Geração do desapego: por que as pessoas têm medo de parecer “emocionadas”?
Especialista explica como o medo da entrega afetiva tem moldado as relações modernas
Você provavelmente já ouviu o termo “emocionado”, mas será que no sentido certo? Segundo os principais dicionários, a palavra se refere a quem expressa emoção. Porém, nas redes sociais, ela ganhou um tom pejorativo, usada para classificar quem mergulha de cabeça em uma relação logo no início.
O problema vai além da brincadeira. A nova geração tem normalizado relações frias e superficiais, muitas vezes por medo de ser taxada de “emocionada”. O resultado é um jogo constante de quem demonstra menos afeto, deixando de lado a chance de construir vínculos genuínos. É sobre isso que conversamos com a psicóloga Raquel Baldo.
Estruturas amorosas
Para a especialista, entender a forma como nos relacionamos é o primeiro passo. “As nossas relações amorosas na vida adulta geralmente são reflexo da experiência que tivemos lá atrás, na relação mãe e bebê”, explica.
Ela lembra que, desde cedo, aprendemos a associar o amor à entrega total e à renúncia. “A mãe é vista como um ser divino, de amor puro, que faz tudo pelo filho, abre mão da própria vida, deixa de viver, porque isso é amor”, pontua.
Com o tempo, para fugir desse modelo de afeto “escravizante”, muitas pessoas passaram a adotar o extremo oposto: evitar a entrega. “Já existem tantos relatos de sofrimento pelo excesso amoroso que, para se proteger, o indivíduo acaba se defendendo de forma exagerada no outro extremo”, acrescenta.
Afastamento emocional
Esses mecanismos de defesa podem estar ligados à baixa autoestima, a traumas antigos – seja da infância, de relacionamentos ou até do ambiente escolar – e revelam, segundo Raquel, a falta de preparo para lidar com as próprias emoções.
Ela cita os aplicativos de namoro como exemplo. “É como se fosse um cardápio de pessoas. Quero ser visto e desejado, mas não quero me envolver, porque uma relação amorosa exige disponibilidade e implicação psíquica”, declara.
O excesso também não é bom
A psicóloga também alerta que o outro extremo, a demonstração exagerada de sentimentos, pode ser igualmente problemático e até invasivo. “Esse excesso, em que eu tenho que ficar dizendo o tempo inteiro que o outro é muito especial para mim, mostra que tem algo estranho alí”, observa.
Segundo ela, em muitos casos, o sentimento intenso nem é real: “A pessoa pode estar tentando convencer a si mesma de que é capaz de se aprofundar naquela relação. Ou, em outros casos, tenta convencer o parceiro: ‘por favor, eu faço tudo pra você gostar de mim’. O que mostra que a pessoa não confia em si mesma. Ela faz tudo exageradamente pelo outro para ver se recebe um pouquinho de volta”.
Para Raquel, demonstrações de carinho e pequenos rituais amorosos são naturais. “Gestos de afeto passam mensagens como: eu te ouço, te vejo, presto atenção em você e gosto de demonstrar o quanto tem valor para mim. É bem diferente da intensidade. A ideia do exagero é o que requer atenção”.
O tempo certo
Sobre o “tempo ideal” de um relacionamento, a psicóloga afirma que não há uma regra. Cada vínculo é único. No entanto, ela faz um adendo: “A gente percebe quando algo está acelerado demais, né?”.
Ela explica que é natural estranhar certas dinâmicas e que, às vezes, dar um passo atrás é importante. “Talvez o outro não esteja se relacionando com você, mas com a fantasia que criou na cabeça dele”, diz.
O mesmo vale para quem reprime emoções e evita se envolver. “Quem faz questão de não demonstrar nada pode estar, no fundo, revelando falta de confiança em si. Para se relacionar de forma saudável, é preciso estar bem consigo mesmo, senão, a tendência é entrar em relações adoecidas”, completa.
O papel do autoconhecimento
Raquel reforça que tanto o excesso quanto a fuga emocional são mecanismos de defesa. “A grande questão é: ‘Quem sou eu?’”, diz. “No consultório, trabalho para que a pessoa pense sobre si mesma e perceba: ‘eu estou satisfeito comigo mesmo se não estiver envolvido amorosamente com alguém?’”
E conclui com uma reflexão: “É o famoso ‘preciso primeiro me amar’. Assumir a própria história é o ponto de partida para abrir espaço a um outro – e construir, juntos, um encontro afetivo verdadeiro, livre de dependência emocional.”
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