Não sei se a convivência excessiva estragou, mas senti um incômodo no ar. A comunicação não fluiu e a marmita também não fez questão de ajudar”, desabafa.

Alice*, arquiteta, 29 anos

“Estamos abertas a lidar com o ciúmes juntas, sem buscar no controle a saída para as nossas inseguranças.”

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Relato de marmitas de casal.
Alice* e a namorada conheceram a sua “marmita oficial” através de um aplicativo de relacionamento. (Getty Images/Reprodução)

De qualquer forma, a vibe agridoce não as impediu de realizar outras tentativas. Tanto é que, há dois meses, Alice e a parceira deram match com uma jovem no Tinder que veio a ser a marmita oficial do casal. “Tivemos uma ótima conexão afetiva e sexual, e tem sido bem bacana conhecê-la. É uma novidade confortável, porque as coisas estão funcionando de maneira simples, com bastante conversa. Por meio dos nossos papos, percebi que compartilhamos hobbies e outros interesses. Temos até o mesmo senso de humor! É sempre divertido quando nos juntamos.”

E a clássica pergunta (e receio) sobre o ciúmes vem acompanhada do conselho: “Isso faz parte de qualquer vínculo amoroso. A questão é que estamos abertas à possibilidade de lidar com o ciúmes juntas, sem buscar no controle a saída para as nossas inseguranças”, compartilha Alice.

“Quando surge um desconforto, o acolhemos, nos abraçamos e reafirmamos tudo o que já construímos nesses sete anos de relacionamento. Tentamos ser o mais honestas possível, fazendo os acordos necessários.”

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Nada de novo na terra do Sol

O termo-piada pode até ser novidade, mas a prática definitivamente não é. Luciane Cabral, sexóloga da Gleeden, principal plataforma de relacionamentos extraconjugais no Brasil, afirma que as pessoas tendem a achar que a juventude quer experimentar tudo e que as coisas eram diferentes antes. Mas não é bem assim…

“Somos extremamente diversos, mas acabamos sendo afetados por dogmas religiosos e culturais que são passados de geração em geração sem nem entendermos o porquê. Por isso, fico empolgada que as pessoas estejam se desconstruindo. Quem ainda não está nesse caminho [de autoconhecimento], precisa correr atrás para se habituar com as novas possibilidades de ser feliz”, diz Cabral.

Dá um medinho? Claro que sim, e não há nada de errado nisso. O ponto é como você vai lidar com esse cenário. Luciane nos lembra que só podemos saber se gostamos de algo ou não após experimentá-lo. “O mais importante é embarcar nas marmitas com a autoconfiança em dia, pois tendemos a acreditar que amor é sinônimo de possessividade. Só porque casei ou estou namorando, a pessoa é minha. E a verdade é que ninguém é de ninguém [no sentido de posse]. Não temos poder sobre o sentimento do outro”, afirma a especialista.

Luciane Cabral, sexóloga

“O mais importante é embarcar nas marmitas com a autoconfiança em dia, pois tendemos a acreditar que amor é sinônimo de possessividade.”

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Sexóloga analisa as marmitas de casal.
Para a sexóloga Luciane Cabral, a marmita de casal vem para quebrar as nossas noções possessivas acerca do amor. (Getty Images/Reprodução)

Ela pontua que, sem que percebamos, o romantismo antigo ainda atrapalha as possibilidades de prazer disponíveis por aí. “Experiências sexuais e amor são coisas diferentes. É ótimo experienciar sensações novas juntos, isso traz mais proximidade. Não é legal ter aquela ideia de que a nossa melhor fase erótica foi antes do casamento. Em união, é possível viver uma relação que é prazerosa, gostosa e potente. Acredite: colhemos muitos frutos ao nos permitir abraçar a sexualidade em todas as suas facetas”, pondera.

Para entrar na brincadeira

Diquinhas para marmiters iniciantes e veteranos? Temos! A principal, segundo a psicóloga Nadia Cristina Ferreira, é tomar cuidado para não objetificar a terceira pessoa. “Tenha responsabilidade afetiva e saiba que a marmita não é apenas um brinquedo do casal. É necessário ser honesto sobre as expectativas e os sentimentos que podem vir à tona no decorrer da relação. Se alguém estiver desenvolvendo sinais de afeto, esteja aberto ao diálogo”, diz.

Isso está intimamente ligado ao segundo ponto: dê abertura para que as conversas aconteçam. Para Nadia, não adianta querer viver essa realidade sem estar disposta a lidar com as questões alheias. E, por fim, estabeleça um vínculo de horizontalidade na dinâmica.

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“A marmita não deve ser tratada como alguém menos importante. Claro, isso não quer dizer que a terceira pessoa será tão prioridade quanto aquela com quem nos relacionamos há anos, até porque estamos falando de um casal com uma história construída. Porém, é necessário ter empatia: os sentimentos do outro não são menos válidos que os seus só porque ele recém chegou em sua vida”. E aí, bateu uma fominha?

 

 

 

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