Como superar frustrações para entrar em novos relacionamentos
Se relacionar é, necessariamente, entender que nada vai ser do jeito que você pensou
“Nunca mais vou amar de novo!” Essa é uma frase que muitos já disseram ao terminar um relacionamento. Quem nunca, após ter o coração partido, prometeu que jamais se arriscaria no amor novamente? Navegar pelas águas turbulentas do afeto é uma aventura e tanto. Para que se submeter a isso pela segunda, terceira ou décima vez, certo? Nem tanto. Por mais confortável que a fuga possa soar, esse não é o fluxo natural da vida.
“Pensar no sentido de nos arriscarmos, quando tudo é passível de dar errado, é uma pergunta filosófica que nos faz refletir sobre o próprio sentido da vida. Tudo tem um fim, incluindo uma relação amorosa e até mesmo a nossa existência”, provoca Ana Paula Torres, psicóloga clínica cognitiva comportamental especializada em relacionamentos.
Para ela, a grande virada no raciocínio é inverter a lógica: ao invés de falar que algo “deu errado”, podemos encarar que as coisas simplesmente não saíram como planejado.
“Colocamos um peso na expressão ‘dar errado’. O que isso significa? Será que é perder tudo o que foi vivenciado? Com o tempo, percebemos que muitas experiências, antes tidas como negativas, foram valiosas para aprendizados futuros”, afirma Ana Paula.
“Só quero deixar claro que aqui não me refiro à dinâmicas abusivas.” A especialista explica que são os fragmentos de nossa trajetória, tanto os que saíram quanto os que não saíram como planejado, que constituem a essência do existir.
Porém, compreender que o sofrimento faz parte não é tão simples quanto acionar um botão de “liga/desliga”. Um primeiro passo para lidar com o assunto, segundo a psicóloga Luciane Angelo, é aceitar que não vivemos em um estado constante de felicidade.
“Existem momentos desafiadores em nossas trajetórias, e está tudo bem. Assimilando isso, já tiramos o peso da ‘relação perfeita’. Tanto nós quanto os outros terão defeitos e limitações”, pontua.
Inclusive, na presença do receio de se jogar em novas vivências amorosas, Luciane indica dar um passo para trás e se questionar: “Será que estou pronta para um novo relacionamento?”
De forma alguma é obrigatório emendar um namoro no outro. “Pare, respire, cuide-se, faça terapia, tenha uma rede de apoio. Não há problema nenhum em ficar um tempo sozinha, pois o melhor caminho é descobrir que somos a nossa melhor companhia. Ao entendermos isso, cair em relações frustrantes se torna mais improvável, já que estamos bem com nós mesmas. Daí, o temor pelo desconhecido diminui”, aconselha.
Aliás, que fique claro: o medo, até certo grau, é uma emoção humana primária — essencial para a nossa evolução enquanto espécie. O que não pode acontecer, reforça Ana Paula Torres, é o amedrontamento nos impedir de fazer algo. “Quando o medo está em excesso, gerando extrema ansiedade, é necessário buscar ajuda profissional. Em um cenário saudável, devemos ser capazes de vivenciar situações novas mesmo na presença da apreensão”, pontua.
Toda essa reflexão está intimamente ligada à nossa autoestima e ao senso de autorresponsabilidade. “Nos estimar de maneira adequada é primordial. Aqui vai um conselho de ouro: precisamos, sem exceções, cuidar de nossas vulnerabilidades e sonhos, jamais delegando-os para alguém”, diz a psicóloga Luana Couto.
O contrário, para a terapeuta, é dar um poder excessivo ao próximo. “Essa é mais uma das raízes do tal ‘medo do novo’. Há esse temor em deixar com que uma pessoa possa me dar ou tirar tudo”, esclarece ela.
Na presença de experiências passadas decepcionantes, as pessoas também costumam se rotular como “dedo podre” para justificar o receio de se entregar novamente ao afeto.
Nesses casos, Luana indica analisar os elementos das antigas relações que trouxeram mágoa. “Era um esforço não recíproco? Você fez tudo pelo outro? Independente da causa, todo medo tem nome. A partir do momento em que desvendamos esses componentes que trouxeram dor, precisamos nos comprometer, honestamente, a não repetir esses padrões em futuros vínculos”, afirma.
O próximo passo, de acordo com a psicóloga, é começar a dar chances àquelas pessoas que mal costumávamos olhar.
“O ciclo vicioso do ‘dedo podre’ está conectado ao fato de sempre nos atrairmos por determinados atributos. Não é incomum estarmos condicionadas a querer alguém que nos dê um desafio ao invés de nos dar amor”, alerta Luana Couto.
Para isso, a sexóloga Bárbara Bastos indica encontrar um equilíbrio entre o emocional e o racional no momento de abrir o coração novamente. “Com autoconhecimento, não nos deixamos levar por qualquer um, pois sabemos onde queremos chegar.”
Ela também traz um lembrete importante: é impossível encontrar pessoas ou relacionamentos prontos. Tudo é uma construção diária (mensal, anual…), a dois ou a duas. “Acredito verdadeiramente no amor: está em nossa natureza querer amar e ser amado. O medo é o oposto disso, e apenas nos afasta de nossa essência.”