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Podcast ‘She Rocks’, do Rock in Rio, destaca mulheres na indústria musical

Artistas, compositoras e profissionais técnicas revelam, a partir de suas trajetórias, o panorama da presença feminina na indústria da música brasileira

Por Joana Oliveira
Atualizado em 22 abr 2024, 20h02 - Publicado em 7 ago 2022, 10h22
Uma mulher discoteca num evento musical.
Uma mulher discoteca num evento musical.  (Thiago Miranda/Pexels)
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Quando começou a compor, Dona Ivone Lara, ícone da música brasileira, colocava o nome dos primos em suas músicas. Isso porque, nos anos 1980, ainda era mal visto uma mulher fazendo samba. Apesar do avanço do direito das mulheres em diversas áreas, a participação feminina na indústria da música ainda avança a passos lentos. No ano passado, elas representaram apenas 10% do total de artistas contemplados com direitos autorais, de acordo com o relatório O que o Brasil Ouve – Edição Mulheres na Música, divulgado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Do total de valores distribuídos no ano passado a 267 mil compositores, artistas, demais titulares e associações, de R$ 901 milhões, as mulheres receberam cerca de 7%, resultado equivalente ao de 2020. Para fortalecer o debate sobre essa realidade e destacar o trabalho de mulheres em toda a cadeia dessa indústria, o Rock in Rio criou o She Rocks, podcast que vai ao ar todas as terças-feiras com entrevistas com cantoras, compositoras, produtoras músicas e outras profissionais técnicas que fazem girar o mercado musical e de entretenimento. 

“Inicialmente, pensamos em usar o slogan de um podcast feito por e para mulheres. Mas a verdade é que pode até ser feito por mulheres, mas é para todo mundo. Porque se não criarmos pontes através de conversas, de forma desarmada, não avançaremos nessas questões de gênero”, diz a CLAUDIA Roberta Medina, que está há 20 anos a frente do Rock in Rio. Ela lembra que a equipe de produção do evento, que este ano acontece nos dias 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11 de setembro, sempre teve homens e mulheres, mas a participação delas se consolidou a partir de 2011 e 2013. A partir de então, o festival passou a dar mais destaque à presença feminina no line-up, inclusive com pelo menos um dia dedicado exclusivamente a artistas do gênero feminino. Na edição 2022, dia delas é o 11 de setembro, quando sobem ao palco do Parque Olímpico do Rio de Janeiro nomes como Dua Lipa, Megan Thee Stallion, Rita Ora, Ivete Sangalo, Ludmilla, Macy Gray, Liniker e Luedji Luna.

Apresentadora do primeiro episódio do She Rocks (que contou com a participação de Luísa Sonza), Roberta diz que não acredita em fazer uma programação com exatamente metade de artistas homens e metade de mulheres. “Acho que tem que ser o que o público gosta. Mas, quando fazemos um dia inteiro só com artistas femininas, provocamos um debate, chamamos a atenção para esse cenário. Serva para abrir a cabeça das empresas que compõem a indústria. A natureza da cultura musical é diversa. Mas a organização dos eventos também o é? É isso que temos que questionar”.

Ela ressalta que o “o mundo da produção de eventos sempre foi muito feminino”, mas ainda são poucas as mulheres em trabalhos técnicos, como o de engenharia de som, por exemplo. “Algumas coisas sempre foram consideradas trabalho de homem. A diferença é que hoje não importa qual seja a função, as mulheres estão lá.” Esse foi um dos assuntos sobre os quais a apresentadora Gaía Passarelli (Renata Simões é outra anfitriã do podcast) conversou no terceiro episódio do She Rocks com Guta Braga, consultora e especialista em direitos autorais, e Erika Lôbo, produtora e professora de produção musical.

“Eu estou na indústria da música desde os anos 1990 e posso dizer que até mesmo essa preocupação com o equilíbrio de homens e mulheres na programação dos festivais é recente. Tenho acompanhado não só a revolução tecnológica desse mercado, mas também a revolução humana. Espero não morrer sem ver uma mulher presidente de gravadora, algo que nunca existiu no Brasil, só na gringa“, comenta Guta nesse episódio.

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Erika ressalta que atividades como direção técnica e produção de palco em shows e festivais ainda são lugares “extremamente masculinos”, mas celebra as mudanças que, pouco a pouco, vêm acontecendo nas novas gerações. “Tenho alunas de 15 anos que já são produtoras incríveis, que já estão fazendo música. Eu, que fui autodidata, incentivo a procurar bancos de samples gratuitos e aplicativos para começar a fazer seu próprio som”, conta.

A produtora musical também apresenta números que mostram que a brecha de gênero na indústria musical não é uma exclusividade brasileira. De acordo com uma pesquisa realizada em janeiro de 2019 pelo USC Annenberg Inclusion Initiative e divulgada pela iniciativa internacional She is the Music, dos 651 produtores creditados no levantamento, apenas 2,6% eram mulheres. Entre os 2.767 compositores, elas representavam 12,5% e ocupavam somente 2,6% dos postos de engenharia e mixagem de som. 

Na contramão dessa realidade, estão inciativas como o Projeto Sêla, uma aliança entre cantoras e mulheres envolvidas no mercado musical brasileiro, e Pwr Records, selo que nasceu em 2016 para potencializar a presença delas nessa indústria. “Temos que criar e fortalecer mais iniciativas para mais mulheres comporem música, produzirem música”, convoca Erika.

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